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Nas profecias que acabamos de citar fala-se apenas
sobre o Monte Sião, ou de Jerusalém. Há, porém, uma série de
outras em que estes mesmos fatos que foram aí anunciados são
vinculados ao aparecimento do Messias.
Assim, em Is. 25 (o ítem F acima), o profeta diz que
no Monte Sião Deus quebraria a cadeia que tinha ligado todos
os povos, as redes estendidas contra todas as nações e o
opróbio de seu povo sobre toda a terra. Em Is. 9 o mesmo
profeta diz que isto aconteceria graças a um menino que nasceria
e se sentaria sobre o trono de Davi, cujo reino não teria fim e
teria o título não só de Príncipe da Paz, mas também de Deus
Forte:
"O povo, que andava nas trevas,
viu uma grande luz;
aos que habitavam na região da sombra da morte
nasceu-lhes o dia.
Tu quebraste o pesado jugo que o oprimia
e a vara que lhe rasgava as espáduas
e o cetro de seu exator,
como o fizeste na jornada de Madian.
Porque um menino nasceu para nós,
e um filho nos foi dado
e foi posto o principado sobre o seu ombro,
e será chamado Admirável, Conselheiro,
Deus Forte, Pai do Século Futuro,
Príncipe da Paz.
O seu império se estenderá cada vez mais,
e a paz não terá fim;
sentar-se-á sobre o trono de Davi
e sobre o seu reino,
para o firmar e fortalecer
pelo direito e pela justiça,
desde agora e para sempre". |
Vimos também que em Is. 65 (o ítem B acima), o profeta diz que no
Monte Sião o lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão e o
boi comerão palha e que não haveria ali quem fizesse o mal.
Em Is. 11 o mesmo profeta diz que tudo isto aconteceria quando
uma flor brotasse da raíz de Jessé. Jessé, para os que não se
lembram, foi o pai de Davi. Esta flor, que será o Messias, será
um homem, pois sobre ela esta profecia diz que repousarão os sete
dons do Espírito Santo que o profeta passa a enumerar, e então
sucederão todas as coisas que em Is. 65 se havia afirmado que
haveriam de suceder no Monte Sião, porque, nas palavras de
Isaías, graças à vinda do Messias, "a terra estaria cheia da
ciência do Senhor":
"E sairá uma vara do tronco de Jessé,
e uma flor brotará de sua raíz.
E repousará sobre ele o Espírito do Senhor,
espírito de sabedoria e de entendimento,
espírito de conselho e fortaleza,
espírito de ciência e de piedade,
e será cheio do espírito de temor do Senhor.
Ferirá a terra com a vara de sua boca,
e matará o ímpio com o sopro de seus lábios.
O lobo habitará com o cordeiro
e o leopardo se deitará ao pé do cabrito;
o novilho, o leão e a ovelha viverão juntos,
e um menino pequeno os conduzirá.
O novilho e o urso irão comer às mesmas pastagens;
as suas crias descansarão umas com as outras;
o leão comerá palha com o boi,
a criança de peito brincará sobre a toca do áspide
e na caverna do basilisco meterá a sua mão
a que já estiver desquitada.
Eles não farão dano algum,
nem matarão em todo o meu santo monte,
porque a terra estará cheia da ciência do Senhor,
assim como as águas do mar que a cobrem". |
Em Is. 60 e 43 (ítens D e E acima), o profeta afirmou que os
filhos de Jerusalém surgiriam de todos os lados e que Deus
chamaria os seus filhos de países remotos e das extremidades
da terra. Na continuação da profecia de Is. 11 que acabamos de
citar, o profeta diz que isto acontecerá quando o rebento da
raíz de Jessé, que já vimos ser uma expressão que o profeta usa
para referir-se ao Messias designando sua descendência de Davi,
for posto como estandarte diante de todos os povos. Então Deus
reunirá os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra:
"Naquele dia o rebento da raíz de Jessé,
que está posto por estandarte dos povos,
será invocado pelas nações,
e será glorioso o seu sepulcro.
E o Senhor levantará o seu estandarte
entre as nações,
e juntará os fugitivos de Israel,
e reunirá os dispersos de Judá
dos quatro cantos da terra". |
Quase a mesma coisa o profeta repete em Is. 49:
"Isto diz o Senhor Deus:
Eis que levantarei para as nações a minha mão,
e arvorarei entre os povos o meu estandarte.
