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Deus lhe revelava as necessidades até mesmo das pessoas que não
tinham se confiado a ele.
Certa manhã, saindo para suas visitas cotidianas aos necessitados,
recebeu um aviso divino referente a um seu conhecido que se encontrava
em grave dificuldade. Sentiu no coração um forte impulso e dirigiu
seus passos pela Avenida do Calvário para chegar à ponte dos
Remédios, em cujas vizinhanças se encontrava a casa do infeliz.
De fato, um bom homem de nome Juan, trabalhador exemplar na sua
ocupação de sapateiro, se encontrava em grave dificuldade
econômica: na verdade, não tinha podido pagar suas dívidas, razão
pela qual estava a ponto de perder a casa e a pequena oficina - que
constituíam tudo o que tinha - e, consequentemente, a segurança de
sua família, composta pela mãe, pela esposa e por seis filhos ainda
pequenos.
Quando Pedro chegou à casa de Juan, este, desesperado, pensava no
suicídio como único remédio possível e ficou muito surpreso ao
vê-lo. Não havia dito nada, antes, sobre essas aflições a Frei
Pedro para não preocupá-lo, mas nesse momento lhe abriu o coração
e desabafou, confessando-lhe que pensava em suicidar-se naquele mesmo
dia.
Com bondade e compreensão, Pedro o levou a perceber, de maneira
razoável, o erro de pensar no suicídio como solução e lhe perguntou
de quanto precisava para resolver sua situação, pois ele ira fazer o
possível para ajudá-lo.
Juan sabia muito bem que Pedro não podia ter aquela soma: mil pesos
de prata correspondiam ao valor de que ele precisava com urgência...
e, então, poderia continuar a trabalhar para lhe pagar.
Pedro lhe pediu que rezasse com ele por um momento; os dois se
ajoelharam e pediram fervorosamente que Deus viesse em seu socorro.
Então, Pedro se levantou e fez sinal para que ele esperasse durante
alguns minutos que ele voltaria logo com a ajuda desejada.
Saiu da casa e se dirigiu à ponte dos "Remédios". Ali, seus
olhos buscaram ansiosamente até encontrar o objeto desejado: era uma
lagartixa, que curtia o sol sobre uma pedra. Pegou-a com cuidado
entre as mãos e o animalzinho se deixou apanhar sem se mover;
envolveu-a num pedaço de papel que encontrou ali perto e voltou para
onde Juan o estava esperando. Entregou-lhe o pacote, recomendando
que não o abrisse e que o levasse à casa de D. Juan de Onate,
famoso joalheiro da cidade que, com aquele penhor, lhe daria os mil
pesos necessários. Em seguida, acrescentou: "Quando tiveres
restituído ao joalheiro os mil pesos que te dará, retira o penhor e
traze-o de volta".
Sabendo que Frei Pedro era pobre, Juan ficou curioso de saber que
coisa de tão grande valor aquele pacotinho continha para ser
verdadeiramente avaliado em mil pesos de prata, mas se absteve de
abri-lo, dirigindo-se à rua dos Ourives, até a casa do joalheiro
indicado, o qual, além de possuir a melhor joalheria da cidade, era
agiota.
Contou-lhe o que tinha acontecido, entregando-lhe o precioso
embrulho. Qual não foi a surpresa dos dois quando, abrindo-o,
encontraram uma belíssima jóia em forma de uma lagartixa toda de ouro
e cravejada de diamantes e esmeraldas! Aquela era uma jóia de alto
valor e ficou claro, então, que os mil pesos necessários seriam
recebidos.
Todo feliz, Juan foi pagar suas dívidas. E a partir daquele dia,
como que por mágica, seu trabalho aumentou de tal maneira que antes de
um ano se viu em condições de restituir ao joalheiro os mil pesos
emprestados e resgatar a lagartixa de esmeraldas que foi entregar a
Frei Pedro.
Este, naquele momento, se encontrava em um jardim próximo à cela em
que dormia. Vendo Juan, compreendeu o motivo de sua visita e, sem
que ele precisasse explicar-lhe coisa alguma, pegou com cuidado o
pacote que o outro lhe entregava, abriu-o e, com a jóia entre as
mãos, disse com doçura franciscana:
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- "Rendamos graças a Deus e à irmão lagartixa que nos foi
útil".
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Em seguida, assoprou sobre ela, colocou-a no chão e, diante dos
olhos incrédulos daquele bom homem - que nunca deixou de contar esse
prodígio por todo o tempo em que viveu -, aquela preciosa jóia em
forma de lagartixa de ouro e esmeraldas moveu rapidamente a cauda,
readquiriu vida e desapareceu rastejando entre as plantas do pequeno
jardim de Frei Pedro.
Numa outra vez, Pedro percebeu misteriosamente que uma mulher doente
estava prestes a morrer de fome. Ele estava distribuindo a comida e o
atol aos seus enfermos quando, de repente, disse a seus acompanhantes
que tinha que ir a uma casinha situada no alto de uma colina distante
porque lá vivia alguém que precisava de ajuda. Fizeram-lhe notar
que naquele lugar não podia viver ninguém, que era uma casinha
abandonada havia muito tempo, mas ele insistiu e para lá se dirigiu.
Encontrou uma mulher idosa, com os sinais do fim no rosto, e que, ao
vê-lo aparecer com a comida na mão, lhe disse:
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- "Santo Deus, quem te disse que não como há vários dias"?
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Havia um homem honesto, um humilde operário que ajudava muito Frei
Pedro com o trabalho de suas mãos. Chamava-se Joseph de Santa
Cruz. Ele e sua família eram muito pobres, mas nem por isso
deixavam de ajudá-lo com o pouco que podiam. Uma vez, sua pobreza
chegou a tal ponto que, tendo se acabado os sapatos da mulher de
Joseph, ele não tinha dinheiro para lhe comprar outros. Nesse
momento de necessidade, recorreu a Pedro para pedir-lhe emprestado um
peso, sem lhe dizer o motivo. Pedro lhe deu dois e Joseph,
percebendo isso, queria devolver-lhe um, mas Pedro, sorrindo, lhe
disse:
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- "Só um peso não é suficiente para comprar os sapatos, precisa de
mais um para os cordões". [56]
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