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Somente no fim do século dezenove os homens voltaram a
tecer dúvidas sobre tais afirmações, quando um astrônomo amador
perguntou porque o céu não brilhava de noite.
O seu raciocínio foi o seguinte.
Supondo que houvesse estrelas preenchendo todo o
espaço infinito do cosmos, haveria uma valor que mediria a
densidade média das estrêlas no Universo. Independentemente de se
conhecer de fato o valor desta densidade, sabe-se que, qualquer
que seja este valor, a intensidade da luz de uma estrêla que é
recebida na Terra diminui com o quadrado da distância desta
estrela à Terra. Isto acontece porque a luz da estrela, à medida
em que se afasta de sua fonte, se espalha sobre a superfície de
uma esfera imaginária, superfície esta que aumenta com o quadrado de
seu raio. A fórmula que fornece a área da superfície de uma
esfera, é, de fato, quatro vezes o número PI (3,14) vezes o quadrado do
raio da esfera.
Por outro lado, porém, à medida em que nos afastamos
da Terra, o número de estrelas existente no espaço que circunda a
Terra a uma dada distância aumenta de acordo com o aumento do
volume de espaço que circunda a Terra a esta mesma distância.
Ora, o volume do espaço que circunda a Terra a cada determinada
distância em que nos situamos dela aumenta à medida que nos
afastamos da Terra, pois este é o volume das camadas mais
externas da esfera de espaço que circunda a Terra, camadas que se
tornam cada vez maiores à medida em que aumenta o raio desta
esfera. O volume de uma esfera, porém, diferentemente da área de
sua superfície externa, aumenta proporcionalmente ao cubo de seu
raio. A geometria nos diz, de fato, que o volume de uma esfera é
igual a 4/3 vezes o número PI vêzes o cubo raio desta esfera.
À medida, pois, em que nos afastamos da Terra, embora
a intensidade da luz que nos chegue de cada estrela,
individualmente considerada, diminua com o quadrado de sua
distância, o número total destas estrelas aumenta com o cubo
desta mesma distância. Deste raciocínio deveria concluir-se que,
à medida em que nos afastamos da Terra, o aumento do número total
de estrelas deveria produzir um efeito mais do que compensatório
sobre a diminuição da intensidade da luz que nos chega
individualmente de cada uma. À noite, portanto, deveria haver
mais luz do que durante o dia, supondo que, conforme se observa,
seja verdade que a luz com que o dia é iluminado seja
essencialmente apenas aquela que nos chega do Sol.
Nada disso porém, acontece, e o astrônomo que levantou
esta questão pedia insistentemente aos seus colegas que lhe
explicassem o motivo.
A única, ou uma das poucas, explicações possíveis para
este paradoxo, se quisermos preservar as suposições contidas na
Física de Newton, seria que só uma pequena parte do espaço vazio
do Universo estaria efetivamente preenchida de estrelas, e esta
parte seria justamente o espaço próximo à Terra. Mas o paradoxo
que esta e que as outras poucas soluções possíveis restantes
criam, por sua vez, não são menores do que o paradoxo original.
Pois, por maior que fosse esta região nas vizinhanças da Terra
que estivesse efetivamente prenchida de estrelas, ela seria um
nada em comparação com a vastidão do Universo infinito. Se
postulamos que o espaço é verdadeiramente infinito, qualquer que
fossem as dimensões desta vizinhança estelar, esta, diante do
infinito, seria precisamente idêntica a nada. De onde que o
Universo infinito consistiria essencialmente de um espaço vazio,
essencialmente do nada.
Ora, que sentido de realidade se poderia atribuir a
uma entidade deste gênero? Se o Universo jamais tivesse existido,
em que ele diferiria do existir segundo este modo?
Os físicos não conseguiram dar nenhum tipo de resposta
a estes paradoxos até o surgimento da Teoria da Relatividade
Generalizada de Einstein, com a qual se retornou a uma concepção
do Universo muito semelhante, senão mesmo idêntica, nestes
pontos, às da Filosofia Aristotélica.
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