DEVOÇÃO DE ANTÃO AOS MINISTROS DA IGREJA. EQÜANIMIDADE DE SEU CARÁTER. |
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Era paciente por disposição e humilde de coração. Sendo
homem de tanta fama, mostrava, no entanto, o mais profundo respeito
aos ministros da Igreja, e exigia que a todo clérigo se desse maior
honra do que a ele. Não se envergonhava de inclinar a cabeça diante
de bispos e de sacerdotes. Se algum diácono chegava a ele
pedindo-lhe ajuda, conversava com ele o que lhe fosse proveitoso,
mas, chegando a oração, pedia-lhe que presidisse, não se
envergonhando de aprender. De fato, muitas vezes propôs questões
inquirindo os pontos de vista de seus companheiros, e se tirava
proveito do que dizia o outro, mostrando-se grato.
Também Jacó observou que Labão estava tramando algo contra ele e disse a suas mulheres:
Também Samuel reconheceu Davi porque tinha olhos que irradiavam alegria e dentes brancos como leite (I Sm. 16, 12; Gn. 49, 12). Assim também era reconhecido Antão: nunca estava agitado, pois sua alma estava em paz; nunca estava triste porque havia alegria em sua alma. |
POR LEALDADE À FÉ, ANTÃO INTERVÉM NA LUTA ANTI-ARIANA. |
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Em assuntos de fé, sua devoção era sumamente admirável. Por exemplo, nunca se relacionou com os cismáticos melecianos, sabedor desde o começo de sua maldade e apostasia. Tampouco teve trato amistoso com os maniqueus, nem com outros hereges, à exceção unicamente das admoestações que lhes fazia para que voltassem à verdadeira fé. Pensava e ensinava que amizade e associação com eles prejudicavam e arruinavam a alma. Detestava também a heresia dos arianos, e exortava a todos a não se acercarem deles, nem compartilhar de sua perversa crença. Uma vez, quando alguns desses ímpios arianos chegaram a ele, interrogou-se detalhadamente; e ao aperceber-se de sua ímpia fé, expulsou-os da montanha, dizendo que suas palavras eram piores que veneno de serpentes. |
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Quando numa ocasião os arianos espalharam a mentira de que partilhava de suas opiniões, demonstrou que estava enojado e irritado contra eles. Respondendo ao chamado dos bispos e de todos os irmãos, desceu a montanha e, entrando em Alexandria, denunciou os arianos. Dizia que sua heresia era pior de todas e precursora do anticristo. Ensinava ao povo que o Filho de Deus não é uma criatura nem veio "da não existência" ao ser, mas
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Todo opovo se alegrava ao ouvir semelhante homem anatematizar a heresia que lutava contra Cristo. Toda a cidade corria para ver Antão. Também os pagãos, e inclusive seus assim chamados sacerdotes, iam à Igreja dizendo:
pois assim o chamavam todos. Além disso, também ali o Senhor operou por seu intermédio expulsões de demônios e curas de doenças mentais. Muitos pagãos queriam também tocar o ancião, confiando em que seriam auxiliados, e em verdade houve tantas conversões nesses poucos dias como não tinham sido vistas em todo um ano. Alguns pensaram que a multidão o incomodava e por isso trataram de afastar todos dele, mas ele, sem se molestar, disse:
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Quando se ia, e estávamos nos despedindo dele, ao chegar à porta, uma mulher atrás de nós gritava:
O ancião ouviu-a, rogamos-lhe que se detivesse e ele acedeu com gosto. Quando a mulher se aproximou, sua filha estava arrojada ao chão. Antão orou e invocou sobre ela o nome de Cristo. A moça levantou-se sã e o espirito impuro a deixou. A mãe louvou a Deus e todos renderam graças. E ele também contente partiu para a montanha, para o seu próprio lar. |
A VERDADEIRA SABEDORIA. |
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Tinha também um grau muito alto de sabedoria prática. O admirável era que, ainda que não tivesse educação formal, possuía no entanto engenho e compreensão despertos. Um exemplo: uma vez chegaram a ele dois filósofos gregos, pensando que podiam divertir-se com Antão. Quando ele, que nessa ocasião vivia na Montanha Exterior, catalogou os homens por sua aparência, dirigiu-se a eles e lhes disse por meio de um intérprete