E então trarão os teus filhos nos braços,
e levarão as tuas filhas sobre os ombros,
e serão tirados ao homem forte
os que ele tiver feito cativos
e ao valente os que ele tiver tomado". |
Em Is. 18 o profeta ainda afirma que todos os habitantes da terra
veriam este estandarte, ouviriam o som da trombeta e então
levariam oferendas ao Senhor no Monte Sião. Como o estandarte é o
Messias, subentende-se que a trombeta seja a sua manifestação ou
pregação, conforme haviamos dito na introdução a estas notas:
"Ide, mensageiros velozes,
a uma nação dividida e despedaçada;
a um povo terrível, o mais terrível de todos;
a uma nação que está esperando,
cuja terra é cortada pelos rios.
Vós todos, habitantes do mundo,
que morais sobre a terra,
quando for levantado o estandarte sobre os montes,
vós todos o vereis, e ouvireis a som da trombeta.
E então naquele tempo
serão levadas oferendas ao Senhor dos exércitos
por um povo dividido e despedaçado,
por um povo terrível, o mais terrível de todos,
por uma nação que está esperando,
e que é calcada aos pés
e cuja terra é cortada pelos rios,
ao lugar do nome do Senhor dos exércitos,
ao monte Sião". |
Em Is. 32 o profeta também afirma que o Messias não reinará
sozinho, mas terá prícipes que reinarão com retidão. Cada um
deles seria como arroios de águas na sede e, através deles, o
coração dos insensatos entenderia a ciência. Encontramos
afirmações semelhantes a estas no Apocalipse, quando Cristo
afirma que aos que praticassem suas obras até o fim, Ele
lhes daria poder sobre as nações, como também o próprio
Cristo o havia recebido de seu Pai (Apoc. 2, 26-27) . Segundo
uma interpretação muito bela de Ricardo de São Vitor no
seu Comentário ao Apocalipse, isto
significa que
"No Apocalipse Cristo promete que
`Àquele que praticar as minhas obras até ao fim',
isto é, até o fim da vida
ou até o fim da consumação da justiça,
`lhe darei poder sobre as nações',
isto é, sobre as gentes, os gentios,
ou aqueles que vivem como os gentios,
afastados da graça e da santidade,
porque os que vivem como os gentios
inevitavelmente ou serão inteiramente condenados
pelos juízos daqueles que são consumados na justiça
ou serão transformados em melhores pela sua palavra.
Aquele que cuida de alcançar a perfeição da santidade,
este é, pois, de fato,
digno de reger aos demais.
Cristo porém acrescenta:
`Como eu também o recebi de meu Pai',
porque do Pai Cristo recebeu,
segundo a sua humanidade,
o poder de reger,
e isto que Ele possui em plenitude,
os eleitos também o possuem
por uma participação desta plenitude". |
Ora, esta interpretação nada mais é do que aquilo que o próprio
Isaías profetizava no trigésimo segundo capítulo de seu livro:
"Eis que um rei reinará com justiça,
e os seus príncipes reinarão com retidão.
E cada um deles será
como um refúgio contra o vento,
e um abrigo contra a tempestade.
Serão como arroios de águas na sede,
e como a sombra de uma alta rocha em terra árida.
Não se ofuscarão os olhos dos que vêem,
e os ouvidos dos que ouvem escutarão atentamente.
O coração dos insensatos entenderá a ciência,
e a língua dos tartamudos se exprimirá
com prontidão e clareza.
Não mais se dará ao insensato
o nome de príncipe,
nem ao fraudulento o de grande,
porque o insensato diz loucuras
e seu coração pratica a iniqüidade,
para deixar vazia a alma do faminto
e tirar a bebida ao que tem sede.
Mas este príncipe terá pensamentos
dignos de um príncipe,
e ele mesmo estará vigilante sobre os chefes". |
Em consonância com o afirmado em Is. 32, em Is. 66 o profeta diz
que quando Deus estebelecesse entre os homens o seu estandarte,
enviaria os seus eleitos como mensageiros a todas as nações do
mundo para que anunciassem a glória de Deus àqueles que nunca
tivessem ouvido falar dela. Note-se que, segundo Isaías, a glória
do Senhor procede do Monte Sião (Is. 60, 1), onde o próprio
Senhor habita (Is. 8, 18). Estes mensageiros, ao anunciarem aos
povos longínquos a glória do Senhor, trariam em seguida estes
mesmos povos carregados em liteiras ao monte santo de Jerusalém
como uma oferta a Deus:
"E porei entre eles um estandarte,
e os que dentre eles forem salvos,
eu os enviarei às nações de além mar,
à África, à Lídia,
cujos povos atiram com setas,
à Itália e à Grécia,
às ilhas longínquas,
àqueles que nunca ouviram falar de mim,
nem viram a minha glória.
