Capitulo 4. Quais são os instrumentos das boas obras.

Primeiramente,

"Amar o Senhor Deus
com todo o coração,
com toda a alma,
com todas as forças".

Depois,

"Amar ao próximo como a si mesmo".

Em seguida,

"Não matar.
Não cometer adultério.
Não furtar.
Não cobiçar.
Não levantar falso testemunho.
Honrar todos os homens,
e não fazer a outrem
o que não quer que lhe seja feito".

Abnegar-se a si mesmo
para seguir a Cristo.
Castigar o corpo.
Não abraçar as delícias.
Amar o jejum.
Reconfortar os pobres.
Vestir os nus.
Visitar os enfermos.
Sepultar os mortos.
Socorrer na tribulação.
Consolar o que sofre.
Fazer-se alheio às coisas do mundo.
Nada antepor ao amor de Cristo.

Não satisfazer a ira.
Não reservar tempo para a cólera.
Não conservar falsidade no coração.
Não conceder paz simulada.
Não se afastar da caridade.
Não jurar para não vir a perjurar.
Proferir a verdade de coração e de boca.
Não retribuir o mal com o mal.
Não fazer injustiça,
mas suportar pacientemente
as que lhe são feitas.
Amar os inimigos.
Não retribuir com maldição
aos que amaldiçoam,
mas antes abençoá-los.
Suportar perseguição pela justiça.
Não ser soberbo.
Não ser dado ao vinho.
Não ser guloso.
Não ser apegado ao sono.
Não ser preguiçoso.
Não ser murmurador.
Não ser detrator.
Colocar toda a esperança em Deus.
O que achar bem de si,
atribuí-lo a Deus e não a si mesmo.
Mas, quanto ao mal,
saber que é sempre obra sua
e a si mesmo atribuí-lo.

Temer o dia do juízo.
Ter pavor do inferno.
Desejar a vida eterna
com toda a cobiça espiritual.
Ter diariamente diante dos olhos
a morte a surpreendê-lo.
Vigiar a toda hora os atos de sua vida.
Saber como certo que Deus o vê
em todo o lugar.
Quebrar imediatamente de encontro ao Cristo
os maus pensamentos que advém ao coração
e revelá-los a um conselheiro espiritual.
Guardar sua boca da palavra má ou perversa.
Não gostar de falar muito.
Não falar palavras vãs
ou que só sirvam para provocar riso.
Não gostar do riso excessivo ou ruidoso.
Ouvir de boa vontade as santas leituras.
Dar-se freqüentemente à oração.
Confessar todos os dias a Deus na oração,
com lágrimas e gemidos,
as faltas passadas
e daí por diante emendar-se delas.
Não satisfazer os desejos da carne.
Odiar a própria vontade.
Obedecer em tudo as ordens do abade,
mesmo que este, o que não aconteça,
proceda de outra forma,
lembrando-se do preceito do Senhor:

`Fazei o que dizem,
mas não o que fazem'.

Não querer ser tido como santo
antes que o seja,
mas primeiramente sê-lo
para que como tal o tenham
com mais fundamento.

Pôr em prática diariamente
os preceitos de Deus.
Amar a castidade.
Não odiar a ninguém.
Não ter ciúmes.
Não exercer a inveja.
Não amar a rixa.
Fugir da vanglória.
Venerar os mais velhos.
Amar os mais moços.
Orar, no amor de Cristo, pelos inimigos.
Voltar à paz, antes do pôr do sol,
com aqueles com quem teve desavença.
E nunca desesperar de misericórdia de Deus.

Eis aí os instrumentos da arte espiritual. Se forem postos em ação por nós dia e noite sem cessar e devolvidos no dia do juízo, seremos recompensados pelo Senhor com aquele prêmio que Ele mesmo prometeu:

"O que os olhos não viram,
nem os ouvidos ouviram,
isto preparou Deus
para aqueles que o amam".

I Cor. 2, 9

São, porém, os claustros do mosteiro e a estabilidade na comunidade a oficina onde executaremos diligentemente tudo isso.