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Vimos, pois, em suas linhas essenciais, qual era
a educação que Platão propunha para formar um filósofo.
Não obstante tratar-se de uma educação capaz de levar os
alunos a um grau de abstração surpreendentemente elevado,
tal pelo menos como ela se encontra apresentada na
República, esta educação não foi exposta por Platão de
modo abstrato. Ao contrário, foi revestida da roupagem de
um exemplo concreto até os seus menores detalhes, dos
quais omitimos a quase totalidade na resenha que dela
fizemos. Tratava-se do exemplo de uma cidade que deseja
formar uma elite permanente de sábios a quem caberia
dirigir a sua política e os seus destinos ocupando de fato
todos os cargos públicos fundamentais. Evidentemente esta
não é a essência do livro, mas uma técnica literária para
tornar a leitura mais agradável a um público mais amplo;
no final do livro VII o próprio Platão duvida se o exemplo
que ele deu se concretizará algum dia sobre a terra:
"Sim, esta é a melhor maneira
para que uma cidade alcance
no mais breve espaço de tempo
a felicidade.
Parece-nos ter descrito muito bem
como estas coisas se realizarão,
se é que alguma vez chegarão a realizar-se" (53).
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Entretanto, desrevestido de seu exemplo, Platão
realizou tudo quanto descreveu na República não em uma
grande elite dirigente, mas na pessoa de seu discípulo
Aristóteles; e, através dele, a cidade onde esta elite de
um só exerceu o poder, sem necessidade de exercer cargos
públicos, foi a própria civilização ocidental.
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