TERCEIRA PARTE


CAPÍTULO XIII. MORTIFICAÇÕES, PENITÊNCIAS E SACRIFÍCIOS.

A obra de Pedro prosseguia lentamente: o hospital, além do convento e da igreja, tudo ia tomando forma e a fama de Pedro ultrapassava os limites da cidade. Homens, mulheres e crianças acorriam de toda parte, alguns para ajudá-lo ou simplesmente pedir sua bênção, outros, afligidos por graves problemas, para pedir conselho e ajuda material.

Àqueles que vinham de longe ou que eram muito pobres dava hospitalidade e alimento. Certo dia, vieram tantos que não era possível contê-los no espaço limitado de que dispunham. Um dos irmãos terciários observou-lhe que havia gente demais, sendo que muitos pareciam vagabundos que queriam se aproveitar dele. O irmão Pedro, com grande humildade, respondeu a essa observação:

- "Irmão, eu sou o vagabundo, estes, ao contrário, são os pobres de Jesus Cristo".

Por sua grande humildade, observava as virtudes da temperança e da fortaleza; era muito frugal na alimentação, que consistia em ervas, pão e água. Para mortificar-se, preparava uma sopa de água fervente e aloés, que é muito amarga, e a tomava com as sobras do pão que dava aos pobres, sobras quase sempre duras e velhas.

Uma vez em que tinham se reunido todos os Terciários que o ajudavam na obra, vendo-o um pouco distraído, perguntaram-lhe em que estava pensando.

- "Estou pensando - respondeu-lhes - que me sentiria muito feliz se, montado num asno, com o pregoeiro ao lado e ao som de uma trombeta, passasse pela praça, dando-me chicotadas por amor de Deus".

Durante a Quaresma, procurava obter fel de cordeiro e, como Jesus na cruz, bebia água com fel e vinagre. Certa vez, quando vários irmãos o olhavam maravilhados enquanto tomava essa bebida, disse-lhes:

- "Meus irmãos, quando Cristo, nosso redentor, estava em agonia na cruz, bebeu assim pela saúde do gênero humano e eu, agora, quero fazer a mesma coisa".

Imediatamente depois, tomou entre suas mãos um copo cheio dessa mistura de fel e vinagre e a bebeu até a última gota.

Um dia em que estava um pouco fraco de saúde, o religioso que o tratava preparou-lhe uma sopa saborosa que sabia que lhe agradava muito, mas ele, sempre no desejo de sacrifício, disse que estava muito quente e pediu que adicionasse água fria - e isso somente para que, diluída, perdesse aquele sabor gostoso que lhe agradava.

O chocolate, bebida originária das terras da América e muito popular na Guatemala, era de seu agrado, mas só o bebia quando sobrava daquele que levava aos doentes e convalescentes. O prato que usava era a carcaça de uma tartaruga.

Além de ser tão frugal na dieta, todas as semanas jejuava por quatro dias, durante os quais só tomava água e pão preto. No período da Quaresma, seu jejum era absoluto, só tomava água.

Uma pessoa que tinha muita familiaridade com ele - e estava acostumada a passar dias inteiros na sua companhia - testemunhou que nunca o viu fazer uma refeição completa. Calcula-se que, dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, ele jejuasse em trezentos.

Num sábado santo, uma senhora lhe perguntou quando tinha começado o jejum e Pedro lhe respondeu que fora na segunda-feira. A senhora ficou muito surpresa porque, de acordo com o que relatou em seguida, o rosto e o aspecto geral de Pedro eram bons como se naqueles dias tivesse comido muito bem.

Sua extrema pobreza e seu desinteresse se refletiam claramente em seu vestuário; usava unicamente o hábito da Ordem Terceira de Penitência de São Francisco que, além de ser velho e gasto, era do tecido mais grosso que se podia encontrar; fora isso, ele mesmo o remendava quando era preciso.

Certa vez, um habitante da cidade se comoveu e o presenteou com um novo, mas Pedro, pelo seu espírito de humildade, preferiu trocá-lo com outro irmão que tinha um velho, para não mostrar um hábito novo que poderia lhe ser motivo de vaidade.

