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Como as virtudes morais se originam pelas
operações, caberá à ciência moral distinguir quais as
operações que devem ser feitas para que sejam gerados nos
homens os hábitos das virtudes (18). Nas ciências
especulativas, nas quais somente pretendemos o conhecimento
da verdade, é suficiente que se conheça a causa de cada
efeito, mas nas ciências operativas, como é o caso da ciência
moral, cujo fim é a operação, é necessário conhecer por quais
movimentos ou operações tal efeito se segue a uma tal causa.
Pois na ciência moral não pesquisamos o que é a virtude
somente para que saibamos a verdade sobre este assunto, mas
para que com isto possamos adquirir as virtudes (19).
Disto que foi dito seguem-se alguma conclusões
preliminares.
A primeira é que não pouco difere se alguém
imediatamente desde a juventude já se acostuma a bem ou mal
operar, antes, ao contrário, o melhor dependerá em tudo
disto, já que as coisas que em nós são impressas no princípio
são mais firmemente retidas (20).
Em segundo, que o sinal da virtude já formada é a
operação deleitável. A execução das operações que se fazem
pela virtude difere antes e depois da virtude adquirida.
Antes da virtude o homem deve fazer uma certa violência para
que opere; por isso tais operações apresentam alguma tristeza
misturada. Mas depois de gerado o hábito da virtude, tais
operações se fazem deleitavelmente, pois o hábito existirá
então por modo de uma certa natureza, e é por isso que é algo
deleitável, porque convém a algo segundo a natureza. Assim,
portanto, o sinal dos hábitos já gerados deve ser tomado a
partir da deleitação ou da tristeza que sobrevém às
operações (21).
Disto tudo se conclui também que as virtudes não
são impassibilidades ou quietudes. As virtudes não excluem do
homem virtuoso as paixões da alma, mas faz com que as paixões
sejam reguladas pela razão. Não pertence às virtudes a
exclusão de todas as paixões, mas apenas a das
desordenadas (22).
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