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Conforme dissemos, a Monarquia que o Comentário à
Política aponta como o regime perfeito nada tem a ver com a
formação de uma casa real ou com o poder hereditário. Na
sociedade organizada tendo a virtude como fim, o governante
deve ser
"escolhido por eleição
e não por sucessão;
apenas acidentalmente
o governante poderia ser melhor
escolhido por sucessão hereditária.
De fato, geralmente o melhor
é mais facilmente encontrado
dentro da multidão
do que ser alguém já determinado;
ademais,
a eleição é um ato da vontade
determinado pela razão" (65).
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Com isto o Comentário dá a entender que na sociedade voltada
para a virtude o governante deve ser escolhido, isto é,
eleito, e não receber o governo por hereditariedade. Mas a
concepção que S. Tomás de Aquino e o Comentário à Política
fazem do modo de proceder a esta eleição é totalmente
diferente das eleições democráticas. Nas democracias modernas
os candidatos interessados em governar fazem campanha para
convencerem os eleitores que são as pessoas mais aptas para o
governo. Para Tomás de Aquino e os filósofos gregos,
entretanto, em uma sociedade voltada para a virtude não
poderia haver incoerência maior do que esta. Já vimos no
capítulo III e no capítulo VI deste trabalho afirmações de
Platão segundo as quais os homens sábios e de virtude não
desejam o governo, e mais devem ser forçados a aceitá-lo do
que se esperar que o façam espontaneamente. Na Summa
Theologiae diz também S. Tomás de Aquino que não é sinal de
sabedoria, mas de
"presunção,
que alguém deseje colocar-se
acima dos outros
para que lhes possa fazer o bem" (66).
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Por estes motivos, é de se esperar que numa sociedade
perfeita nenhum governante se ofereça para qualquer cargo;
muito menos que faça campanha para convencer aos outros de
que ele é o melhor; ao contrário, o que é de se esperar é
que, na maioria das vezes, sequer desejem o governo. Mas,
afirma o Comentário à Política, não é por isso que ele
deixará de governar:
"Se alguém for digno de governar",
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afirma o Comentário à Política,
"deve assumir o cargo,
quer queira,
quer não queira,
porque o bem comum
deve ser preferido
à vontade própria" (67).
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