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Para evitar suspeitas e fofocas, Pedro não aceitava mulheres no seu
hospital, ainda que, no seu ardor apostólico, nunca tivesse querido
excluir alguém dos seus cuidados, fosse qual fosse a raça ou o sexo a
que pertencesse. Todavia, serviu-se de mulheres Terciárias
franciscanas para uma colaboração no seu apostolado, sobretudo para o
ensino e a catequese dos meninos. É quase certo que ele pensava em
providenciar, num segundo momento, a enfermaria para mulheres, uma
vez que fosse constituída regularmente a comunidade dos Irmãos
Betlemitas e se pudesse tomar as medidas necessárias para separar os
enfermos dos dois sexos. Sua morte precoce não lhe permitiu executar
esse projeto, mas seguramente ele deve ter falado sobre isso com seu
sucessor Rodrigo, considerando que este, em menos de um ano da morte
de seu venerado Pai, já tinha adquirido um terreno e erigido uma
enfermaria para mulheres, com a assistência de Terciárias
franciscanas que rapidamente se converteram em muitas Betlemitas.
A história conta que D. Agostina Delgado e sua filha, D. Maria
Anna de Teba e Moratalla [75], cujo nome mudou, depois, para o
de Irmã Mariana de Jesus, foram as primeiras duas mulheres a se
unirem aos Betlemitas e a darem início ao ramo feminino desta Ordem,
que é a única que ainda existe.
Elas eram duas senhoras que ficaram viúvas e que, não tendo filhos,
desejavam empregar sua vida na ajuda ao próximo. Tinham ficado
fascinadas com a heróica caridade de Pedro de Betancur e
provavelmenteo teriam ajudado no seu apostolado; tendo ele morrido de
repente e estando pronto o hospital que havia desejado, elas se
voltaram para frei Rodrigo, oferecendo-se para compartilhar
totalmente a vida dos Irmãos Betlemitas
Ninguém melhor que o sucessor de Pedro queria e podia interpretar as
intenções do Fundador e, certamente guiado pelas diretrizes que ele
lhe tinha deixado, pensou em executar do modo mais conveniente tudo
quanto Pedro não tinha podido realizar pessoalmente.
Alugou uma casa pobre e humilde nas vizinhanças do hospital, por
cinquenta pesos ao ano, para onde as duas senhoras se transferiram para
viver num pequeno quarto, utilizando o restante da habitação como
enfermaria para mulheres. Em pouco tempo, aquela pequena sala, anexa
ao hospital, foi crescendo e não só vieram novas enfermas e
convalescentes, mas também muitas jovens que desejavam ajudar na obra
de caridade. Houve ricos habitantes que, impressionados com o
trabalho tenaz dessas mulheres e com as condições precárias em que
viviam, quiseram ajudá-las, entre os quais D. Sancho Alvarez de
Astúrias e Nava, que pagou as despesas para a construção de uma
bela sala arejada e com um pequeno oratório ao lado. Para
diferenciá-lo do hospital dos Betlemitas, que era aquele dos
homens, a este foi dado o nome de "Pousada Belém".
Imediatamente levantaram-se os ciúmes infundados da Ordem
Franciscana e como se exigia em vão que os Irmãos deixassem o
hábito dos Terciários ou se integrassem completamente aos
franciscanos (e, assim, desapareceria a nascente comunidade
Betlemita), agora se pretendia o mesmo das Irmãs. Diante desse
dilema, que lhes causou grande pena, elas seguiram o exemplo dos
homens e mudaram o hábito, para usar um que fosse em tudo semelhante
ao dos Betlemitas.
O Instituto prosperou material e espiritualmente; várias jovens
solicitaram a admissão e, quando se chegou a um número suficiente,
formaram a comunidade. Fecharam-se em clausura, nomearam uma
Prefeita e se empenharam em observar exatamente as Constituições dos
Padres, aprovadas pelo Bispo, adaptadas ao seu sexo, sob a
direção espiritual do Padre Geral, em cujas mãos emitiram
regularmente os votos religiosos. Sua Santidade, o Papa Clemente
X, em 1674, aprovando a Companhia dos Irmãos Betlemitas e as
suas constituições, reconheceu, em união com eles, também as
mulheres. Estas se mantiveram sempre fiéis a seus empenhos religiosos
mas, pela prática jurídica em vigor naquele tempo, não puderam
nunca obter da Santa Sé um reconhecimento autônomo, pois teriam que
renunciar ao apostolado e tornar-se um Mosteiro regular com votos
solenes e estrita clausura. Assim, a vida dessas irmãs, então
chamadas "Beatas de Belém", prolongou-se no tempo à sombra dos
Irmãos Betlemitas, dos quais dependeram sempre, vivendo na caridade
e na humildade o espírito e as Regras que encarnavam o carisma de
Pedro de Betancur.