Seu vestuário íntimo era ainda mais pobre e grosseiro; o tecido era aquela lona áspera com a qual os indígenas faziam sacos para carregar as espigas de milho; sua camisa, quando a usava, era de pano grosso; não calçava sapatos, mas sandálias de couro, iguais àquelas dos indígenas, e isso quando lhe davam de esmola.

Dormia muito pouco porque assistia aos enfermos quando necessário ou passava a noite em oração.

Quando trabalhava e morava com o tenente Armengol - junto ao qual teve sua primeira residência e seu primeiro emprego na Guatemala -, tinha permissão do dono da casa para sair uma noite e percorrer a Via Sacra. Vestido com uma túnica de nazareno e levando uma cruz de madeira, transcorria todo o tempo que vai do pôr do sol até depois da meia-noite, recitando em cada esquina a estação correspondente; às vezes, fazia o percurso de joelhos.

A história conta que, numa dessas noites, foi avistado por um cidadão que voltava para casa. Tratava-se de uma pessoa de caráter bastante incrédulo que, encontrando-se inesperadamente diante de uma sombra negra que estava ofegante, pensou que fosse um touro enfurecido. Sacou a espada para matá-lo, mas um súbito clarão lhe revelou um Nazareno com uma cruz sobre os ombros. Ficou petrificado, acreditando ser uma aparição sobrenatural, devida à sua conduta licenciosa, e imediatamente fugiu para uma casa nas proximidades, onde lhe explicaram que se tratava de um jovem chegado havia pouco tempo da Espanha e que fazia penitência. Contudo, o homem se impressionou muito e isto o fez mudar de vida.

Muitas vezes, durante esses percursos, Pedro também era atacado por cães raivosos e por gente mal-intencionada, que ele acalmava traçando o sinal da cruz.

Quando se construiu a casa que abrigou o primeiro hospital, fez escavar um buraco na parede exterior da enfermaria, cujo espaço tinha apenas cinco pés de largura, e ali fez um refúgio para dormir; era tão estreito que parecia um compartimento para guardar ferramentas. O pedreiro que o fez, pensando que fosse uma reentrância para pendurar roupas, pediu um dia permissão para colocar ali sua capa e chapéu. O chão era de pedra; aí dormia Pedro. Pendurava num prego uma pequena lâmpada ou uma candeia para enxergar de noite e se ajoelhava sobre o pavimento de pedra para rezar; como o espaço era muito reduzido e baixo, a posição mais cômoda era a de ajoelhado porque deitado não ficava bem. Para dormir nessa posição colocava sobre o solo uma forquilha de madeira sobre a qual se apoiava. Quando não dormia nesse vão, deitava sobre uma cruz de madeira que tinha feito construir, imitando Cristo crucificado. Em outros casos, estendia sobre o pavimento uma esteira de palha (que os indígenas faziam e usavam para dormir) e como travesseiro usava um pedaço de madeira.

Não contente com todos esses sacrifícios, aplicava-se a outras penitências; num pequeno quarto, que ele chamava seu "arsenal", encontravam-se os cilícios com os quais se mortificava e as cruzes pesadas que amava carregar sobre os ombros. Num livrinho de notas que levava consigo e que foi encontrado depois de sua morte, há um parágrafo que diz o seguinte:

"Em honra da Paixão de meu Redentor Jesus Cristo (Deus me dê a força), devo infligir-me cinco mil e mais chicotadas, desde hoje, dia da Páscoa do Espírito Santo, 24 de maio de 1654, até Sexta-Feira Santa, recitando durante esse tempo cinco mil e mais Credo".

Toda sexta-feira, fazia a "via crucis", carregando uma cruz de quinze pés de comprimento. Encontrou-se também esta outra anotação de seu punho: "Todas as sextas-feiras ao Calvário com a cruz e, se não puder, em penitência, uma hora de joelhos com a cruz sobre os ombros".

Comungava três vezes por semana, já que naquele tempo a Igreja ainda não permitia a comunhão diária. Mas durante o último ano de sua vida, tendo obtido a permissão e em consequência do conselho de seu confessor, Padre Lobo, comungou todo dia.

