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Por que razão as virtudes morais devem ser levadas
até à excelência para que o homem possa alcançar a
contemplação da verdade?
Santo Tomás de Aquino dá uma primeira resposta a
esta pergunta no final da segunda parte da Summa Theologiae:
"As virtudes morais pertencem à vida contemplativa
dispositivamente,
na medida em que compõem e ordenam
as paixões interiores da alma;
quanto a isto as virtudes morais ajudam a contemplação,
que é impedida pela desordem das paixões interiores.
De fato, o ato da contemplação é impedido
pela veemência das paixões,
pela qual a intenção da alma é levada
dos inteligíveis para os sensíveis.
Ora, as virtudes morais impedem
a veemência das paixões,
pelo que pertencem à contemplação dispositivamente,
porque pelo seu exercício
são acalmadas as paixões internas do homem,
das quais se originam os fantasmas da imaginação,
pelos quais se impede a contemplação" (163).
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Este texto é notável e importante porque mostra existir uma
dupla maneira da atividade dos sentidos interiores no homem,
em particular da fantasia.
Conforme já havia sido anteriormente explicado no
quarto capítulo deste trabalho, a atividade da inteligência
não pode se dar sem o funcionamento paralelo da fantasia, de
onde a inteligência tira, como de um objeto visível, as
formas através das quais intelige. Quanto mais profunda for
esta atividade da inteligência, tanto mais dócil deve ser o
movimento da fantasia à atividade intelectual.
Ora, o texto da Summa acima citado mostra que
existe uma disputa interior no homem pelo controle da
fantasia. A fantasia pode ser movida por uma causa que lhe é
superior, isto é, a vontade ou apetite racional, fazendo-a
secundar os movimentos da atividade da inteligência, mas pode
ser movida também, como mais freqüentemente acontece nos
homens, por uma causa que lhe é inferior, isto é, pelas suas
paixões, obstaculizando com isto o livre exercício da
inteligência.
Será inútil tentar ordenar os movimentos da
fantasia agindo diretamente sobre ela, pois não são estes a
verdadeira causa do impedimento da contemplação; esta
desordenação do movimento da fantasia é um efeito de uma
causa mais profunda que é a própria desordenação das paixões;
somente ordenando as paixões humanas é que se pode esperar
uma ordenação da fantasia e sua subserviência à contemplação
da inteligência, o que não se pode fazer sem primeiramente
uma promover uma ordenação completa da vida moral do
estudante.
De fato, já com uma pequena desordem no movimento
da fantasia a contemplação se torna dificultosa e penosa, ou
mesmo impossível, embora a inteligência se esforce para
tanto. Mas à medida em que esta desordem vai aumentando, ela
passa a ter efeitos sobre a própria vontade, que passa a
recusar a atividade intelectual, ou até mesmo a desistir dela
como a algo inatingível ou incompreensível; e neste caso,
ainda que o homem ouça falar a respeito da contemplação,
sequer consegue vir a desejá-la, não obstante ser esta a mais
profunda tendência de sua natureza. Tal é a força da desordem
moral sobre a inteligência, a ponto de inabilitá-la por
completo até mesmo dos vestígios de qualquer inclinação da
inteligência ao ato da contemplação.
Já no caso das pessoas que são um edifício acabado
de todas as virtudes morais, será suficiente em certos casos
apenas ouvir uma breve preleção a respeito do assunto para
que a inteligência reconheça por experiência própria alguma
coisa a respeito do que se está falando.
Daí que originou-se a clara percepção entre os
antigos filósofos de que não seria possível uma verdadeira
vida da inteligência sem a prática, não apenas paralela, mas
inclusive prévia da virtude. Não pode haver sabedoria sem
virtude, e querer dissociar ambas as coisas como se fossem
independentes, como se faz nas escolas e principalmente nas
escolas de nível superior do mundo moderno, revela apenas uma
ausência de conhecimento da natureza humana ou baixos ideais
na vida da inteligência. A partir do momento em que o homem
tenta alcançar metas mais elevadas na atividade intelectual,
ele é como que compelido pela própria natureza desta
atividade a perceber que a plena atividade intelectual exige
uma completa ordenação moral da vida do estudante.
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