E eles anunciarão a minha glória às gentes
e farão vir todos os vossos irmãos
convocados de todas as nações
como um presente para o Senhor,
em cavalos, e em carros, e em liteiras,
e em machos, e em carretas,
ao meu santo monte de Jerusalém,
diz o Senhor,
como quando os filhos de Israel
levam uma oferta num vaso puro
à casa do Senhor.
E eu escolherei dentre eles
para sacerdotes e levitas,
diz o Senhor". |
Como será feito o anúncio da glória do Senhor às nações por parte
daqueles que forem salvos onde Deus levantar o seu estandarte é
algo descrito em Is. 31:
"Descerá o Senhor dos exércitos
para pelejar sobre o monte Sião
e sobre a sua colina.
E naquele dia cada um lançará fora
os seus ídolos de prata,
e os seus ídolos de ouro,
que vós fabricastes com as vossas mãos
para pecardes.
E Assur cairá ao fio da espada,
mas não da espada de um homem,
pois a espada que o há de transpassar
será espada,
mas não de nenhum homem.
Assim disse o Senhor,
que tem o seu fogo em Sião,
e a sua fornalha em Jerusalém". |
Para entender esta última passagem de Isaías, temos que entender
primeiro as suas partes.
Assur são os assírios que destruíram o Reino de
Israel e ameaçaram depois fazer o mesmo, no tempo em que vivia
Isaías, com o Reino de Judá, onde na época vivia o profeta (II
Reis 18, 13-37), só não o conseguindo por causa de uma
intervenção miraculosa de que participou o próprio Isaías (II
Reis 19). O décimo capítulo da profecia de Isaías é dedicado
inteiramente aos assírios; sua leitura mostra que, para este
profeta, os assírios eram a personificação do orgulho:
"Assur, diz o Senhor,
é a vara e o bastão de meu furor;
na sua mão está a minha indignação.
Eu o enviarei a uma nação pérfida,
e lhe ordenarei que marche
contra um povo que eu olho com furor,
para que leve dele os despojos,
o ponha a saque e o calque aos pés
como a lama das ruas.
Mas ele não o julgará desta maneira,
nem o seu coração pensará assim.
O seu coração somente pensará
em destruir e exterminar numerosas nações.
Mas quando o Senhor tiver cumprido
todas as suas obras
no monte Sião e em Jerusalém,
visitará o fruto do orgulhoso coração do rei Assur,
e a arrogância dos seus olhos altivos.
Porque ele disse:
Foi pelo esforço de minha mão que eu fiz isso,
e foi com a minha sabedoria que o entendi,
como se a vara se levantasse contra o que a maneja,
e como se o bastão se orgulhasse,
ele que não é mais do que um pau". |
Assur, pois, é para Isaías a personificação do coração
orgulhoso, da arrogância dos olhos altivos, da soberba que
se levanta contra Deus. Por extensão, é toda a vida de pecado,
cuja raíz é o orgulho, assim como a humildade é a raíz da vida da
virtude.
A espada que será espada mas não será espada de
homem é um símbolo comum nas Sagradas Escrituras para significar
a palavra de Deus. Ao dizer Isaías que não será espada de homem o
profeta quer mostrar explicitamente que quer entender por este
termo seu sentido figurativo. Na própria profecia de Isaías a
palavra de Deus e a pregação do Messias é tomada como sendo uma
espada:
diz o futuro Messias pela boca de Isaías,
"desde o ventre de minha mãe
e tornou a minha boca como uma espada afiada". |
"Uma flor brotará sobre a raíz de Jessé,
sobre quem repousará o Espírito do Senhor.
Ele ferirá a terra com a vara de sua boca
e o ímpio com o sopro de seus lábios". |
Este símbolo é recolhido no Novo Testamento com a tranqüilidade
de quem menciona alguma coisa já há muito bem conhecida. Na
Epístola aos Hebreus São Paulo diz que
"a palavra de Deus é viva,
eficaz e mais penetrante
do que qualquer espada de dois gumes"; |
e na Epístola aos Efésios ele aconselha aos cristãos que tomem
"a espada do Espírito,
que é a palavra de Deus". |
A espada de que fala Isaías, uma espada que não é de homem, cujo
fio levará Assur à queda, é, portanto, a espada de Deus, isto é,
a pregação da palavra realizada pelo Messias e por aqueles a quem
ele enviasse.
