A EDUCAÇÃO, MAIS IMPORTANTE DO QUE A LEGISLAÇÃO

Se as coisas fossem como deveriam ser, isso é o que teriam que fazer os legisladores, não meter medo e mais medo nos jovens quando se tornam homens, mas guia-los e modela-los quando ainda são crianças. Depois disto, as ameaças sumiriam por completo. Mas na realidade se faz como se um médico não dissesse uma palavra ao enfermo quando começa a sentir o mal e nem lhe receitasse nenhum remédio; ao contrário, quando já estivesse perdido e sem remédio, se pusesse a ditar leis a torto e a direita. E é assim que os legisladores nos educam, quando nos achamos já extraviados. Paulo não procede assim, mas desde o começo e na primeira infância, coloca mestres de virtude para o menino, a fim de impedir que a maldade penetre em sua alma. A pedagogia mais excelente não consiste em permitir que primeiro nos domine a maldade e então buscar desterra-la de nós; mas sim, em por todo o nosso esforço e cuidado para fazer-nos inatacáveis por ela. Por isso não só exorto a não impedir a quem queira nos fazer este benefício, mas a colaborar pessoalmente nisso, em salvar o nosso barco e preparar uma navegação com ventos prósperos. Se todos adotássemos este modo de ver e tratássemos, antes de todas as coisas, de levar as crianças à virtude, bem persuadidos de que isto é mais importante e que tudo o mais é acessório, seriam tantos os benefícios que daí resultariam que, só de enumerá-los daria a impressão de estar brincando. Mas se alguém quiser conhecer estes benefícios, poderá vê-los muito bem na própria realidade e nos agradecerão, ou melhor dizendo, agradecerão a Deus, antes que a nós, ao contemplar como floresce na terra a vida do céu e como por ela se acredita, mesmo aos olhos dos infiéis, a doutrina dos bens futuros e da ressurreição da carne.