Quando eles lhe contestaram que não era louco, mas muito sábio, ele lhes disse:
Eles se foram, admirados; viram que até os demônios temiam a Antão. |
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Também outros da mesma classe foram a seu encontro na Montanha Exterior e pensaram que podiam zombar dele porque não tinha cultura. Antão lhes disse:
Quando eles expressaram que o sentido é o primeiro e origem da letra, Antão disse:
Isto os assombrou e a todos os circunstantes. Foram-se admirados de ver tal sabedoria num homem iletrado, que não tinha as maneiras grosseiras de quem viveu e envelheceu na montanha, mas era um homem simpático e cortês. Seu falar era sazonado com a sabedoria divina (Cl. 4, 6), de modo que ninguém lhe tinha má vontade, mas todos se alegravam de haver ido em sua procura. |
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E
por certo, depois destes vieram outros. Eram daqueles que
entre os pagãos tem reputação de sábios. Pediram-lhe que
suscitasse uma controvérsia sobre nossa fé em Cristo. Quando
procuravam arguir com sofismas a partir da pregação da divina cruz, a
fim de zombar, Antão guardou silêncio por um momento e,
compadecendo-se primeiro da ignorância deles, disse logo por um
intérprete que fazia excelente tradução de suas palavras:
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"Em referência à cruz, que dizem vocês ser o melhor:
suportar a Cruz, quando homens malvados lançam mão da traição, e
não vacilar ante a morte de maneira ou forma alguma, ou fabricar
fábulas sobre as andanças de Ísis e Osíris, as conspirações de
Tifon, a expulsão de Cronos, com seus filhos devorados e seus
parricídios? Sim, aqui temos sua sabedoria!
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"Mas falem-nos também vocês sobre seus próprios ensinamentos. Que podem, porém, agora acerca de coisas insensíveis, senão insensatezes e barbaridades? Se entretanto, como ouço, querem dizer que entre vocês tais coisas falam em sentido figurado, e assim convertem o rapto de Coré em alegoria da terra; a cólera de Hefestos, do sol; a Hera, do ar; a Apolo, do sol; a Artemísia, da lua, e a Poseidon, do mar, ainda, ainda assim vocês não adoram o próprio Deus, mas servem à criatura em lugar de Deus que tudo criou. Se vocês compuserem tais histórias porque a criação é bela não deveriam ter ido além de admirá-la, e não fazer das criaturas deuses para não dar às coisas criadas a honra do Criador. Nesse caso já seria tempo de darem à casa construída a honra devida ao arquiteto, ou a honra devida ao general, aos soldados. Agora, que têm que dizer a tudo isto? Assim saberemos se a Cruz tem algo que sirva para escarnecer-se dela". |
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Eles estavam desconcertados e davam voltas ao assunto de uma e
de outra forma. Antão sorriu e disse, de novo através de um
intérprete:
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"Os cristãos, por isso, possuímos o mistério, não baseando-nos na razão da sabedoria grega (I Cor. 1, 17), mas fundados no poder de uma fé que Deus nos garantiu por meio de Jesus Cristo. Pelo que toca à verdade da explicação dada, notem como nós, iletrados, cremos em Deus, reconhecendo sua Providência a partir de suas obras. E quanto a ser nossa fé algo efetivo, notem que nos apoiamos em nossa fé em Cristo, enquanto vocês a baseiam em disputas ou palavras sofísticas; seus ídolos fantasmas estão passando de moda, mas nossa fé se difunde em toda parte. Com todos seus silogísmos e sofismas, vocês não convertem ninguém do cristianismo ao paganismo, mas nós, ensinando a fé em Cristo, estamos despojando os deuses do medo que inspiravam, de modo que todos reconhecem Cristo como Deus e Filho de Deus. Com toda sua elegante retórica, vocês não impedem o ensinamento de Cristo, mas nós, à simples menção do nome de Cristo crucificado, expulsamos os demônios que vocês veneram como deuses. Onde aparece o sinal da Cruz, ali a magia e a feitiçaria são impotentes e sem efeito". |
