Irmãos caríssimos, os lugares, assim como os tempos, também têm as suas significações. Assim como pela manhã entendemos o conhecimento da verdade, pelo meio dia o amor da virtude, pela tarde a ignorância, pela meia noite a malícia, pela luz a justiça e pelas trevas a culpa, assim também entendemos pelo campo a liberdade, pela colina a boa ação, pela montanha a contemplação e pelo céu a bem aventurança. Pelo vale, porém, a iniquidade, pelo abismo o desespero e pelo inferno a condenação. O campo, constituído por uma igualdade, possui acima de si três lugares dotados de significação, que são a colina, a montanha e o céu, e três outros abaixo, que são o vale, o abismo e o inferno. O campo significa a liberdade, pois assim como aquele que está no campo possui a faculdade, se a tanto não o impede algum outeiro, de dirigir-se segundo queira para diante ou para trás, à direita ou à esquerda, assim também aquele que verdadeiramente é livre possui o poder de fazer o que mais lhe agrada. A colina, que se levanta apenas um pouco sobre a planície da terra, exprime a boa ação, pela qual nos elevamos do que é terreno. A montanha, que mais se aproxima das nuvens, designa a contemplação, a qual, elevando-nos para o alto, nos exalta à visão dos bens celestes. O céu, por ser o lugar da bem aventurança, não inconvenientemente significa a própria bem aventurança. O vale, por se dirigir para baixo, significa a iniquidade, a qual conduz os maus para as coisas inferiores. O abismo significa o desespero, para o qual os iníquos descem, partindo do vale da iniquidade. Por isto é que está escrito:
Já o inferno, por ser um lugar de condenação, significa a própria condenação.
Os montes de Israel são os justos que alcançaram a contemplação, os quais, pelo amor do próximo, estendem os seus ramos, isto é, seus santos e frutuosos pensamentos, procedentes da raiz da fé e do tronco da boa vontade, florescem pelos bons princípios, dão frutos pela consumação e produzem folhas pela boa ação. Três parecem ser, com razão, os principais gêneros de árvores que nascem, crescem, estendem seus ramos, florescem, dão fruto e produzem folhas nos montes de Israel. O primeiro é a oliveira, o segundo é a videira e o terceiro é a figueira. A oliveira significa a misericórdia, porque assim como o azeite excede os demais licores, assim a misericórdia precede as demais virtudes. A videira significa a sabedoria, porque o vinho, moderadamente tomado, aguça o engenho. A figueira, pela doçura de seus frutos, designa a doçura interior. Costuma-se associar a misericórdia ao Pai, a sabedoria ao Filho, e a doçura ao Espírito Santo. O Pai, pois, planta a oliveira, o Filho a videira, e o Espírito Santo a figueira. Deve-se saber, no entanto, que ainda que façamos tais distinções nas associações destas três virtudes, não se deve entender, porém, que haja alguma divisão na operação das três pessoas. O profeta, deplorando nos réprobos a infrutuosidade destas três virtudes, disse:
A oliveira significa, portanto, a misericórdia; a videira, a sabedoria, e a figueira a doçura interior. Haverá talvez outras árvores nos montes de Israel, pelas quais são figuradas outras virtudes, assim como pelo buxo, por causa de seu verdor, designa- se a fé; pelo cedro, por causa de sua altura, a esperança; pelo pinheiro, a reta repreensão; e pela murta, designa-se a temperança. Estendamos, irmão, nossos ramos, floresçamos e demos fruto, para que não ocorra que Nosso Senhor nos encontre infrutuosos, nos corte e nos queime. O Evangelho, de fato, nos avisa que
Frutifiquemos, pois, como a oliveira, a videira e a figueira. Há alguns, no entanto, que dão frutos plenos de amargor. Destes é que se encontra escrito:
Nós, porém,
o qual vive e reina, pelos séculos dos séculos. |