A menção do fogo e da fornalha que estão em Sião,
de onde desceria o Senhor para pelejar contra Assur pela espada
da palavra é também outro símbolo bem conhecido nas Escrituras.
Trata-se do fogo da caridade, aquele fogo do qual Jesus disse:
"Vim espalhar um fogo sobre a terra,
e que mais desejo eu
senão que se acenda?" |
Este fogo e esta fornalha são mencionados por Isaías como estando
em Sião, de onde desceria a palavra de Deus como uma espada,
porque trata-se de um fogo que se acende no Monte Sião pela
contemplação, e será através da pregação destes homens inflamados
pela caridade que, enviados às nações para anunciarem a glória do
Senhor, farão Assur cair ao fio da espada. Então, diz ainda
Isaías:
"A Lua se tornará vermelha
e o Sol se obscurecerá,
quando o Senhor dos exércitos reinar
no Monte Sião e em Jerusalém,
e quando for glorificado na presença de seus anciãos". |
A Lua se torna vermelha, como se estivesse manchada de sangue,
quando ela principia a sair de um eclipse total, isto é, quando
sua luz está bastante enfraquecida. A Lua e o Sol são as luzes
pelas quais o homem se norteia no comum de sua vida. Quando a luz
de Deus começar a reinar em Sião, portanto, esta luz será tão
intensa que as luzes com que o homem costuma se orientar em sua
vida natural parecerão fracas e obscurecidas.
Então, diz ainda Isaías,
"Jerusalém não será chamada
dali em diante `A Desamparada',
e a sua terra não será mais chamada `A Deserta',
mas serás chamada `Querida Minha',
e a tua terra `A Habitada'.
Porque assim como o jovem habita com a donzela
(que escolheu para esposa),
assim também habitarão em ti os teus filhos,
e assim como a esposa é alegria do esposo,
assim tu serás a alegria de teu Deus". |
Este texto não pode deixar de nos fazer pensar imediatamente
naquele outro da Epístola aos Efésios, onde São Paulo diz:
"Maridos, amai as vossas mulheres,
como também Cristo amou a Igreja
e por ela se entregou a si mesmo,
para apresentar a si mesmo a Igreja gloriosa,
sem mácula, santa e imaculada.
Este mistério é grande;
refiro-me a Cristo e à Igreja". |
O texto de Isaías também não pode deixar de nos fazer pensar
imediatamente em todo o livro do Cântico dos Cânticos, aquele
livro em que, através de uma poesia de amor entre dois esposos,
corretamente se pode ver tanto o mistério da união entre Cristo e
a Igreja como uma descrição do amor envolvido na contemplação.
Quando ali, por exemplo, se diz:
"Tu feriste o meu coração,
irmã minha esposa,
tu feriste o meu coração
com um só dos teus olhares,
e com um cabelo do teu pescoço", |
não será isto a mesma coisa do que Isaías quer dizer quando
profetiza
"E terei as minhas delícias em Jerusalém,
e a minha alegria no meu povo;
e acontecerá que,
antes que eles clamem,
eu os ouvirei,
e estando eles ainda a falar,
eu os atenderei"? |
No Cântico dos cânticos o autor sagrado nos quer mostrar, através
da imagem do amor humano, o quanto Deus ama àqueles que habitam
em Jerusalém.
Por isto é que também, nos Salmos, lemos passagens
como esta:
"Quão amável é a tua morada,
Senhor dos exércitos.
A minha alma suspira, desfalece,
desejando os átrios do Senhor;
o meu coração e a minha carne
exultam pelo Deus vivo.
Até o pássaro encontra uma casa,
e uma andorinha um ninho
onde possa por os seus filhinhos:
bem aventurados, Senhor,
os que moram na tua casa,
eles te louvam sem cessar.
Em verdade, é melhor um só dia
nos teus átrios,
do que milhares,
fora deles.
Prefiro deitar-me
no limiar da casa de Deus,
a morar nas tendas dos pecadores.
Senhor Deus dos exércitos,
bem aventurado o homem
que em ti confia". |
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