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"Em verdade, digam-nos, onde ficaram seus oráculos? Onde os encantamentos dos egípcios? Onde estão suas ilusões e os fantasmas dos mangos? Quando terminaram estas coisas e perderam seu significado? Não foi acaso quando chegou a Cristo de Cristo? Por isso, será ela que merece desprezo e não, antes, o que ela deitou abaixo demonstrando sua importância? Também é notável o fato de que jamais a religião de vocês foi perseguida; ao contrário, em todas as partes goza de honra entre os homens. Mas os seguidores de Cristo são perseguidos, e sem embargo é a nossa causa que floresce e prevalece e não a sua. Com toda a tranquilidade e proteção de que goza, sua religião está morrendo, enquanto a fé e o ensinamento de Cristo, desprezados por vocês e frequentemente perseguidos pelos governantes, encheram o mundo. Em que tempo resplandeceu tão brilhantemente o conhecimento de Deus? Ou em que tempo apareceram a continência e a verdade da virgindade? Ou quando foi tão desprezada a morte como quando chegou a Cruz de Cristo? E ninguém duvida disto ao ver os mártires que desprezam a morte por causa de Cristo, ou ao ver as virgens da Igreja que por causa de Cristo guardam seus corpos puros e sem mancha". |
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"Estas provas bastam para demonstrar que a fé é a única religião verdadeira. Aqui porém estão vocês, que buscam conclusões baseadas no raciocínio, vocês que não tem fé. Nós não buscamos provas, como diz nosso mestre,
mas persuadimos os homens pela fé que
tangivelmente precede todo raciocínio baseado em argumentos. Vejam,
aqui há alguns que são atormentados pelos demônios".
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OS IMPERADORES ESCREVEM A ANTÃO. |
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A fama de Antão chegou aos imperadores. Quando Constantino Augusto e seus filhos Constâncio Augusto e Constante Augusto ouviram estas coisas, escreviam-lhe como a um pai, rogando-lhe que lhe respondesse. Ele, no entanto, não deu muita importância aos documentos, nem se alegrou pelas cartas; continuou o mesmo que antes de lhe escrever o imperador. Quando lhe levaram os documentos, chamou-os e disse:
Em verdade, nem queria receber as cartas, dizendo que não sabia que responder. Os monges, porém, persuadiram-no manifestando-lhe que os imperadores eram cristãos e que se ofenderiam de ser ignorados; então acedeu a que lhas lessem. E respondeu, recomendando-lhes que prestassem culto a Cristo e dando-lhes o saudável conselho de não apreciar demasiado as coisas deste mundo, mas antes recordando o juízo futuro, e saber que só Cristo é o Rei verdadeiro e eterno. Rogava-lhes que fossem humanos e atendessem à justiça e aos pobres. E eles ficaram felizes ao receber sua resposta. Por isso era amado por todos, e todos desejavam tê-lo como pai. |
ANTÃO PREDIZ OS ESTRAGOS DA HERESIA ARIANA. |
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Argumentando assim de si mesmo, e contestando assim aos que o
buscam, voltou à Montanha Interior. Continuou observando suas
costumadas práticas ascéticas, é muitas vezes, quando estava
sentado ou caminhando com visitantes, quedava-se mudo, como está
escrito no livro de Daniel (4, 16). Depois de algum tempo,
retomava o que estivera dizendo aos irmãos que o acompanhavam e os
presentes apercebiam-se de que havia tido uma visão; pois amiúde
quando estava na Montanha via coisas que aconteciam até no Egito,
como o confessou ao bispo Serapião, quando este se encontrava na
Montanha Interior e viu Antão em transe de visão.
Fazendo-lhes mais perguntas, disse entre lágrimas:
Assim falou o Ancião. E dois anos depois chegou o atual assalto dos
arianos e o saque das igrejas, quando à força se apoderaram dos vasos
e os fizeram levar pelos pagãos; quando também forçaram os pagãos
de suas tendas para irem a suas reuniões, e em sua presença fizeram o
que lhes aprouve sobre a sagrada mesa. Todos então nos apercebemos
que o escoicear de mulas, predito por Antão, era o que os arianos
estão fazendo como bestas brutas.
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