INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA
SANTÍSSIMA TRINDADE




A "Santíssima Trindade nos Santos Padres
dos Primeiros Séculos".

O livro, anexo a esta introdução, que traz o título de "A Santíssima Trindade nos Santos Padres dos Primeiros Séculos", é uma tradução dos capítulos 4, 5, 9 e 10 do "Early Christian Doctrines" de J. N. D. Kelly, onde é apresentada a doutrina dos Santos Padres sobre a Trindade desde a pregação apostólica até Santo Agostinho, no início do século quinto. Nesta tradução o texto daqueles quatro capítulos foi re-dividido em 22 capítulos, cada um subdividido em vários sub títulos, tendo sido traduzido do texto original aquilo que de mais significativo nos pareceu para uma primeira leitura, o que corresponde a aproximadamente a metade do texto original. Com exceção de alguns dos santos padres, não verificamos se as citações ou as interpretações dadas às suas obras estavam corretas, a responsabilidade desta interpretação, de momento, sendo inteiramente do autor original. Ao texto deste autor acrescentamos apenas para alguns padres do primeiro século citações mais extensas e para os restantes, notícias históricas introdutórias que não constavam no texto original. O último capítulo deste livro conclui com a doutrina de Santo Agostinho sobre a Trindade, tratada um pouco mais extensamente do que a dos demais autores, desfecho que vem a propósito para as intenções desta tradução.

Os principais textos sobre a SS. Trindade após
o Concílio de Nicéia.

Empreendemos esta tradução, remoldando-a em sua apresentação em capítulos e sub títulos, para que pudesse servir de introdução aos textos posteriores da tradição cristã que nos parecem ser os mais profundos e fundamentais para o estudo do mistério da Trindade.

Os textos de S. Agostinho.

Estes são, na sua ordem cronológica, em primeiro lugar, o "De Trinitate" de Santo Agostinho, com cuja análise termina a presente tradução da "Santíssima Trindade nos Primeiros Santos Padres". Este pequeno resumo com que esta obra se conclui não dispensa o leitor do estudo completo da de Santo Agostinho. Atualmente, além do original latino contido no Corpus Christianorum e na Patrologia de Migne, o "De Trinitate" de Agostinho está disponível em espanhol pela BAC e em português pela Paulus. Até onde chega o conhecimento deste tradutor, cremos que o "De Trinitate" de Agostinho, juntamente com o "De Trinitate" de Ricardo de S. Vitor, a "Summa Theologiae" de Santo Tomás de Aquino e o "Castelo Interior" de Santa Teresa, sejam as mais espetaculares obras de teologia já aparecidas na história da Igreja.

Os textos de Boécio.

Em segundo lugar, há três pequenos textos de Boécio nos quais, tomando o seu autor algumas posições bem claras sobre questões filosóficas relacionadas com o tema da Trindade, formaram uma ponte histórica entre Agostinho e as especulações dos primeiros santos padres, por um lado, e os teólogos escolásticos, por outro. Tratando especificamente da Trindade são eles, em primeiro, o "Como a Trindade é um só Deus", às vezes também citado como o "De Trinitate" de Boécio, do qual Santo Tomás de Aquino escreveu um comentário. Temos, em segundo, um opúsculo bem menor intitulado "Se o Pai, o Filho e o Espírito Santo se predicam substancialmente da Divindade". A estes se acrescenta, em terceiro, o "Livro sobre a Pessoa e as Duas Naturezas", que embora trate do mistério da Encarnação, contém em seu terceiro capítulo a famosa definição de pessoa como "substantia individua naturae rationalis" que se tornou fundamental para as especulações posteriores de Tomás de Aquino sobre a Trindade. Estes três textos podem ser encontrados no original latino na Patrologia de Migne. O primeiro foi traduzido recentemente para o português, com um comentário introdutório, pelo prof. Luiz Jean Lauand da USP, como um apêndice ao livro sobre "O Significado Místico dos Números" de Rabano Mauro.

Os textos da Escola Vitorina.

Em terceiro lugar temos a Terceira Parte do Primeiro Livro de "Os Mistérios da Fé Cristã", de Hugo de São Vítor, que trata inteiramente da Trindade, como um prolongamento da doutrina de Agostinho. Hugo de São Vítor volta depois a tratar do mesmo assunto no "Tratado dos Três Dias", também conhecido como o sétimo livro do "Didascalicon". Nesta outra obra, embora num primeiro exame Hugo pareça estar apenas repetindo, de um modo pessoal, essencialmente a mesma doutrina contida no "De Trinitate" de Agostinho, na realidade ele nos apresenta uma das mais lindas abordagens já havidas sobre a relação entre o mistério da Trindade e a vida contemplativa. O que ele aí deixou de uma forma muito clara, mas ao mesmo tempo abreviada e diluída, num estudo que abrange não apenas Deus, como também o homem e o cosmos, foi posteriormente mais extensamente tratado e aprofundado por seu discípulo Ricardo de São Vitor no "De Trinitate". Todos estes textos podem ser encontrados em seu original latino na Patrologia de Migne; em português existe apenas uma tradução do "Tratado dos Três Dias" contida nos "Princípios Fundamentais de Pedagogia" de Hugo de S. Vitor, publicado pela Editora Salesiana em São Paulo.

Os textos de Santo Tomás de Aquino.

Em quarto lugar, temos as Questões 27 a 43 da Primeira Parte da "Summa Theologiae" de Santo Tomás de Aquino, o principal ponto de referência individual que há sobre o tema da Trindade. A "Summa" encontra-se traduzida para todas as principais línguas modernas; para ser entendido, porém, pelo menos em toda a sua profundidade, o texto exige conhecimentos de filosofia.

Menos conhecidas são, a este respeito, as "Quaestiones Disputatae de Potentia", também de Tomás de Aquino. As "Quaestiones de Potentia" tratam, conforme diz o nome, do tema da potência, entendida no sentido aristotélico, em todos os seus aspectos. Em princípio, portanto, não é um tratado sobre a Trindade. É evidente haver, porém, dentro desta extensa obra, esparramado para obedecer o plano original do autor, um outro tratado sobre a Trindade, não menos profundo do que aquele contido na "Summa Theologiae", elaborado, porém, a partir de uma perspectiva bem diversa do anterior. Ao contrário da "Summa Theologiae", entretanto, as "Quaestiones Disputatae" somente foram traduzidas para pouquíssimas línguas; temos conhecimento apenas da existência de uma tradução alemã. Por este motivo, das oitenta e três questões que integram o "De Potentia", retiramos as trinta e uma que, introdutoria ou diretamente, versam sobre a Santíssima Trindade, re-ordenando-as em uma seqüência mais conveniente para a exposição do maior dos mistérios. Com o intuito de facilitar uma primeira leitura, traduzimos integralmente o corpo de cada questão, selecionando, porém, das muitas objeções levantadas e respondidas, - cerca de duas dezenas para cada questão, número bem maior do que as três ou quatro por questão da "Summa Theologiae"-, apenas as que nos pareceram mais significativas para este propósito.

Conclusão.

O leitor encontrará, portanto, no texto sobre a "Santíssima Trindade nos Primeiros Santos Padres", ainda que de um modo resumido, o pano de fundo histórico, relativo aos cinco primeiros séculos da Igreja, para a compreensão destas outras obras aqui elencadas. No caso específico do tema da Trindade o leitor também poderá verificar facilmente que, muito mais do que um aspecto conjuntural, este pano de fundo dos primeiros séculos seja talvez tão importante para o entendimento das obras que citamos nesta introdução quanto o são elas próprias.