|
Veneráveis Padres, e todos os demais que me ouvis:
Falo em meu nome e também, na segunda parte deste
discurso, no de cento e dois bispos, principalmente do Brasil.
Com poucas exceções, agrada-me o presente esquema
de proposições sobre a formação sacerdotal.
1. Agrada-me, porque o documento sobre a Formação Sacerdotal não deve ser muito rígido,
mas acomodado às diversas circunstâncias e lugares, segundo o que for exigido pelas
necessidades pastorais com o decorrer do tempo. Sempre, todavia, sob a direção da
assembléia dos bispos e a aprovação da Santa Sé.
2. Agrada-me também que no fomento das vocações contemplem-se as
necessidades de toda a Igreja e na seleção das vocações se recomende um cuidado vigilante.
3. Agrada-me a determinação segundo a qual, salvo a formação científica comum,
as grandes comunidades dos seminários sejam distribuídas em comunidades menores
para promover uma melhor formação sacerdotal.
4. O esquema também me agrada imensamente porque ao se definirem os estudos,
dá-se uma especial atenção ao estudo da língua latina, o que certamente é da máxima
importância para formar a cultura dos alunos, principalmente os do ocidente.
O esquema me agrada menos:
1. Quando trata do cultivo da formação espiritual, porque, ainda que ali tudo
esteja bem colocado, falta todavia, no meu humilde julgamento, algo essencial:
em toda a formação sacerdotal do futuro sacerdote, mais ainda, em toda a vida
sacerdotal, deve estar presente aquela Estrela, que conduz a Jesus, Sua Mãe
e nossa Mãe, à qual o "outro Cristo", como outro filho de Maria, deve
cotidianamente cultuar com piedade filial.
Portanto humildemente proponho que no número 8, na página 15, na linha 5,
depois das palavras "e a Eucaristia", se acrescentem estas palavras:
|
"na devoção verdadeiramente filial para com a Mãe do Sumo e
Eterno Sacerdote que, de um modo especial, é Mãe do sacerdote".
|
|
2. Agrada-me menos também o que o esquema diz sobre a f
ormação apostólica ou missionária. É verdade que no esquema
atual fala-se deste assunto mais do que no esquema anterior,
mas isto é coisa de tanta importância para a vida da Igreja no
mundo que se muito se diz nunca se o faz em demasia. Convém
portanto que este tema apareça em nosso esquema de um modo
mais vívido e com fundamento teológico.
Farei algumas considerações sobre a questão antes de propor
emenda. Se desde os primeiros anos de vida no seminário os
alunos não forem imbuídos por um verdadeiro e firme espírito
apostólico, em vão os pastores pregarão sobre a colegialidade
episcopal com todas as suas conseqüências. E, ao contrário, se
os nossos seminários, tanto os do clero secular como os do clero
regular, se imbuírem deste espírito, não somente haverá um maior
número de sacerdotes, preparados para irem, por causa de Cristo,
até os confins da terra, mas em tudo o mais haverá uma maior
perseverança, inclusive nas vocações eclesiásticas, um maior zelo
e um maior progresso espiritual porque se formos generosos
para com Deus, Deus será mais generoso para conosco.
Mais ainda, a própria distribuição do clero no mundo far-se-á
de um modo mais natural do que forçado.
Permitam-me, veneráveis padres, trazer-lhes um testemunho.
A diocese na qual exerço ministério, fundada no ano de 1934,
sempre teve suas portas abertas tanto para com as congregações
religiosas, as quais já enviaram seus alunos para todo o mundo, como para com
as dioceses mais pobres. Nos últimos doze anos até mesmo os sacerdotes do
clero secular com alguns seminaristas tem auxiliado as demais dioceses,
principalmente onde há seminários pequenos. As vocações, tanto para a vida
religiosa como para o clero diocesano, não diminuíram de modo algum; ao
contrário, elas aumentaram. A diocese de tornou como um poço onde muitos
vão beber água e a água não falta. E todavia a diocese à qual me refiro não é rica:
somos os menos pobres entre os pobres. Tiramos algo de nossa própria boca
para o bem daqueles que perecem pela necessidade e pela fome espirituais,
o que nos parece ser maior caridade do que doar ao faminto o supérfluo de
uma ceia abundante.
Veneráveis padres, nestes últimos anos nossa América Latina
recebeu muito das dioceses e das ordens e congregações da Europa
e da América do Norte, o que é para nós motivo de máxima gratidão
por tão grande benefício. Mas para que este benefício não cesse,
e para que não haja em vossas dioceses e ordens ou congregações
religiosas avareza espiritual, abri as portas de vossos corações,
dai-nos e ser-vos-á dado. A água das vocações, isto é, a graça de Deus,
não faltará em vossas dioceses e famílias religiosas; ao contrário,
tornar-se-á mais pura e mais salubre. A experiência, mestra da vida, o ensina.
Agora passo à emenda, a qual proponho humildemente,
conforme o desejo de cento e dois bispos de diversas nações,
principalmente do Brasil, cujas assinaturas nos dias passados entreguei à
Comissão sobre os Seminários. Na página 20, no número 20, na linha 6, onde se lê:
|
"Sejam imbuídos por aquele espírito verdadeiramente católico,
pelo qual se habituem a transcender os limites da própria diocese,
nação e rito e contemplem as necessidades de toda a Igreja",
|
|
emende-se desta maneira:
|
"Como cooperadores do verdadeiro Colégio Episcopal,
os quais em Cristo Jesus devem iluminar e salvar todo homem
que vem a este mundo, sejam imbuídos e formados por aquele
espírito verdadeiramente católico, pelo qual se habituem
a transcender os limites da própria diocese, nação e rito e
contemplem as necessidades de toda a Igreja, prontos para
pregarem o Evangelho e a buscar as ovelhas até os últimos
confins da terra".
|
|
Tenho dito. Muito obrigado.
|
Roma, 16 de novembro de 1964
|
|
| |