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Para poder ser desejado por causa de si mesmo e todas as
demais coisas serem desejadas por causa do fim último, o fim último
deverá ser também um bem perfeito.
Ser bem perfeito, será, portanto, a segunda das
características do fim último.
Por que ser desejado por si mesmo implica que o fim último
seja bem perfeito?
A razão é que, quando a vontade deseja e busca o seu fim
último ela está sendo movida por este fim último. Ora, segundo a teoria
da causalidade tal como exposta nos trabalhos de Aristóteles e S. Tomás
de Aquino, em todo movimento estão necessariamente envolvidos quatro
gêneros de causas: a causa material, a causa formal, a causa eficiente
e a causa final. (Uma explicação mais detalhada sobre a natureza destes
quatro gêneros de causas pode ser obtida, no fim deste capítulo, consultando-se
o Apêndice sobre teoria da causalidade). Sempre que se dá um movimento ou
alguma alteração na natureza, conforme estava-se explicando, devem estar presentes
estas quatro causas, cada uma em correspondência com as outras.
Ocorre, porém, que o fim último da vontade humana move a
vontade por modo de causa final. A ela corresponderá, portanto, uma
causa eficiente, que será o agente do movimento. (Sobre o significado de
causalidade final e causalidade eficiente pode-se consultar, no fim deste capítulo,
o Apêndice sobre teoria da causalidade).
Ora, segundo Tomás de Aquino, há três tipos de agentes ou
causas eficientes: os imperfeitíssimos, os perfeitos e os
perfeitíssimos.
Existem agentes imperfeitíssimos, que não movem pela
própria forma. (Sobre o significado de forma e causalidade formal,
pode-se consultar, no fim deste capítulo, o Apêndice sobre teoria
da causalidade). Estes agentes imperfeitíssimos,
conforme dizia-se, movem não pela própria forma, mas apenas na medida
em que são movidos por outro (10), como um martelo de ferreiro que
golpeia uma espada. O efeito deste agente, segundo a forma alcançada no
efeito, não se assemelha a este agente imperfeitíssimo, mas ao agente pelo qual
é movido, que no caso, é a arte do ferreiro.
Outros agentes são agentes perfeitos; agem segundo a sua
forma, de tal maneira que seus efeitos se assemelham a eles, mas que,
ainda assim, necessitam de um agente anterior principal para movê-los. É
o caso do fogo que esquenta. Este agente, apesar de dito perfeito, ainda
apresenta algo de imperfeição, por participar como instrumento (11).
Os agentes perfeitíssimos são aqueles que não apenas agem
segundo a forma própria, mas também não são movidos por nenhum outro
agente (12).
O fim último é dito bem perfeito porque, ao mover a
vontade, se assemelha, como causa final, a estes agentes perfeitíssimos
na linha da causalidade eficiente.
Há fins imperfeitíssimos, que não são apetecidos por
nenhuma bondade formal existente nos mesmos, mas apenas por serem úteis
a algo. É o caso do dinheiro; correspondem aos agentes imperfeitíssimos.
Há outros fins que são perfeitos; são desejados por causa
de algo que têm em si mesmos, mas, mesmo assim, são desejados por causa
de outros, como a honra e os prazeres, que seriam escolhidos pelos
homens por causa de si mesmos ainda que nada mais pudessem conseguir por
meio deles. No entanto, não obstante isso, os escolhemos por causa da
felicidade, porque através da honra e dos prazeres pensamos que
futuramente seremos felizes (13).
Há, finalmente, o fim perfeitíssimo, que cumpre determinar
qual seja, mas que nunca poderá ser desejado por causa de nenhum outro.
Um fim com estas características os homens chamam de
felicidade (14). Trata-se, porém, de um nome genérico para designar o fim
último da vontade humana; ainda permanece a questão de se determinar em
que consiste a felicidade para o homem.
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