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São Cipriano nasceu no norte da África no início do
terceiro século. Converteu-se ao Cristianismo em idade adulta e
chegou a ser bispo de Cartago, a cidade mais importante do norte
da África na época. Entre os seus escritos figuram 81 cartas, com
numerosas referências à Eucaristia. No ano de 258 foi preso pelas
autoridades romanas e degolado por professar o Cristianismo. No
momento em que ia ser executada a sentença sentiu-se tão feliz em
poder dar a sua vida por Cristo que resolveu presentear o seu
carrasco com uma gratificação de vinte e cinco moedas de ouro, o
qual, confuso e comovido, não conseguiu segurar a espada, embora,
finalmente, tenha acabado por cumprir o seu papel.
As referências à Eucaristia e ao caráter sacrificial
da missa são muito numerosas em Cipriano para que possam ser
transcritas todas aqui. Chamaremos a atenção apenas para alguns
pontos principais.
Assim como Abércio, na sua Carta 58 Cipriano é
testemunha da prática da comunhão diária entre os cristãos:
"Ameaça-nos agora uma perseguição
mais dura e mais feroz.
Para enfrentá-la,
os (fiéis, como) soldados de Cristo,
devem se preparar com uma fé incorrupta
e uma virtude robusta.
Considerem que é por isto
que bebem todos os dias
o cálice do sangue de Cristo,
para que possam derramar eles próprios
o seu sangue por Cristo". |
Na sua carta mais longa sobre a Eucaristia, a Carta 63, Cipriano
diz ter recebido notícia que em alguns lugares houve quem tivesse
celebrado a Eucaristia apenas com água. Escrevendo então esta
carta para reprovar semelhante abuso, Cipriano faz diversas
declarações sobre a Eucaristia. Ele diz que
"Jesus Cristo é autor e mestre
deste sacrifício",
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e também que o mesmo Jesus
"ofereceu a Deus Pai um sacrifício
com aquilo mesmo que havia oferecido Melquisedec,
isto é, pão e vinho",
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palavras com que demonstra claramente entender que a Eucaristia é
sacrifício. Mais adiante, porém, com admirável clareza afirma que
aquilo que é oferecido neste sacrifício é a própria
e que este sacrifício não é
"celebrado com uma legítima santificação
(dos participantes)
se à paixão (de Cristo nele oferecido)
não corresponder nossa (própria)
oblação e sacrifício".
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Desta carta, bastante extensa, foram transcritas a seguir apenas
algumas passagens mais significativas:
"Cipriano ao irmão Cecílio:
Ainda que eu saiba, caríssimo irmão,
que grande número de bispos,
colocados em todo o mundo,
por desígnio divino,
à testa das Igrejas do Senhor,
não se afastam do que Cristo mestre
mandou e fêz,
entretanto, como alguns,
por ignorância ou por simplicidade,
ao santificarem e administrarem
o cálice do Senhor ao povo não fazem
o que Jesus Cristo Nosso Deus e Senhor,
autor e mestre deste sacrifício fêz e ensinou,
julguei piedoso,
e ao mesmo tempo necessário,
escrever esta carta
para que se alguém permanece ainda no erro,
vendo a luz da verdade,
retorne à raiz e à origem da tradição do Senhor.
Saibas que somos admoestados
para que na oblação do cálice
não façamos outra coisa que o que por nós
fêz primeiro o Senhor,
isto é,
que no cálice que se oferece em sua memória
se ofereça uma mistura de vinho.
Vemos no sacerdote Melquisedec
prefigurado o mistério do sacrifício do Senhor.
Porém, quem mais sacerdote de Deus Altíssimo
do que Nosso Senhor Jesus Cristo,
que ofereceu sacrifício a Deus Pai,
e ofereceu aquilo mesmo
que havia oferecido Melquisedec,
isto é, pão e vinho,
a saber, seu corpo e seu sangue?
Não são necessários muitos argumentos,
caríssimos irmãos,
para provar ser manifesto
que não é oferecido o sangue de Cristo
se falta o vinho ao cálice,
nem é celebrado o sacrifício do Senhor
com legítima santificação
se não corresponde à (sua) paixão
nossa oblação e sacrifício.
Pois se nem o mesmo Apóstolo,
nem um anjo do céu
pode anunciar ou ensinar outra coisa
fora do que Cristo uma vez ensinou
e pregaram os seus Apóstolos,
muito me admira de onde tenha surgido este fato que,
contra a disciplina evangélica e apostólica,
em certos lugares se ofereça água
no lugar do cálice do Senhor.
Somente faz verdadeiramente as vezes de Cristo
aquele sacerdote que imita aquilo que Cristo fêz,
oferecendo então
um sacrifício verdadeiro e pleno na Igreja a Deus Pai
se começa a oferecê-lo segundo o que vê
ter sido oferecido pelo próprio Cristo.
E porque fazemos menção de sua paixão
em todos os sacrifícios,
já que é a paixão do Senhor o sacrifício que oferecemos,
não devemos fazer outra coisa
senão o que Ele próprio fêz.
Assim, irmão caríssimos,
se algum de nossos antecessores,
ou por ignorância ou por simplicidade,
não tivesse observado ou retido
o que nos ensinou a fazer o Senhor
com seu exemplo e magistério,
pode-se-lhe conceder perdão à sua simplicidade
por parte da misericórdia do Senhor.
Mas a nós não se poderá perdoar,
pois somos agora admoestados e instruídos pelo Senhor
para que ofereçamos no cálice do Senhor
a mistura de vinho segundo o que ofereceu o Senhor,
e para que também a este respeito
dirijamos cartas a nossos colegas
para que se observe em toda a parte
a lei evangélica e a tradição do Senhor,
e ninguém se afaste do que Cristo ensinou e fêz". |
Muitas outras passagens de Cipriano poderiam ser citadas, assim
como de outros antigos autores cristãos com referência a este
mesmo tema. Sejam estas, porém, para o nosso propósito,
suficientes.
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