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Quando sofremos alguma aflição, temos que entender que isto é parte da cruz de Cristo
e que, por meio do sofrimento, podemos beijar esta cruz.
Quando fizermos alguma coisa, temos que refletir sobre ela,
para que possamos compreender o motivo pela qual a fazemos,
se é para agradar a Deus ou para estar bem com os demais, porque o demônio
costuma servir-se da vaidade. Assim, pois, sempre devemos examinar a razão
de nossa conduta, considerar a boa intenção, e fazê-lo tudo para a honra a
e glória de Deus.
Cada qual deve perguntar-se a si mesmo: com que finalidade faço isto?
Para honra e glória de Deis ou para adquirir com isso a fama que o mundo
aprecia? Porque se o fazes com outra finalidade que não seja a glória de
Deus, estás perdido.
Consideremos sempre a boa intenção, porque a cada momento caímos no erro de não
nos fixarmos na boa intenção do que fazemos ou dizemos. Portanto, abramos os sentidos,
estejamos alertas, porque no Dia do Juízo se verão as intenções e o dano
que a vanglória nos terá causado.
Se presumes ser servo de Deus e desejas padecer por Cristo, mas quando te dizem coisas
duras e ofensivas te irritas e incomodas, e interiormente te sentes de tal forma que pareces
ter uma legião de demônios, adverte pois que esta é a escola de Deus onde os
humildes aprendem.
Mesmo que te digam o que quiserem, nunca te queixes a ninguém, senão a Deus.
Quando pensas que és algo, tem por certo que não és nada; e quando pensas que não és nada,
tem por certo que és algo.
Na oração mental é um atrevimentro meditar de imediato na Santíssima Trindade, em vez
de prostarmo-nos aos pés de Cristo e suas sacratíssimas chagas, porque elas nos
ensinarão como e de que maneira é este tão grande mistério, e nos farão meditar
sempre com humildade nas chagas de Cristo.
Examina sempre se te motiva algum amor propio, porque o amor
deve-se por somente em Jesus Cristo e não em coisas terrenas
e que hão de perecer.
Que se faça em tudo a vontade de Deus, mesmo que nos coloquem onde quiserem,
porque mesmo que nos tirem a nossa vontade, não nos podem tirar a Deus.
Tenhamos sempre a devoção de encomendar a Deus aqueles que nos ofendem por palavra ou
por obra. Quem isto fizer, cumpre com o Evangelho de Deus.
Se por acaso nos sentirmos tristes, examinemo-nos e vejamos de onde procede a tristeza;
porque o demônio costuma dar peso muito grande com coisa muito leve.
Devem-se ter muito presente os mandamentos da Lei de Deus, para examinar se O ofendemos,
e se assim for, deve-se recorrer logo à confissão. Se não houver nada em que tenhamos
ofendido a Deus, atiremos todas as demais preocupações a um fogo, e isto à face do demônio,
e dediquemo-nos a servir a Deus com alegria.
Procuremos sempre o mais baixo lugar e assento, e humilhemo-nos em tudo por Deus.
Eis aqui um argumento contra o demônio. Quando o demônio nos disser que não
façamos esforços para servir a Deus, digamos-lhe que assim como ele, com grande
esforço, quis ser soberbo e o foi, e conseguiu colocar-se em lugar tão alto,
assim também, com grande esforço o servo de Deus deve procurar abater-se entre todos,
e que o tenham em nada, por amor de Deus.
Muitas vezes inspira Deus a seus servos para que façam em público algumas devoções,
e as fazem porque sabem a quem servem; porém são objeto de murmurações por parte de pessoas
que não conhecem ao Senhor, e que não tem espírito de Deus. Observa, servo de Deus,
se sentes que não há vaidade, que não te importem as murmurações: dá bom exemplo
e serve ao Senhor, pois serves a bom Senhor.
Alegra-te sempre com a cruz de Cristo; todo o desejo
do servo de Deus deve ser seguir a Cristo;
este é o verdadeiro desejo do servo de Deus.
Duas coisas deve ter o servo de Deus, e se não as tem, deve trabalhar muito para alcançá-las,
e elas são: não obedecer em nada à própria vontade; ao contrário, fazer antes a vontade do outro
que a sua; não ter cobiça de nada, nem mesmo em coisas muito pequenas,
porque do pequeno se passa sempre ao maior. No fim, em tudo se começa por pouco,
e o demônio é sutil.
Todas as honras e favores que nos podem dar e fazer nesta vida têm tão pouco valor,
que não merecem estar nem sequer debaixo dos pés. Pelo contrário, todas as afrontas,
opróbios e desprezos que soframos por Cristo, ainda que os tratemos como às meninas dos olhos,
não têm o lugar que merecem.
O servo de Deus deve exercitar-se em considerar as dores que padeceu Cristo naquelas carnas
sacrossantas; as penas interiores que padeceu Cristo em sua allma; as afrontas que padeceu em
sua honrfa. A maneira de exercitar estas coisas consiste em dizer, quando padeçamos
dores no corpo: quero padecer estas dores em satisfação de meus pecados.
Se são penas interiores digamos: penas de Cristo, vos ofereço as minhas.
Se são ofensas que ferem nossa honra, dizer: afrontas de Cristo, por vós as padeço.
Persuade-te, homem, que não há mais do que duas coisas boas, que são: Deus e a alma,
e se o quiseres ver bem, pensa e traze à memória todo o criado, e examina cada coisa
em si mesma, e verás como tudo é nada. Fixa-te cuidadosamente na terra, no mar, na prata,
no ouro, em toda criatura na terra e no mar, e verás, segundo te disse, como tudo é nada.
E assim, posto que tudo é nada, há que estimar-se tudo como nada, e buscar a Deus,
que o é tudo, e assim acertarás. Vá a alma a Deus, e venha Deus à alma, pois Ele a
criou capaz de fruí-lo.
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