Agradava-lhe ir rezar diante da Virgem da igreja da Misericórdia e havia vezes em que só podia chegar lá tarde da noite, depois de terminar suas ocupações. O sacristão, que sabia quem era aquele que batia na porta àquela hora, abria-lhe sem preocupação e o deixava rezar diante do altar... Em muitas manhãs, encontrava-o ainda na mesma posição, quando ia abrir as portas para a primeira Missa.

Entre suas devoções especiais, havia aquela que praticava pelas almas do Purgatório. Costumava oferecer pelo seu sufrágio mais de mil missas por ano; fundou as duas ermidas na entrada da cidade, das quais falamos antes, onde, além de recolher esmolas para suas obras, eram pedidas Missas para a salvação das almas; trazia sempre pendurada na cintura uma bolsa ou sacola de couro - menor e diferente da bolsa grande de que falamos anteriormente -, onde depositava os nomes das pessoas defuntas que morriam na cidade; todo dia retirava várias fichas e, à medida que aumentavam os nomes, realizavam-se os serviços em seu sufrágio.

Nessa pequena bolsa havia também uma ficha onde estava escrito seu nome e a data de sua morte, que retirou em várias ocasiões e colou de volta. Muitos, porém, perceberam e falaram disso depois de sua morte.

Era tanta a sua preocupação com as almas das pessoas que tinham morrido sem fazer um ato de contrição e sem estar em paz com Deus que satisfazia todos aqueles que lhe pediam ajuda em troca de uma oração para o alívio dessas almas atormentadas. Aos meninos que o seguiam alegres, na esperança de receber algum doce que sempre retirava de suas maravilhosas sacolas, fazia primeiro recitar uma oração com o mesmo propósito. E contam que, quando percorria os caminhos para fazer alguma coisa e via grupos de meninos que jogavam no parque ou em algum canto o popular jogo da barra, pedia-lhes que o deixassem jogar sob a condição de que, se perdessem, como penitência deveriam rezar pelas almas do Purgatório... e Pedro vencia sempre.

Perto do convento de São Domingos, vivia um rico comerciante chamado Antonio de Espinoza. Em sua casa, à noite, reuniam-se os amigos para jogar cartas. Como ficava no itinerário frequente de Pedro, às vezes, ao ver que havia muitas pessoas, entrava e pedia para jogar, com a condição de que a aposta fosse a de fazer celebrar missas pelas almas do Purgatório. Os jogadores, obstinados na disputa, faziam mil trapaças para vencê-lo, mas era impossível. Quase sem saber jogar, Pedro tinha sempre as melhores cartas e vencia.

Quando era o onomástico de alguém, ia encontrá-lo, levava-lhe de presente um rosário, talvez feito com suas mãos, colocava-o em seu pescoço, pedindo-lhe que o carregasse por todo o dia. Quando a pessoa aceitava aquele gesto e lhe fazia notar que não tinha como pagar aquela gentileza, Pedro aproveitava para dizer-lhe que o mantivesse e que, para recompensá-lo, rezasse pelas almas do Purgatório.

Observava e celebrava as festividades religiosas com muito zelo. Já vimos como, durante a Quaresma e a Semana Santa, seu jejum e seus sacrifícios eram exemplares.

Para o Corpus Christi - na época celebrado com grande solenidade -, participava da procissão que percorria a cidade e, certa vez, pediu permissão a Frei Payo Enríquez de Ribera, Bispo da Guatemala, para poder ir à frente dela como um pregoeiro. Com a capa de terciário amarrada numa vara, levantava-a como uma bandeira ao vento e avançava, gritando:

- Alegria, cristãos, cristãos, alegria!

Sua voz tinha um tal ímpeto de fé que muitos, até mesmo Frei Payo, vertiam lágrimas de emoção à sua passagem.

O Natal era para ele uma celebração especial. Como recordação do presépio em que nasceu Jesus, tinha dado o nome de Belém à casinha de palha que acomodava seu primeiro hospital; mais tarde, quando foi construída ao seu lado a igreja de Belém, sobre a fachada principal construiu-se um nicho, onde foram colocadas em relevo as figuras do Natal, que se conservam até hoje.

Na noite de 24 de dezembro, organizava uma solene procissão, da qual participavam todos os habitantes da cidade: homens, mulheres, velhos, crianças, religiosos, autoridades do governo, todos acorriam levando velas acesas. À meia-noite, dirigiam-se à igreja de São Francisco para assistir à "Missa do Galo".

