São João Crisóstomo

349 - 407 DC

SOBRE A VANGLÓRIA E A
EDUCAÇÃO DOS FILHOS


A VANGLÓRIA ATACA A IGREJA COMO UMA FERA.

1.

Fizestes o que vos pedi? Rogastes a Deus por nós e por todo o corpo da Igreja, pedindo-lhe que apague o incêndio que provocou a vanglória? Essa vanglória que danifica todo o corpo, que o divide, não obstante sua unidade, em mil pedaços e afasta a caridade! Como uma fera que se lança sobre um corpo nobre e terno e incapaz de defender-se, assim a vanglória cravou seus dentes execráveis e inoculou seu veneno e encheu tudo com seu mau cheiro. Umas partes, depois de despedaçá-las, arrojou ao chão; outras, dilacerou; outras, espremeu entre seus dentes. Se nos fosse dado contemplar com os olhos a vanglória e a Igreja, veríamos um espetáculo lastimável e muito mais espantoso que o dos estádios: o corpo estendido no solo e ela, a vanglória, presidindo desde o alto, dirigindo seu olhar a toda parte, agarrando os que caem, não cedendo um ponto e perdoando jamais.

Quem poderá, pois, afastar de nós essa fera? O mesmo que organizou o combate, a quem havemos de suplicar que envie seus anjos e, prendendo como com cordas a boca insolente e desavergonhada da fera, a afaste assim de nós. Mas o que organizou o combate fará isso, desde que nós, uma vez retirada a fera, não a procuremos novamente. Mas se Ele enviar seus anjos e mandar que a terrível fera se afaste de nós e, uma vez que se tenha afastado e tenha sido encerrada em sua toca, formos nós, embora com mil feridas, e a busquemos novamente e batamos à porta e a aticemos até faze-la sair novamente, Deus não se compadecerá de nós nem nos perdoará. Porque

"quem",
diz a Escritura,

"terá pena do encantador mordido pela serpente
ou dos que se aproximam das feras?"
Ecl. 12, 13