"Se ouvirdes atentamente a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade especial entre todos os povos, porque minha é a terra, e vós constituireis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa". |
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"Eis que celebrarei uma aliança: diante de todo o povo farei
maravilhas que jamais foram operadas em terra alguma, nem em nenhuma
nação; e todo o povo no meio do qual te encontras, contemplará a
glória do Senhor.
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"Aproximai-vos de Cristo, pedra viva, eleita e estimada por Deus,
também vós, como pedras vivas.
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"O Senhor é digno de receber o louvor e de abrir os selos do Livro,
porque foi imolado e nos remiu para Deus com o seu sangue, e fêz de
nós reis e sacerdotes para o nosso Deus.
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1. |
Antes de tudo o mais, orai ininterruptamente sem jamais desanimar, e dai graças a Deus diante de tudo o que vos acontecer. |
2. |
Meus queridos filhos, por que vos nomear com vossos nomes terrestres e efêmeros? Vós sois filhos de Israel por nascimento, e é esta natureza espiritual que saúdo em vós. |
3. |
Caríssimos, não descuidemos de nossa salvação. Sabei que se alguém se entrega a Deus de todo o coração, Deus tem piedade dele e lhe concede o Espírito de conversão. |
4. |
Sabemos que desde as origens do mundo, os que encontraram na Lei da Aliança o caminho do seu Criador foram acompanhados por sua bondade, sua graça e seu Espírito. Mas os homens, incapazes de exercerem sua inteligência segundo o estado da criação original, inteiramente privados de razão, sujeitaram-se à criatura em vez de servir ao Criador. |
5. |
Mas nossa natureza permanecia imortal. |
6. |
O Criador de todas as coisas, em seu infatigável amor, desejava visitar-nos em nossas enfermidades e em nossa dissipação. Então, por nos amar tanto, Ele humilhou-se e revestindo a imagem de servo, fêz-se obediente até à morte. Nossas iniqüidades foram as suas humilhações e suas chagas, nossa cura. Ele nos reuniu de todos os lugares, ressuscitando nossas almas, perdoando nossos pecados, ensinando-nos que somos membros uns dos outros. |
7. |
Eu vos suplico, irmãos, penetrai-vos bem da maravilhosa economia da salvação. |
8. |
Todo ser dotado de inteligência espiritual, aquele para quem veio o Senhor, deve tomar consciência de sua própria natureza, isto é, deve conhecer-se a si mesmo. |
9. |
Aquele que houver negligenciado seu progresso espiritual e não houver consagrado todas as suas forças a essa obra deve saber com certeza que a vinda do Senhor será para ele o dia de sua condenação. |
10. |
Suplico-vos, irmãos muito amados, não negligencieis a obra de vossa salvação. Está próximo o tempo em que aparecerão à luz do dia as obras de cada um. |
11. |
Seja-vos dado tomar bem consciência da graça que Ele vos deu. Não é a primeira vez que Deus visita as suas criaturas. Ele as conduz desde as origens do mundo e, de geração em geração, mantém cada uma desperta pelos acontecimentos de sua graça. Não negligenciemos, pois, chamar a Deus dia e noite. Fazei violência à ternura de Deus. Do céu Ele vos enviará Aquele cujo ensinamento vos permitirá conhecer o que é bom para vós. |
12. |
Filhos, é na morte que habitamos. Nossa morada é a cela de um prisioneiro. As cadeias da morte nos prendem. |
13. |
Não concedais sono a vossos olhos, nem deixeis que vossas pálpebras dormitem. |
14. |
Oferecei-vos a Deus como vítimas muito puras, e fixai-o com o olhar, pois ninguém, como diz o Apóstolo, se não for puro, pode contemplar a Deus. |
15. |
Filhos, é certo que nossa enfermidade e nossa humilhação são dor para os santos e causa das lágrimas e gemidos que oferecem por nós diante do Criador do Universo. |
16. |
Deus ama para sempre suas criaturas que, imortais por essência, não desaparecem com o corpo. Ele viu a natureza espiritual precipitar-se no abismo e aí encontrar a morte perfeita e total. Em sua bondade, Deus visitou sua criatura por meio de Moisés. Esse Moisés quiz curar essa profunda ferida e levar-nos à comunhão original, porém não conseguiu e partiu. Depois dele vieram os profetas, puseram-se a construir sobre os fundamentos deixados por Moisés, mas, sem chegar a curar a chaga profunda da família humana, reconheceram sua incapacidade. Uma súplica foi então elevada à bondade do Pai em relação a seu Filho Único, pois nenhuma criatura seria capaz de curar a profunda ferida do homem. Ele tomou sobre si esta missão; nossas iniquidades produziram suas humilhações; suas chagas, nossa cura. Ele nos reuniu de um extremo a outro do universo, ressuscitou nosso espírito da terra e nos ensinou que somos membros uns dos outros. |
17. |
Tomai cuidado, filhos, que não se realize para nós a palavra de Paulo: que tenhamos "apenas a aparência exterior da obra de Deus renegando o seu poder". |
18. |
Que corram lágrimas diante de Deus e que todos digam: "Que retribuirei ao Senhor pelo bem que Ele me fêz?". |
19. |
Compreendei bem o que vos digo e declaro: Se cada um de vós não chega a odiar o que é da ordem dos bens terrestres e a isso não renunciar de todo coração, assim como a todas as atividades que daí dependem, se não chega a elevar as mãos e o coração ao Céu para o Pai de todos nós, não é para si a salvação. Mas se fazeis o que acabo de dizer, Deus vos enviará um fogo invisível, que consumirá vossas impurezas e devolverá vosso espírito à sua pureza original. O Espírito Santo habitará em vós, Jesus permanecerá junto de nós e poderemos adorar a Deus como é devido. |
20. |