Quando Frei Pedro morreu, entre suas cartas foi encontrado um escrito de seu próprio punho, no qual descrevia como se realizava essa procissão e aquela do dia de Reis: [47]

"Na noite de Natal, partindo do referido hospital de Belém, inicia-se uma função para comemorar a recusa de hospedagem feita à Virgem Santíssima e a São José. Saem os Irmãos Terciários e muita gente, com muitas luzes na mão, recitando o Rosário da Virgem Santíssima com grande devoção, divididos ordenadamente em três coros: todos os sacerdotes atrás com a Virgem, na frente, São José, a caminho, procurando refúgio de porta em porta".

"Durante essa oração, pelo fato de ser tão sugestiva, vêem-se pessoas devotas e contemplativas que se comovem ao ver e ouvir um anjo graciosamente vestido: um menino que, com doces versos e cantos, vai representando o abandono, as injúrias que, naquela noite, sofreram a Virgem e seu esposo José. Isto até chegar ao Pórtico de Belém".

"Com essa procissão são impedidas muitas desordens juvenis que teriam podido ocorrer nessa noite de Natal".

"Colocam-se muitos altares sobre as janelas, com grande iluminação por todas as ruas desta cidade de Guatemala, e igualmente recebem a Virgem e São José com muita música e festejos segundo este Mistério."

"Na noite da vigília dos Reis, sai novamente outra procissão em comemoração dos Santos Magos, com as insígnias de ouro, incenso e mirra. Parte de outro bairro mais desenvolvido, com a recitação do rosário da Virgem Santíssima, e se dirige para Belém, sob o sinal de uma estrela luminosa muito grande, construída com muita criatividade e que é levantada e colocada entre as nuvens".

"À chegada desse devoto cortejo em Belém, saem para recebê-lo muitos meninos vestidos de pastores, com grande regozijo e alegria."

É preciso mencionar aqui que, com suas práticas religiosas, Pedro introduziu na Guatemala (e provavelmente no Novo Mundo) o uso de preparar "presépios" com figuras e pastores simulados em recordação do nascimento de Cristo. Esta prática foi inventada originalmente por São Francisco de Assis e se observava em alguns países da Europa, mas não parece que fosse feita na América.

O fato de atribuir o nome de "Belém" ao seu hospital e considerando que o capitão D. Antonio de Montúfar - importante personagem da cidade e grande pintor da época - o tivesse presenteado com um quadro do Nascimento de Jesus para colocá-lo em seu Oratório foram sinais que inspiraram Pedro a imitar o costume de São Francisco e a fazer com suas mãos, usando imagens pequenas, o primeiro "presépio".

Este costume, profundamente enraizado no povo centro-americano (pois não existe casa em que não se faça "presépio"), foi pouco a pouco desenvolvendo uma pequena indústria a nível familiar, muito florescente no período natalício: aquela dos bonecos, pastores, casebres, animais, serragem colorida, enfeites etc., que reproduzem roupas, figuras e paisagens da região, e que constituem a alegria dos pequenos e grandes naquela festividade.

Esse é, portanto, outro costume religioso tradicional, muito popular, que a Guatemala e a América Central (e talvez o Novo Mundo) devem a Frei Pedro de Betancur.

À noite, quando não havia ninguém a quem assistir em particular e depois de ter deixado tudo em ordem no seu hospital para convalescentes, percorria as ruas da cidade adormecida, levando na mão esquerda uma lâmpada ou candeia com gás para ter luz, e na direita uma sineta de bronze; quando chegava na esquina, interrompia seu passo, sacudia a sineta e seus toques sonoros eram ouvidos por toda a cidade. Depois, com sua voz doce, tocava o coração de todos os habitantes, dizendo:

Acordaos, hermanos,
que un alma tenemos
y si la perdemos,
no la recobramos...

Lembrai-vos, irmãos,
que uma alma temos
e, se a perdemos,
não a recobraremos.

