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Como, pois, podemos nos livrar desse demônio mal e perverso?
Porque é realmente demônio, mas que tem um rosto amável.
Imaginemos, com efeito, um demônio que se transforma em rameira, se
adorna de mil enfeites de ouro, se veste com belos vestidos, exala mil
perfumes e toma, enfim, a forma ou a imagem esplêndida de uma mulher
que ofusca toda a beleza. Suponhamos, ademais, que apareça naquela
idade em que mais excita as almas dos jovens, na flor da juventude,
enfeitada com uma faixa de ouro, com seus cabelos cacheados de
diferente forma, à maneira de um bonito coque; também leve ajustado
um diadema na cabeça, que dê extraordinária graça aos cabelos
descobertos, brilhe sobre seu colo o ouro e as pedras preciosas. Um
demônio assim, metido na figura de uma menina de pouca idade,
apresente-se sozinha diante da casa dos demônios e mostre além disso
todo o pudor do mundo; quem passando perto dela, não ficará
seduzido? E se, finalmente, depois de tudo isso, entrasse em casa
e, depondo toda aquela formosura, se mostrasse a si mesmo negro,
ígneo e selvagem, como é natural que seja um demônio, e fizesse o
miserável caído perder o juízo, e, zombando dele e agarrando sua
alma, enlouquecesse sua inteligência, aí teríamos uma imagem cabal
do que é esse maligno demônio da vanglória. Que há,
efetivamente, de mais bela aparência que esta? Que mais amável?
Mas se considerarmos que tudo isso é pura fantasia e ficção, não
nos deixaremos prender em suas redes nem cairemos em sua trama. O que
se diz da rameira pode muito bem ser dito também da vanglória:
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"Mel
destila os lábios da mulher".
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