a S. João Crisóstomo: Sobre a Vanglória e a Educação dos Filhos, c. 14.

A ALMA DA CRIANÇA É COMO UMA CIDADE RECÉM FUNDADA E CONSTRUÍDA, NA QUAL SE DEVE COLOCAR LEIS SEVERAS

23.

Imagina seres um rei e que uma cidade esteja submetida a ti, que é a alma da criança; pois a alma é, efetivamente, uma cidade. E do mesmo modo que em uma cidade uns roubam e outros agem justamente; uns trabalham e outros fazem tudo pelo prazer, assim acontece exatamente na alma com a inteligência e os pensamentos; uns lutam contra os que cometem iniqüidade, como fazem na cidade os soldados; outros provêem ao conjunto, ao corpo e à casa, como os que administram a cidade; outros ordenam e mandam, como fazem os governantes; e há também os que narram coisas dissolutas, como fazem os intemperantes; outros, coisas graves, como os castos ou temperantes; há também os afeminados, como mulheres entre nós; outros falam com pouca razão, como fazem os meninos; e uns são mandados como os criados, como se faz com os escravos; outros são nobres, como o são os cidadãos livres.

24.

Necessitamos, pois, de leis, a fim de desterrar os maus e admitir os bons e não consentir que os maus se revoltem contra os bons. Porque do mesmo modo que se em uma cidade se fizessem leis concedendo total impunidade aos ladrões, se transtornaria tudo; e se os soldados não usassem devidamente da ira, se faria um dano universal, e se cada um deixasse seu posto, se intrometesse no dos outros, com tal intromissão se chegaria a perder toda a disciplina; assim acontece exatamente na alma.

25.

Cidade, pois, é a alma do menino, cidade recém fundada, habitada por cidadãos forasteiros que ainda não têm experiência alguma. E esses são justamente os que mais facilmente se educam. Aqueles que têm tido má conduta, como os velhos, dificilmente mudam; não que seja impossível, pois também os velhos, se quiserem, podem mudar; mas os que ainda não têm nenhuma experiência, receberão mais facilmente as leis que lhes imponham.