Quem, então, não se sentiria comovido? Quem podia permanecer indiferente ouvindo aquela voz magnética com sua profunda mensagem? Não há dúvida de que os habitantes da Guatemala, repousando no interior do próprio lar na tranquilidade noturna, meditavam nessas palavras e associavam as notas vibrantes da sineta de bronze à figura franciscana de Pedro de São José de Betancur, que os chamava para serem homens melhores.

Durante uma dessas noites em que chovia torrencialmente, o Auditor D. Juan de Garete ouviu a sineta e a voz em meio ao estrondo dos trovões e, comovido, pensando como devia estar ensopado o pobre Irmão Pedro, ordenou a seus servos que o fizessem entrar para secar suas roupas no calor da lareira. Assim fizeram e, uma vez lá dentro, à luz das velas, puderam ver que estava completamente seco, nenhuma gota de água molhava suas roupas. Ainda maravilhados diante de um fato tão inexplicável, viram-no sair novamente e continuar seu caminho sob a chuva implacável, que respeitava sua passagem sem molhá-lo. Deviam ser naturalmente - porque há de tudo na vinha do Senhor - pessoas que duvidavam dele e ridicularizavam suas virtudes de fé e humildade.

Certa noite, numa das igrejas da cidade, foi insultado por um indivíduo que, não satisfeito com as palavras, o esbofeteou publicamente. Frei Pedro, diante de tal afronta, em vez de contradizê-lo, caiu de joelhos e com toda humildade pediu-lhe perdão por ter-lhe inspirado sentimentos tão ruins... e lhe ofereceu a outra face.

A história conta que em pouco tempo esse homem teve paralisado o braço direito, ou seja, aquele com o qual havia esbofeteado Pedro e que lhe "secou mão", como comumente diz o povo sobre quem levanta a mão contra seus próprios superiores; ocorreu-lhe também uma série de incidentes até que morreu entre graves dores, assistido, porém, afetuosamente por Frei Pedro.

Havia outros que também não estavam de acordo com os ensinamentos e sermões de Pedro, especialmente homens aos quais, às vezes indiretamente, impedia uma aventura amorosa ou jogos de azar que teriam levado ruína e desonra a suas famílias.

Certa vez, algumas pessoas o esperaram, escondidas na obscuridade e, quando Pedro passou, atacaram-no brutalmente; insultaram-no, dizendo que era um hipócrita, vagabundo e perturbador da quietude noturna. Várias vezes puseram suas mãos para cima e o espancaram com paus, deixando-o gravemente ferido; outras vezes, depois de espancá-lo, amarravam suas mãos nas costas e o deixavam jogado na rua.

Mas tudo isso não o fazia desistir; ao contrário, sua fé inabalável o tornava mais tenaz e, na sua imensa bondade, perdoava e rezava publicamente por todos os que o haviam ofendido.

O capitão Isidoro de Cepeda quis fazer-lhe uma brincadeira maldosa para colocar à prova sua tenacidade e, numa ocasião em que Pedro lhe pediu uma esmola para suas obras, disse-lhe:

- Far-te-ei uma grande esmola, mas deverás ganhá-la usando este manto vermelho que tenho aqui e caminhando com ele até a praça.

O manto que o capitão usava era da cor vermelha mais viva e brilhante, tão vistoso e resplandecente sob os raios do sol que ninguém podia deixar de notá-lo. Esse manto sobre o hábito gasto de Frei Pedro era extremamente contrastante. Mas ele não hesitou um instante sequer, envolveu-se na capa e chegou até a praça, em meio aos risos, comentários e piadas dos passantes.

O capitão Cepeda pagou de boa vontade e abundantemente a esmola oferecida.

Havia um sacerdote dominicano, o Padre Francisco Guevara, que tinha ouvido falar muito do Irmão Pedro e da sua humildade, mas colocava em dúvida seus atos. Não o conhecia, mas certa noite, quando se encontrava na casa de D. Maria Ramírez, uma honorável cidadã que colaborava sempre com obras para o bem, foi anunciado que estava chegando o Irmão Pedro para pegar algumas roupas a ele oferecidas.

- Eis a ocasião - pensou o Padre Guevara -, agora veremos se é verdade o que dizem desse fradinho.

Pedro entrou e saudou respeitosamente o sacerdote, que lhe respondeu bruscamente, apenas com um grunhido seco.

