NOVOS PRECEITOS SOBRE A GUARDA DA LÍNGUA

31.

Ensina-o a ser modesto e caridoso. Se percebes que insulta seu acompanhante, não consinta, mas castiga-o livremente. Aquele que sabe que não lhe é lícito injuriar seu próprio escravo, com muito mais razão se guardará de não injuriar ou maldizer o que é livre e igual si. Costura sua boca para toda a maldade. Se notas que calunia alguém, fecha-lhe a boca e força-o a voltar a língua para seus próprios pecados.

32.

Aconselha sua mãe, a pajem e o acompanhante que digam estas mesmas coisas à criança, de forma que todos sejam guardiões e vigiem para que não saia da boca do menino nenhum daqueles maus pensamentos nem atravesse aquelas portas de ouro.

33.

E não pensa, te suplico, que a isto requeira muito tempo. Se desde o início o atacas e ameaças e colocas tantos guardiões, dois meses bastam e tudo se consegue e endireita, e a coisa vem tomar a firmeza do natural.

34.

Desta forma, pois, pode esta porta fazer-se digna do Senhor. Através dela não há de passar torpeza nem grosseria alguma, nem alguma palavra insensata, nem coisa parecida, mas só as que são dignas do Senhor. Se aqueles que instruem na milícia temporal, apenas entram seus filhos nelas já os ensinam a manusear o arco e vestir a clâmide e a montar a cavalo, e a idade não representa obstáculo algum, mais justo é que aqueles que militam na milícia celeste vistam imediatamente todo este magnífico adorno. Aprenda, portanto, a criança a cantar a Deus, para que não se entregue às canções medíocres e às histórias inconvenientes.

35.

Assim esta porta será assegurada, e estes são os cidadãos que hão de se inscrever no registro. Todos os demais deverão ser mortos dentro, como fazem as abelhas com os zangões, e não deverão deixar que saiam e zumbam fora.

LEIS DA PORTA DOS OUVIDOS

36.

Vamos agora a outra porta. Qual é esta? A que está próxima à da boca e tem muito parentesco com ela: a do ouvido. Pela porta da boca saem de dentro os cidadãos e ninguém entra por ela; pela porta do ouvido, ao contrário, entram de fora e não sai ninguém. Estão, pois, entre si estreitamente relacionadas. Com efeito, se a porta do ouvido não deixar pisar seus umbrais nenhum corruptor nem corrompido, não cria grandes dificuldades à boca, pois aquele que não ouve coisas vergonhosas e más, tampouco as fala; assim como, estando a porta do ouvido aberta de par em par a tudo o que vem, prejudicará a outra e levará à turbação todos os de dentro. E talvez fosse conveniente ter dito primeiro tudo que é relacionado a esta porta e ter fechado bem a primeira entrada.

37.

Assim, pois, as crianças não hão de ouvir palavras desonestas, nem dos escravos, nem das pajens, nem das governantas. As plantas precisam de cuidados especiais quando são tenras. Assim também as crianças. Deve-se provê-los, portanto, de boas pajens, afim de que o fundamento, desde a base, seja bom e não se lhes infiltre absolutamente nada mal.