Enquanto quisermos viver em paz com as coisas do mundo, seremos os inimigos de Deus, de seus anjos e santos. |
21. |
Desde agora eu vos suplico, caríssimos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, não descuideis de vossa salvação; que esta vida tão curta não vos valha a desgraça para vossa vida eterna; que o cuidado com um corpo perecível não oculte o Reino da luz inefável. |
22. |
Meu coração se espanta e minha alma se aterroriza, pois nós mergulhamos no prazer como gente embriagada de vinho, porque nos deixamos distrair por nossos desejos, deixamos reinar em nós a vontade própria e recusamos elevar nossos olhos para o céu buscando a glória celeste. |
23. |
A todos os meus irmãos muito amados, a todos vós que vos preparais para vos aproximardes do Senhor, saúdo nEle, irmãos caríssimos, vossa natureza espiritual. |
24. |
Como são grandes, meus filhos, essa felicidade que vos coube e essa graça concedida a vossa geração. Por causa dAquele que vos visitou, convém que não cedais à fadiga do combate até aquela hora em que vos possais oferecer a Deus como vítimas de uma grande pureza, pureza sem a qual não existe herança celeste. |
25. |
É muito importante que vos interrogueis acerca da natureza espiritual, na qual não há mais nem homem nem mulher, mas somente uma essência imortal que tem um começo e jamais terá fim. Será uma obrigação para vós conhecê-la, e como decaíu totalmente a esse ponto de tamanha humilhação e imensa confusão, num trânsito que não poupou a nenhum de vós. Sendo imortal por essência, foi por causa dela que Deus, vendo-a infeccionada por uma praga irremediável e que, além disso, aumentava prodigiosamente, decidiu em sua clemência visitar suas criaturas. |
26. |
Eu desejaria, pois, que bem o soubésseis, meus queridos filhos no Senhor, que por causa de nossa loucura, Ele tomou a libré da loucura; por causa de nossa morte, Ele tomou e libré de um mortal; e por nós sofreu tanto. Não concedais, pois, caríssimos no Senhor, sono a vossos olhos, nem deixeis que vossas pálpebras dormitem, mas suplicai e fazei violência à bondade de Deus para que Ele venha em nosso socorro e possamos preparar-nos para consolar Jesus por ocasião de sua vinda. |
27. |
Quero que saibais, filhos, quanto sofro por vós quando vejo a profunda decadência que a todos nós ameaça, e quando considero essa solicitude dos santos por nós e as orações que eles fazem continuamente subir, em nossa intenção, a Deus seu Criador. Somos criaturas racionais e nos comportamos irracionalmente, ignorando as múltiplas maquinações do diabo, que percebeu que procuramos tomar consciência de nossa queda e procuramos o meio de escapar às obras más de que ele é cúmplice. |
28. |
Que Deus abra os olhos de vosso coração para que percebais os múltiplos malefícios secretos, lançados todos os dias sobre nós no decorrer do tempo. Faço votos que Deus vos dê um coração clarividente e um espírito de discernimento a fim de vos apresentardes a Ele como uma vítima pura e sem mancha. |
29. |
Tomai este corpo de que estais revestidos, fazei dele um altar, e sobre este altar colocai vossos pensamentos, e sob o olhar do Senhor, abandonai todo mau desígnio, elevai as mãos de vosso coração a Deus, (é o que faz o Espírito quando está operando), e pedi-lhe que vos conceda este belo fogo invisível que sobre vós descerá do Céu e consumirá o altar e suas oferendas. |
30. |
Grande é a vossa felicidade por terdes tomado consciência de vossa miséria e por terdes fortalecido em vós essa invisível essência que não passa com o corpo. |
31. |
Persuadí-vos bem que vosso ingresso e vosso progresso na obra de Deus não são obra humana, mas intervenção do poder divino que não cessa de vos assistir. |
32. |
Empenhai-vos sempre em oferecer-vos a vós mesmos como vítimas a Deus, e acolhei com fervor a força que vos ajuda para tanto. |
33. |
Se vos falo neste tom insistente é porque somos todas criaturas de uma essência que teve um começo mas não terá fim. Aquele que se conhece verdadeiramente não terá dúvida alguma sobre sua essência imortal. |
34. |
Guardai também isso bem presente ao espírito, meus queridos filhos no Senhor, santos filhos de Israel por vosso nascimento. Estai sempre prontos a vos aproximardes do Senhor como vítimas puras, dessa pureza que ninguém pode herdar a não ser que a pratique desde este mundo. |
35. |
Sede, pois, vigilantes, caros filhos, não permitais que vossos olhos durmam nem que vossas pálpebras dormitem, mas clamai dia e noite a vosso Criador para que vossos pensamentos se firmem no Cristo. |
36. |
Na verdade, filhos, acontece que habitamos na própria morada do ladrão e é pelas cadeias da morte que nela estamos presos. Este estado de negligência, de queda, de exclusão da santidade faz não só a nossa perda, mas também o sofrimento dos anjos e dos santos de Cristo, pois nunca lhes demos ainda algum motivo de paz. |
37. |
Que também se abram os ouvidos de vosso coração para que tomeis consciência de vossa miséria. Que aquele que toma consciência de sua vergonha logo se ponha a buscar a glória à qual é chamado; que aquele que compreende a sua morte espiritual bem depressa reencontre o gosto da vida eterna. |
38. |
Foi em conseqüência de nossos inúmeros pecados, de nossas funestas revoltas, de nossas paixões sensuais que a Lei da Promessa se atenuou e as faculdades de nossa alma se enfraqueceram. Por causa da morte a que fomos precipitados, tornou-se a nós impossível atender a nosso verdadeiro título de glória: nossa natureza espiritual. |
39. |
No Senhor eu vos suplico, caros filhos, deixai-vos penetrar
bem pelo que vos escrevo. Voltai vossa alma para vosso Criador.
