CAPÍTULO XV. A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES.

Considerando que as necessidades eram muitas e o número de pobres tinha aumentado, verificava-se com frequência, por meio dele, o milagre da multiplicação dos pães. Saía de manhã com sua famosa panela de atol (bebida especial) e todos se maravilhavam diante do fato de que, por mais que andasse a distribuir sua chávena de atol aos enfermos, convalescentes, escravos e prisioneiros, a todos, enfim, ao retornar, sempre sobrava.

Uma vez prometeu aos meninos que estudavam na sua escola que, se aprendessem bem a lição, seriam premiados com uma cana de açúcar que lhe haviam trazido. Os meninos, gulosos, ao saberem disso, correram todos à escola e estudaram tenazmente; assim, o Irmão Pedro, fiel à sua promessa, cortou a cana - dado que tinha só uma - em cinco pedaços, colocou-os em alguns alforjes, nos quais esse milagre da multiplicação era mais frequente, e procedeu à distribuição. Alguns meninos, que o tinham visto colocar somente cinco pedaços, ficaram tristes porque compreenderam que não seriam suficientes para todos, mas sua surpresa não teve limites quando viram que ele retirava primeiro um, depois outro, outro ainda... e continuou até retirar cinquenta pedaços, ou seja, até quando não ficou um único menino sem o seu. [49]

Exemplos especiais desse milagre da multiplicação misteriosa são a despensa e os seus alforjes. Para alimentar seus pobres, pôs à disposição uma despensa de víveres e um guarda-roupa, que estavam sempre abastecidos de alimentos e roupas, ainda que na maior parte das vezes fossem ignorados os meios de que se servia para seus suprimentos abundantes. Recebia alguma coisa de esmola, certa ajuda da parte de gente rica, mas era voz geral que a origem fosse divina.

Além disso, também distribuía ervas medicinais e outros preparados entre os doentes, coisas de que tinha uma boa provisão em seu hospital. Mantinha uma boa quantidade de roupas sempre brancas e limpas, que dava aos pacientes quando saíam dos hospitais e entravam no seu para a convalescença. Fazia isso dizendo que era para lhes dar a possibilidade de ter alguma coisa para se trocarem e encontrarem, assim, alívio no asseio.

Muita gente o chamava para padrinho de batismo dos próprios filhos e era costume, então, que, depois da cerimônia, os pais homenageassem os padrinhos, os amigos e os parentes participantes com doces e outras delícias feitas em casa, especialmente doces do "café da manhã". No momento da distribuição desses doces, Frei Pedro estendia seu manto no chão para que ali os colocassem não só os genitores, mas também os convidados que, sabendo que eram para os pobres e convalescentes, lhe davam de boa vontade. Em seguida, pegava o manto pelas abas e o carregava como um saco sobre os ombros, chegando muito feliz ao seu hospital para distribuir a carga doce, que era sempre suficientemente abundante para incluir os meninos da escola.

Conta-se também que houve um menino, órfão de pai e mãe e sem outros parentes, que Frei Pedro levou para batizar, dando-lhe o nome de Ignácio Antonio Betancur. A estória nos relata que, no dia do batismo na Catedral, o sacerdote que celebrava, vendo a alegria com que Pedro carregava o menino e reparando na igualdade do sobrenome, pensando que era seu parente, lhe disse:

- "Hoje o Irmão Pedro se mostra muito feliz".

Ouvindo isso, Pedro, que tinha um coração tão puro quanto nobre, para dissipar qualquer dúvida que pudesse passar pela mente do sacerdote, explicou-lhe a origem do menino, acrescentando:

- "Lembra-te que este deverá ser um bom sacerdote".

Esta profecia se cumpriu, pois efetivamente o menino sentiu no seu coração, à medida que crescia, o chamado de Deus e tornou-se sacerdote, servindo na mesma catedral em que tinha sido batizado. [50]

Um dia, durante a festividade de São José, que era seu santo, chegou uma grande quantidade de gente ao seu hospital para cumprimentá-lo e felicitá-lo. Seus pobres, de modo especial, iam humildemente beijar-lhe o manto ou a extremidade do hábito e ele, manifestando a bondade e o amor do seu coração, quis festejar com todos mesmo que fosse apenas com um pedaço de pão. O pão que tinha era pouco para tanta gente, apenas alguns bolinhos daquele famoso "pão adormecido" que ainda hoje fazem em Antígua e que lhe tinham levado de presente; mesmo assim, colocou-o numa cesta que cobriu com uma toalha branca, alertando para que não o tirassem, mas que pegassem o pão necessário só através da borda.