Passaram-se anos e em 1773, a cidade de "Santiago dos
Cavaleiros da Guatemala" foi destruída pelos famosos terremotos de
Santa Marta, assim chamados porque se verificaram em 29 de julho,
dia em que a Igreja celebra a dita Santa; seus belos templos, suas
casas elegantes e senhoriais, tudo veio abaixo, e os habitantes e as
autoridades, então cansados de construir e reconstruir seus edifícios
devido aos constantes terremotos, decidiram transferir a cidade para um
vale vizinho, que parecia oferecer maior segurança. Foi assim que a
cidade capital passou ao vale da ermida da Virgem (ainda chamado
"Das Vacas" por causa de um rio que leva esse nome e que o
atravessa), para onde se transferiu, em 29 de dezembro de
1775, o Município.
A ordem Betlemita, que então havia se estendido em muitas partes do
mundo, tinha na Nova Guatemala, duas casas: o convento de Belém
para os Irmãos e o Beatério de Belém para as Irmãs.
Quando, em 1820, as Cortes de Cádiz emitiram os decretos de
supressão para todas as Ordens religiosas e, portanto, também para
os Betlemitas, subsistiu na Guatemala, por um privilégio
particular, o Convento de Belém, com apenas três Irmãos, e o
Beatério das mulheres. Estes continuaram a desenvolver uma atividade
educativa nas escolas públicas e privadas, distinguindo-se sempre
pelo método e pela capacidade de ensino.
Em 1838, por um providencial desígnio divino, entrava para as
Beatas de Belém uma mocinha guatemalteca, Vincenza Rosai, que
recebia do velho Prior dos Betlemitas, Frei José de São
Martinho, o hábito religioso e assumia o nome de Maria
Encarnação. A jovem estava sedenta de perfeição e recolhimento e
o Beatério, naquela época, se ressentia, ao contrário, das
dolorosas vicissitudes históricas, tendo decaído da fervorosa
observância.
Irmã Maria Encarnação Rosai, no espaço de poucos anos, ocupou
os principais cargos do Convento, entre os quais o de mestra das
noviças e pôde, assim, formar, de acordo com suas aspirações, as
jovens Religiosas. Perfilou-se nela, sempre mais claramente, a
ideia de uma reforma para reconduzir o Instituto de Belém à
primitiva observância, conforme o espírito genuíno do Fundador.
Como as Religiosas regulavam sua vida segundo um resumo das Regras
dos Padres Betlemitas e este foi considerado insuficiente para viver
uma vida autenticamente religiosa, Madre Encarnação se sentiu
inspirada a escrever novas Constituições, sob o conselho e ordem que
ela pediu ao Bispo. Sem ter nunca conhecido, até então, o texto
completo das Regras dos Betlemitas, ela redigiu Constituições em
tudo semelhantes àquelas.
Depois de sua aprovação pelo mesmo Bispo, quando ela as apresentou
à comunidade, esta não quis aceitá-las.
Foi assim que se tornou necessário escolher um grupo de religiosas já
formadas diretamente por ela no noviciado para viver, num outro
ambiente, uma vida regular reformada. Foi para Quezaltenango, onde
fundou um novo Convento, com escola e internato para meninas e, mais
tarde, também com enfermaria para convalescentes.
A perseguição política de 1874 constrangeu-as a expatriar-se
para a Costa Rica, onde não puderam mais continuar o apostolado de
enfermagem, proibido aos religiosos pela maçonaria, e se dedicaram
exclusivamente ao ensino. Caçadas também na Costa Rica, sempre
pela perseguição política, foram para a Colômbia, onde o
Instituto se expandiu rapidamente. Morta a Madre Encarnação em
24 de agosto de 1886, a Madre Inácia Gonzalez, sobrinha da
Madre e sua sucessora no governo, cumpriu a missão que ela não pôde
realizar pessoalmente: ir a Roma para obter o reconhecimento jurídico
da Santa Sé. Isso aconteceu em 1891, com Decreto de Louvor
e, em 1909, com a aprovação definitiva das Constituições.
Assim a Congregação Betlemita, por uma evolução histórica,
permaneceu dedicada unicamente à instrução e educação da
juventude, à assistência social e à catequese.
Roma reconhecia, pela primeira vez de modo autônomo, o Instituto
das Irmãs Betlemitas que, na realidade, vivia há mais de dois
séculos, e a aprovava juridicamente como um "novo Instituto",
dando-lhe a fisionomia própria de todas as Congregações que,
naquela época, passavam da vida de clausura àquela apostólica e eram
reguladas pelo novo Direito Canônico. Assim se afirmava um ramo
feminino da Ordem Betlemítica que tinha encontrado em Pedro
Betancur aquilo que o havia feito viver, na força de um carisma
fundacional que se inspirava no mistério da Encarnação do Verbo na
sua primeira manifestação em Belém.
Madre Encarnação, a Betlemita mais fiel ao espírito de Pedro,
brilha ainda hoje, ao lado da figura do Pai, como Aquela que salvou
e quase reconstituiu a Ordem, no seu ramo feminino, garantindo-lhe a
aprovação jurídica e enriquecendo-a ulteriormente com seu carisma
pessoal que a fez descobrir, desde o berço em Belém, o mistério de
amor e dor do Coração de Cristo.
As Betlemitas hoje estão presentes com sua atividade educativa,
assistencial e missionária nas Américas, com Casa Geral em
Bogotá (Colômbia); na Itália, com 15 casas; na África
(Camarões) e na Índia (Andhra Pradesh).
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