D. Maria lhe deu a roupa e, quando já estava para sair, o sacerdote, que ficara observando a cena toda sem dizer uma palavra, ordenou-lhe que se sentasse.

Frei Pedro, por respeito, nunca se sentava diante de um sacerdote. O Padre Guevara, percebendo a hesitação, quase lhe gritou:

"Não me agradam esses hipócritas e mentirosos enganadores. Sente-se ali, mentiroso, e ouçamos o que tem para me dizer".

Frei Pedro se apoiou na bancada de uma janela e se sentou.

"Escute-me, hipócrita preguiçoso. Não seria melhor se o senhor trabalhasse e ganhasse o que comer sem ir pedir esmolas aos pobres? Até agora não apareceu quem lhe tenha dito o mal que faz e o desmascare pela sua preguiça?"

Pedro, com os olhos baixos, escutava em silêncio.

- "Responda, hipócrita preguiçoso, se tem algo para me dizer...

- "O senhor disse bem, sou um hipócrita, enganador".

- "Por que perturba a cidade, acordando à noite os habitantes que dormem tranquilamente com aquela sineta que soa como a morte e com suas exclamações e rezas em alta voz que parecem latidos de cão?"

Lágrimas de dor rolavam sobre as faces de Pedro que, levantando os olhos na direção daquele que o insultava, disse:

- "Oh, disse bem, meu padre, e como me reconheceu, pois é isso que sou, um cão e nada mais..."

O sacerdote não pôde continuar: levantou-se para abraçá-lo e pedir-lhe perdão e, derramando, ele também, lágrimas de emoção, disse-lhe:

- "Saiba, Frei Pedro, que de hoje em diante somos amigos e irmãos. Espero-o amanhã em meu convento para ajudar-lhe naquilo que precisar."

E desde aquele dia, foi um grande benfeitor para sua obra. Muitos que duvidavam de Pedro, ao conhecê-lo, mudavam completamente de opinião, transformando-se em seus seguidores.

Uma vez houve um monge carmelita que, tendo acabado de chegar do México, ouvia tanto falar das virtudes e humildade de Pedro que quis conhecê-lo para constatar a verdade. Um dia, alguém lho apresentou e o monge resolveu esclarecer suas dúvidas. Em primeiro lugar, interrogou-o, depois passou aos insultos e Pedro, com grande serenidade e humildade, superou a prova. O monge ficou tão maravilhado com a qualidade de espírito de Pedro que desejou levá-lo consigo ao seu convento no México, oferecendo-lhe muitas vantagens.

"Venha comigo, Irmão, pois sei que tem a intenção de fundar um hospital para convalescentes e aqui encontra muitas dificuldades. Convido-o a vir comigo ao deserto do Carmelo, no México".

Mas Pedro, repetindo as proféticas palavras que havia pronunciado quando, pela primeira vez, teve diante dos olhos a cidade da Guatemala, exclamou:

"Aqui devo viver e morrer".

Seu fervor o fazia criar novos modos de rezar ou transformar as orações tradicionais. Entre aquelas que passaram à posteridade, através de seus biógrafos, encontram-se estas, breves e simples:

Dá-me sempre, bom Senhor,
fé, esperança e caridade
e porque és poderoso,
do teu Coração a humildade.
Depois, sempre e em tudo,
seja feita a Tua Vontade.

"Aquilo que um homem deve fazer para que a sua alma não se perca é examinar seu íntimo; pôr sentinelas para guarda dos sentidos e redobrá-las, se for o caso, a fim de que não entrem no ânimo as coisas mundanas e não saia para vê-las e buscá-las".

A Guatemala sempre foi um país afetado por terremotos. Em 1663, houve abalos tremendos que obrigaram muitos habitantes a transferir-se para lugares mais seguros; entre esses encontrava-se Frei Payo de Ribera, Bispo da Guatemala, que abandonou seu velho palácio episcopal, transferindo-se para um quarto do Hospital de São Pedro, recém-construído. Frei Payo admirava a obra de Pedro e, durante uma visita que lhe fez, perguntou-lhe o que pensava de tão horrendos cataclismas.

Com o semblante sereno e humilde, Pedro respondeu:

- "Frade! O que me parece é que Deus nos faz sermões." [48]