A EDUCAÇÃO SEGUNDO
A FILOSOFIA PERENE

Capítulo III

Pressupostos Históricos




III.1.

Introdução.

Este modo de conceber a educação, orientando-a em seu fim último à sabedoria e à contemplação, orientação tão diversa dos modernos sistemas de educação, não é uma concepção originária do próprio Santo Tomás de Aquino.Ao contrário, tem raízes históricas profundas, que remontam às próprias origens de nossa civilização.

Uma das fontes de S. Tomás de Aquino nesta concepção é a doutrina de Aristóteles. Aristóteles, porém, é tributário de toda a história do movimento filosófico grego, anterior a ele de vários séculos. Conforme veremos, os principais filósofos gregos anteriores a Aristóteles pensavam no que diz respeito à contemplação de um modo muito semelhante.

Outra fonte de S. Tomás de Aquino a este respeito é a tradição cristã. A contemplação tem sido um assunto constantemente abordado pela maioria dos grandes autores cristãos, desde o início do Cristianismo até Santo Tomás de Aquino e também depois dele. Conforme veremos, já no texto dos Evangelhos encontramos descrita a excelência da contemplação.

Todavia, o que o Cristianismo entende por contemplação encerra elementos que não se encontram nos filósofos gregos. Estes elementos, abordados também por S. Tomás nos seus escritos teológicos, serão analisados, em parte, no último capítulo deste trabalho.

Cabe aqui dizer que, quando por volta dos séculos II e III filósofos gregos como São Justino e Clemente de Alexandria se converteram ao Cristianismo, encontraram semelhanças notáveis entre aquilo que o Cristianismo descrevia como contemplação e aquilo que os filósofos gregos, não apenas Aristóteles, falavam sobre o mesmo assunto. A conseqüência natural foi que quando os cristãos percebiam estarem se referindo às mesmas realidades, muitos elementos da contemplação passaram a ser designados também com os mesmos termos que eram designados entre os gregos. E também, naquilo que a contemplação entre os cristãos tinha de comum com os filósofos gregos, a tradição cristã empenhou-se num desenvolvimento que freqüentemente tinha sua apresentação revestida de caracteres tomados de empréstimo aos gregos.

Neste capítulo, portanto, traçaremos um rápido quadro da origem da concepção da sabedoria e contemplação como fim último do homem em Santo Tomás de Aquino tal como se apresentou na tradição da filosofia grega até Aristóteles, de onde passou para Tomás através de seus comentários às obras do filósofo, e na tradição cristã, apenas naquilo que ela apresenta neste assunto de comum com a tradição da filosofia grega. O que o Cristianismo apresenta de próprio em matéria de contemplação será deixado para o capítulo final deste trabalho.