Perguntai a vós mesmos o que seria possível retribuir ao Senhor por
todas estas graças. É tão grande a sua bondade que Ele quiz que o
próprio Sol se ponha a nosso serviço nesta habitação de trevas,
assim como a Lua e as estrelas, para sustentar fisicamente um ser cuja
fraqueza o condenaria a perecer. Não sofreram
por nós os patriarcas? Não nos dispensaram os sacerdotes os seus
ensinamentos? Não combatiam por nós os juízes e reis? Não foram
mortos por nós os profetas? Não sofreram os Apóstolos
perseguição por nós? E não morreu por todos nós o Filho bem
amado?
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40. |
Filhos caríssimos no Senhor, queirais permanecer prontos a vos oferecerdes a vós mesmos como vítimas de toda pureza. |
41. |
Nosso Criador, em sua bondade, quiz reconduzir-nos a nosso
estado original que jamais deveria ter desaparecido. Ele não se
poupou, mas visitou suas criaturas para salvá-las todas.
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42. |
Também eu, o mais miserável de todos, que estou escrevendo esta carta, desperto de meu sono de morte, passei o mais luminoso dos dias que me foram concedidos na terra a me perguntar, com pranto e lágrimas, com que poderia retribuir ao Senhor por tudo o que Ele me fêz. |
43. |
Meus caríssimos no Senhor, a vós que sois co-herdeiros dos santos, rogo que desperteis em vosso coração o temor de Deus. Preparemo-nos, pois, santamente, e purifiquemos nosso espírito para sermos puros a receber o batismo de Jesus e a nos oferecermos como vítimas agradáveis a Deus. O Espírito Consolador, recebido no Batismo, nos conduzirá a nosso estado original. |
44. |
Verdadeiramente nada nos faltou em tudo o que Ele empreendeu por nossa miséria. Deu-nos anjos como servidores, a seus profetas ordenou que nos instruíssem por seus oráculos, a seus apóstolos prescreveu que nos evangelizassem. Mais ainda, pediu a seu Filho único que tomasse, por nossa causa, a condição de escravo. |
45. |
O
homem dotado de razão que se prepara para a libertação que
lhe trará a vinda de Jesus deve conhecer o que é segundo a sua
natureza espiritual. Deus não veio somente uma vez visitar suas
criaturas. Desde a origem, a Lei da Aliança encaminhou muitos para
o Criador e ensinou-lhes como adorar a Deus convenientemente. Mas a
extensão do mal, o peso do corpo, as paixões perversas tornaram
impotente a Lei da Aliança e deficientes os sentidos interiores.
Impossível recobrar o estado da criação primeira. Por isso é que
Deus, em sua bondade, proporcionou-lhes aprender, pela Lei
escrita, como adorar o Pai.
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46. |
Caros irmãos, chamados a partilhar da herança dos santos, agora estais próximos de todas as virtudes. Todas elas vos pertencem se não vos embaraçais na vida carnal, mas permaneceis transparentes diante de Deus. É a pessoas capazes de me compreender que escrevo, a pessoas em condições de se conhecerem a si mesmos. Quem se conhece, tem a obrigação de adorar a Deus como convém. |
47. |
Digo-vos, em verdade, caros filhos, que esta palavra de salvação e de liberdade está longe de se ter esgotado. Entrar no detalhe do assunto seria preparar um longo discurso, e está escrito: "Dá um pouco ao sábio e ele se tornará ainda mais sábio". Breves palavras bastam para nos consolar. Uma vez que o espírito as apreendeu, não há necessidade das palavras freqüentemente ambíguas de nossa boca. |
S. Antão |