Durante o dia todo, a quem quer que chegasse era oferecido um pão delicioso, perfumado e tépido como se tivesse acabado de sair do forno... e a cesta permaneceu cheia como se não tivesse sido tirado um único pão. [51]

Um daqueles senhores que contribuíam para suas obras de caridade deu-lhe trinta alqueires de trigo e ele o entregou a um padeiro conhecido para que o guardasse na sua loja e lhe fosse dando conforme a necessidade. Todos os dias, por muitos meses, pegavam farinha para o pão até que, um dia, a mulher do padeiro, indo à loja, notou com surpresa que a farinha de Frei Pedro parecia não ter diminuído. Curiosa, na primeira ocasião em que pode encontrá-lo, perguntou-lhe:

- Irmão, que espécie de grão é este que em vez de acabar aumenta?

O Irmão Pedro não quis dar nenhuma explicação, mas como ela, tomada pela curiosidade, insistisse ainda por três vezes, respondeu-lhe com estas palavras:

- "Cala-te, não te intrometas nas coisas de Deus". [52]

D. Miguel de Ocojo era um rico e incrédulo habitante da Guatemala. Tinha ouvido falar muito de Frei Pedro e de seus milagres e, para se certificar deles e querendo lhe fazer uma piada de mau gosto, convidou-o para um café da manhã com vários amigos, que tinham sido avisados de suas intenções.

Depois da refeição, durante a qual Pedro comeu frugalmente, disse-lhe, diante de todos e com a voz mais sonora possível, que o presenteava com todo o pão que tinha sobrado - e havia muitos, dispostos em grandes cestos sobre a mesa - sob a condição de que o levasse unicamente dentro dos alforjes ou bolsas que trazia.

Esses famosos alforjes eram bastante pequenos, comuns, iguais aos usados pelos homens do campo para levar suas coisas e o alimento. Não se diferenciavam em nada, exceto por seu extraordinário poder de fazer acontecer fatos incríveis. Considerando que as bolsas eram pequenas, D. Miguel de Ocojo calculou que ali entrariam no máximo doze ou quinze pães.

O Irmão aceitou, agradeceu antecipadamente em nome de Deus e de seus pobres, e começou a encher seus alforjes, ali colocando doze, quinze, vinte pães e continuou a encher e encher... até que acabou todo o pão que havia na casa. Depois, foi embora feliz, deixando D. Miguel e seus amigos de boca aberta pelo assombro. [53]

Esse fato maravilhoso chegou aos ouvidos de uma mulher chamada Isabel Garcia, proprietária de uma padaria. Querendo ela também comprovar a verdade do ocorrido - que se espalhou rapidamente pela cidade -, convidou Frei Pedro para ir até lá receber alguma coisa e lhe disse:

- "Eu lhe dou, Frei Pedro, todo o pão da minha padaria sob a condição de que o faça entrar inteiramente na sua bolsa".

- "Portanto, eu aceito e agradeço",

respondeu Pedro com sua habitual alegria.

Dito e feito, começou a introduzir pão nos seus alforjes e continuou até que pegou todo o pão que se encontrava sobre as prateleiras e balcões da padaria... e, quando acabou, disse que ainda havia lugar para outro.

Numa de suas visitas a outra padaria para pedir pão para os pobres, encontrou a empregada, uma escrava negra da proprietária da padaria, chorando e com o nariz sangrando. Tendo Pedro lhe perguntado o que tinha acontecido, ela contou que sua patroa, D. Josefa Barrientos, a tinha castigado duramente porque havia esquecido o pão no forno, fazendo com que ele se queimasse todo. Comovido, Frei Pedro entrou e pediu à escrava, a D. Josefa e aos paroquianos que naquele momento se encontravam na padaria que o acompanhassem para rezar à Virgem diante do forno cheio de pão queimado. Assim fizeram todos e, pouco depois, diante de seus olhos estupefatos, aquele pão, que já era carvão, recuperou sua cor branca e dourada, até ficar mais apetitoso e perfumado que nunca. [54]