VI

O Espírito Santo e a Trindade
nos escritos dos Padres Apologistas.




1.

Comentário geral.

O que os Apologistas têm a declarar sobre o Espírito Santo é muito mais escasso, pois o problema que principalmente os ocupou foi o da relação de Cristo com a divindade. Entretanto, sendo homens da Igreja, cumpriram com o seu dever ao proclamar a fé da Igreja, cujo modelo é claramente ternário.

2.

Os Padres Apologistas e o Espírito Santo.

Assim, em comparação com suas colocações sobre o Verbo, os Apologistas foram extremamente vagos quanto à posição e função do Espírito Santo.

Aos seus olhos, a função essencial do espírito Santo seria a de inspirar os profetas. Mesmo assim, entretanto, há passagens nos escritos de São Justino onde ele atribui a inspiração dos profetas ao Verbo; e Teófilo também sugere que foi o verbo quem, sendo espírito divino, iluminou a mente dos profetas; não há dúvida que aqui o pensamento dos Apologistas é bastante confuso.

Também vimos (V/2, 3c) que Justino interpretou os textos do Antigo Testamento que falam da Sabedoria pré existente como se referindo ao Verbo; mas neste ponto Teófilo, separando-se de Justino, identificou a Sabedoria com o Espírito Santo. De acordo com Taciano,

"o Espírito de Deus não está
presente em todos,
mas descendo sobre aqueles
que vivem como justos,
une-se às suas almas,
e pelas suas predições
anunciou o futuro escondido
às almas".

Atenágoras definiu o Espírito Santo como uma

"efluência de Deus,
fluindo dEle
e a Ele retornando
como um raio de Sol".

Referências:
Justino: 1 Apol. 33,9; 36,1;
Teófilo : Ad Autol. 2,10; 1,7; 2,18;
Taciano: Oratio 13,3;
Atenágoras : Supplic. 7,2; 9,1.


3.

Os Padres Apologistas e a Trindade.

Apesar das incoerências, entretanto, as linhas gerais de uma doutrina trinitária são claramente visíveis nos Apologistas. O Espírito Santo era para eles o Espírito de Deus; e, assim como o Verbo, ele compartilha da natureza divina, sendo, nas palavras de Atenágoras, uma "efluência" da Deidade.

Em diversas ocasiões Justino coordena as três Pessoas, algumas vezes citando fórmulas derivadas do Batismo e da Eucaristia, outras vêzes sendo eco dos ensinamentos catequéticos oficiais. Assim, por exemplo, ele defende os cristãos da acusação de ateísmo apontando a veneração que eles tem para com o Pai, o Filho e o "Espírito profético".

Atenágoras protesta também contra os que acusam de ateísmo os cristãos,

"homens que reconhecem Deus Pai,
Deus Filho e o Espírito Santo,
e declaram tanto o Seu poder na união
e Sua distinção na ordem".

Esta ordem não se refere a graus de subordinação na Divindade, mas é atribuída aos três segundo que eles se manifestam na Criação e na Revelação.

Teófilo foi o primeiro escritor a aplicar a palavra "tríade" à Divindade, afirmando que os três dias que precederam a criação do Sol e da Lua

"foram figuras da tríade,
isto é, de Deus,
de seu Verbo e sua Sabedoria".

Ele via Deus como tendo Seu Verbo e Sua Sabedoria eternamente em si mesmo, e gerando-os para os propósitos da Criação; e também ele foi claro que quando Deus os gerou, não esvaziou a Si mesmo dEles, mas está

"em eterno colóquio
com o Seu Verbo"

Referências:
Justino: 1 Apol. 61,3-12; 65,3; 6,1 ss;
Atenágoras: Supplic. 10,3;
Teófilo: Ad Autol. 2,15; 2,10; 2,22.


4.

Conclusão.

Assim os Apologistas trabalharam a Trindade numa imagem de um homem gerando o seu pensamento e seu espírito em atividade externa. Esta imagem os capacitou a reconhecer, embora obscuramente, a pluralidade da divindade, e também a mostrar como o Verbo e o Espírito, enquanto realmente manifestados no mundo do espaço e tempo, podiam também residir no ser do Pai, permanecendo intacta sua unidade essencial com Ele.