MUDANÇA DE DECORAÇÃO: NO PAGAR ESTÁ O CHORAR.

6.

Porque, estando em casa, feitas suas contas e considerando a enormidade dos gastos, surgem as lamentações. É que quando está satisfazendo seu desejo, como que tomado pelo vinho da vanglória, gastaria a si mesmo por ela, e o homem não pode nem remotamente perceber os prejuízos. Porém voltando para casa, já estando ali o demônio que pintamos, acaba-se toda aquela formosura uma vez desfeita a concorrência e, quando o homem contempla o teatro vazio e quando já não ouve ninguém assobiar e vê que o prejuízo não é fantástico mas que lhe toca diretamente o dinheiro, então é que sente o sabor da cinza.

7.

Mas se porventura gasta mais do que lhe permitia seu patrimônio e fica na miséria e, inclinado sobre seus pés, se vê obrigado a pedir no meio da praça, quando percebe que nenhum dos que antes o aclamavam se aproxima agora nem lhe estende a mão, antes se alegram com sua desgraça (do mesmo modo que antes, mesmo quando o elogiavam se corroíam de inveja e tinham como consolo de seus próprios males a esperança de que aquele homem tão brilhante então viesse a cair um dia na maior desgraça); quando ninguém, repito, se aproxima nem lhe estende a mão, poderá ocorrer alguma desgraça maior? Não é caso para se chorar? O que pode acontecer que seja mais trágico que isso?

8.

Por acaso não conheceis ninguém a quem tenha acontecido isso. E oxalá se tivessem se contentado em não lhe estender a mão; mas, pelo contrário, os mesmos que o enalteceram antes, sufocam-no agora com acusações.

"Por que",
dizem,

"se fez de louco?
Por que ambiciona a glória?
Quem o mandou gostar de prostitutas e farsantes?"

Homem ingrato, tu mesmo não o admiravas? Não o elogiavas e, com teus aplausos e louvores não o induzistes? Não o chamaste um Nilo, um oceano de magnificência? Não consumistes dias inteiros em exaltá-lo com teus elogios? Como, pois, agora mudas repentinamente? E quando seria hora de ter compaixão, tu o acusas mais insistentemente nas mesmas coisas pelas quais o aplaudias. Porque, se quando acusamos com razão, ao vermos castigado o culpado, não somos tão duros que não nos comovamos, não seria mais natural comover-nos quando vemos na desgraça o mesmo que um dia exaltamos? Mas tu o acusas. Por que não o acusavas quando te divertias com o espetáculo, quando, abandonando todos os teus afazeres, passavas ali o dia?