XXI

Os Padres Capadócios
e a Santíssima Trindade




1.

A Trindade segundo os Padres Capadócios.

A essência da doutrina dos Padres Capadócios é que uma única Divindade existe simultaneamente em três modos de ser, ou `hipóstases'.

Gregório Nazianzeno explica a posição afirmando que

"os Três possuem uma única natureza,
isto é, Deus,
o fundador da unidade sendo o Pai,
do Qual e para o Qual
as Pessoas subseqüentes são consideradas".

Ao mesmo tempo em que é excluído qualquer subordinacionismo, o Pai permanece aos olhos dos Capadócios a fonte ou o princípio da Divindade.

Referências:
S. Gregório Nazianzo : Oratio 42, 15.

2.

As Hipóstases Divinas.

Para explicarem como uma única substância pode estar simultaneamente presente em três Pessoas os Capadócios fazem uso da analogia do universal e seus particulares.

São Basílio escreve que

"`Ousia' e `hipóstase' se diferenciam
exatamente como universal e particular,
isto é, como animal e um homem em particular".

Neste sentido, cada uma das Hipóstases divinas é a `ousia' ou a essência da Divindade determinada por suas características particularizantes apropriadas. Para Basílio estas características particularizantes são a "paternidade", a "filiação" e a "potência santificadora" ou "santificação". Os outros Capadócios as definem de uma maneira mais precisa como "não ser gerado", "geração" e "missão" ou "processão".

Assim, a distinção das Pessoas é baseada nas suas origens e relações mútuas.

Anfilóquio de Icônio, primo de São Gregório Nazianzeno e, por intervenção de São Basílio, bispo de Icônio, sugere que os nomes Pai, Filho e Espírito Santo não denotam essência ou ser, mas

"um modo de existência ou relação",

e o Pseudo Basílio argumenta que o termo "não gerado" não representa a essência divina, mas simplesmente o "modo de existência" do Pai.

Destas considerações pode-se perceber como os Padres Capadócios analisaram a concepção de hipóstase muito mais plenamente do que Santo Atanásio.

Referências:
São Basílio :Epistola 38,5; 214,4; 236,6;
Idem : Contra Eunomio 4 (PG 29, 681);
São Gregório Nazianzeno : Oratio 25,16; 26,19; 29,2;
Anfilóquio de Icônio : Frag. 15 (PG 39, 112).

3.

A unidade divina.

A unidade da `ousia', ou Divindade, segue-se da unidade da ação divina que é observada na Revelação:

"Se nós observamos",

escreve S. Gregório de Nissa,

"uma única atividade do Pai,
do Filho e do Espírito Santo,
somos obrigados a inferir a unidade da natureza
pela identidade da atividade;
pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo
cooperam na santificação,
vivificação, conciliação
e assim por diante".

O Pseudo Basílio nota que

"aqueles cujas operações são idênticas
têm uma única substância.
Ora, existe uma única operação do Pai e do Filho,
conforme é mostrado pela passagem

`Façamos o homem
à nossa imagem e semelhança',

ou

`Tudo o que o Pai faz,
o Filho também faz'.

Portanto, existe uma única substância
do Pai e do Filho".

Gregório de Nissa também argumenta que, enquanto os homens devem ser considerados como muitos porque cada um deles atua independentemente, a Divindade é una porque a Pai nunca age independentemente do Filho, nem o Filho do Espírito.

Referências:
São Basílio : Contra Eunomio 4 (PG 29, 676);
São Gregório de Nissa :Quod non sint tres (PG 45, 125).

4.

A indivisibilidade divina.

Em certas passagens os Padres Capadócios parecem relutantes em aplicar a categoria do número à Divindade, considerando a doutrina de Aristóteles que somente o que é material é quantitativamente divisível.

São Basílio insiste que se nós numeramos a Divindade, devemos fazê-lo "reverentemente", afirmando que, se bem que cada uma das Pessoas é designada como uma, Elas não podem ser adicionadas entre si. A razão para isto é que a natureza divina que Elas compartilham é simples e indivisível.

Referências:
São Basílio :De Spiritu Sancto 44.