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Os Comentários à Epístola aos Romanos.A Epístola aos Romanos, sendo o mais importante dos escritos de São Paulo, foi objeto de muitos comentários ao longo da tradição cristã. O primeiro comentário à Epístola aos Romanos de que se tem notícia, e que ainda existe, foi escrito por volta do ano 230, ainda na época das perseguições movidas pelo Império Romano aos cristãos. Seu autor morreu vítima das torturas recebidas por sua decisão de permanecer firme à fé cristã, muitos anos depois que seu pai, outro mártir da fé, tivesse sido decapitado pelas autoridades romanas por recusar-se a renegar a Cristo.O autor do primeiro Comentário à Epístola aos Romanos deixou-nos também uma multidão de outros escritos a respeito das coisas sagradas. Seu nome era Orígenes, e foi, em vida, um exemplo da prática das virtudes cristãs, de amor ao estudo das Sagradas Escrituras e de dedicação ao ensino da palavra de Deus. Eusébio de Cesaréia, um bispo dos anos 300, deixou-nos um testemunho muito eloqüente da fé que animava este homem já desde os primeiros anos de sua infância:
diz Eusébio de Cesaréia,
conclui Eusébio de Cesaréia,
Mais tarde, já adulto, quando o Império Romano passou a perseguir de modo principal não mais aqueles que se diziam cristãos, mas aqueles que se dedicavam ao ensino da doutrina cristã, Orígenes aceitou o cargo de coordenar o ensino da catequese na cidade de Alexandria, que era na época a segunda cidade do Império Romano.
diz Eusébio de Cesaréia,
Sua fama crescia tanto e
continua Eusébio,
Apesar disso, porém, as autoridades romanas não conseguiram apanhá-lo senão depois dos seus sessenta anos de idade.
relata ainda Eusébio de Cesaréia,
Tal foi o exemplo que nos foi legado pelo autor do primeiro Comentário à Epístola aos Romanos de que a história tem notícia. Infelizmente, por motivos que até hoje ninguém conseguiu explicar satisfatoriamente, apesar da seriedade de seu caráter e de seus escritos, Orígenes cometeu neles alguns erros de interpretação, os quais, apesar de poucos, são tão elementares que nenhum teólogo de qualquer época teria sido capaz de cometer. A história parece ser clara no sentido de que, a este respeito, Orígenes jamais teve a intenção de enganar. Talvez isto tenha ocorrido devido à dificuldade que havia, naquela época de perseguições, em comunicar-se com outras pessoas a respeito destes assuntos; de fato, apesar do caráter elementar de alguns destes erros, durante a vida de Orígenes ninguém nunca o acusou a este respeito, e estes erros só começaram a ser notados após o término das perseguições, quando Orígenes já não mais vivia. O próprio Orígenes, ademais, repetia incansavelmente a responsabilidade com que enfrentava as questões referentes ao estudo e ao ensino, afirmando inúmeras vezes que era pecado muito mais grave ensinar o erro do que praticá-lo. Depois de Orígenes, quase todos os teólogos importantes do cristianismo nos deixaram comentários às cartas de São Paulo, e, em particular, à Carta aos Romanos. Santo Tomás de Aquino, Hugo de São Vitor e São João Crisóstomo comentaram todas as cartas de São Paulo. Ricardo de São Vítor nos deixou um escrito mais breve em que, em vez de comentar cada uma das cartas de São Paulo, trata das principais questões levantadas simultaneamente pelo conjunto das epístolas paulinas. Santo Agostinho comentou apenas a Carta aos Romanos e aos Gálatas. De todos estes comentários o mais extenso e o mais complexo é o de Orígenes; os mais perfeitos quanto à técnica expositiva são os de Santo Tomás de Aquino. Mas do ponto de vista do conteúdo nenhum supera outro; todos são insubstituíveis e contém ensinamentos preciosos que em vão se procurariam em algum outro lugar. Temos desta afirmação exemplo no Comentário à Epístola aos Romanos de Santo Agostinho, de que vamos examinar a seguir algumas passagens. Quanto à técnica expositiva, este é o pior de todos os comentários que já se escreveram à Epístola aos Romanos; ele não passa de um amontoado desordenado de notas e observações sobre passagens isoladas da Epístola aos Romanos de que um dia, se tivesse tido tempo, Santo Agostinho iria se servir para escrever um comentário no verdadeiro sentido da palavra. No entanto, logo no início deste trabalho, aparentemente tão mal feito, encontramos uma meia página com uma das exposições mais curtas e mais lúcidas que já apareceram sobre a doutrina que São Paulo expõe na Epístola aos Romanos. Esta meia página, tirada das colunas 2065 e 2066 do trigésimo quinto volume da Patrologia Latina de Migne, é o texto que iremos ler em seguida. |