Questão Trigésima Oitava.

Pergunta-se sobre o que diz o Apóstolo a respeito dos filósofos, afirmando que são indesculpáveis,

"porque, tendo conhecido a Deus,
não o glorificaram como Deus".

Rom. 1, 21

Pois parece que poderiam desculpar-se; não lhes teria sido conferida tanta graça pela qual poderiam ter glorificado a Deus. Porventura poderiam glorificar a Deus sem a caridade? Pode alguém possuir a caridade sem a fé? Porventura poderiam amá-Lo com aquele grau de conhecimento que tiveram?

Solução.

Foram indesculpáveis porque não fizeram o quanto teriam podido.



Questão Trigésima Nona.

Pergunta-se, ademais, se tivessem feito quanto podiam e tivessem saído desta vida neste estado, se seriam dignos da salvação. Pois quem pode ser digno da salvação sem a fé, ou quem pode perecer sem a caridade? Mestre Pedro Abelardo diz que eram dignos da salvação, isto é, que se lhes desse por onde se salvassem, porque se tivessem feito o quanto pudessem nunca Deus lhes teria permitido o trânsito sem a fé. Outros dizem que eram indesculpáveis porque com aquele grau de conhecimento poderiam amar e imediatamente, a partir deste estado, lhes teria sido concedida a fé. Porém segundo estes a fé proviria da caridade, e não a caridade da fé. Outros, finalmente, pensam que nenhum grau de conhecimento seria suficiente para amar a Deus, mas que se tivessem feito o que pudessem imediatamente Deus lhes teria dado a fé pela qual amariam a Deus e assim o glorificariam. Aos quais pode objetar-se que não poderiam ter merecido a fé, ao que talvez responderiam que, embora não tivessem podido merecer a fé, a partir da que possuíam poderiam ter-se tornado idôneos e aptos para receberem a fé. Como podem saber, porém, que a partir desta se tornariam idôneos ou, se idôneos, como podem saber que a fé lhes teria sido concedida? Todavia ali não houve pregação.

Solução.

Nós cremos que poderiam ter glorificado a Deus em parte. Ainda que não o tivessem feito perfeitamente, se atribuíssem a Deus aquilo que receberam, e buscassem a glória de Deus e não a deles, teriam glorificado a Deus segundo algo, no que teriam amado a Deus, ainda que não o pudessem fazê-lo perfeitamente.

Pode objetar-se que,

se assim fosse, pelo conhecimento que possuíam poderiam em parte amar a Deus. Poderiam tê-lo feito, portanto, pela caridade que possuíam o pela caridade que não possuíam. Não o teriam podido, entretanto, pela que não possuíam. Portanto o teriam feito pela que possuíam e, deste modo, possuíam o amor de Deus, e assim seriam dignos da salvação.

Solução.

Deve-se conceder que poderiam ter amado a Deus pela caridade que possuíam. Todavia não se pode dizer de modo simples que passariam a amar a Deus, assim como se o homem enfermo e fraco carrega uma pedra pela força que possui não se pode dizer de modo simples este homem ser forte ou possuir fortaleza. Não concedemos, de fato, que aqueles que estão em pecado mortal não possam realizar nenhuma boa obra, como alguns dizem, mas que fazem muitos bens, insuficientes porém, para a salvação, por causa do maior mal que possuem.



Questão Quadragésima.

Pergunta-se se a razão natural pode algo sem o auxílio da graça.

Solução.

Dizem alguns que a razão natural pode muitas coisas por si, como é manifesto pelos filósofos os quais, apoiando-se apenas na razão, não só alcançaram muitas coisas no conhecimento da verdade sobre as criaturas, como também sobre o Criador, tendo conhecido que Deus existe, e que é uno e trino. Mas não parece ter sido possível que tivessem chegado a este conhecimento sem o auxílio da graça. De onde que, dizendo o Apóstolo

"o que pode se conhecer de Deus
é-lhes manifesto",

imediatamente acrescenta:

"pois Deus lhos manifestou".

Rom. 1, 19



Questão Quadragésima Terceira.

Diz o Apóstolo:

"entregou-os Deus aos desejos
de seu coração,
às paixões da ignomínia,
a um sentimento depravado".

Rom. 1, 24-28

Por estas autoridades, e muitas outras, como esta:

"Deu-lhes um espírito de torpor,
para que vendo não vejam,
e ouvindo não ouçam";

Rom. 11, 8

e também:

"Endureceu-se o coração
do Faraó";

Ex. 7, 13

"Ele tem misericórdia
de quem quer,
e endurece a quem quer".

Rom. 9, 18

Por estas e por muitas outras passagens parece que muitos males podem realizar-se por obra de Deus. Santo Agostinho também reúne em um mesmo lugar muitas passagens para argumentar a este respeito, depois do que conclui que por elas fica manifesto que pertence a Deus operar no coração dos homens, nos bons inclinando pela sua misericórdia aos bens e nos maus inclinando aos males pelo seu julgamento, às vezes oculto, às vezes manifesto, sempre, todavia, justo.

Do mesmo modo, lemos no Apocalipse:

"Porventura não é justo
que aquele que está na impureza
se torne ainda mais impuro?"

De onde vem esta justiça? Não será de Deus, de quem provém toda justiça? De onde que parece que é Deus quem opera isto. Do mesmo modo, o pecado que é pena de um pecado precedente, de quem provém? Toda justiça provém de Deus, e este pecado é uma pena justa, de onde que parece que tem sua origem de Deus.

Solução.

Alguns respondem a isto dizendo que todo pecado provém de Deus, não apenas aquele que é pena de outro pecado, mas também aquele que é apenas culpa, os quais concedem que o furto, o latrocínio, o adultério, provém de Deus, conforme diz o profeta:

"Não há mal na cidade que não seja
por disposição de Deus".

Amós 3, 6

Estes também pela razão procuram provar o mesmo: toda essência, de fato, provém de Deus. Ora, a vontade má e a ação má são pecado, e possuem essência, de onde que se conclui, segundo a opinião deles, que o pecado provém de Deus.

A estes pode-se objetar: o que é fazer o pecado, senão pecar? O que é fazer adultério, senão adulterar? O que é fazer o furto, senão furtar? De onde que se se concede que Deus faz o pecado segue-se que Deus peque, furte, adultere e mate, o que não apenas é nefando de se dizer, como também de se pensar.

Esta objeção sobre a vontade má e sobre a ação não boa, que são algo, e que, deste modo, procederiam de Deus, resolve-se deste modo: o pecado, considerado em si mesmo, é uma coisa distinta do pecado considerado segundo outro. O pecado, considerado em si mesmo, é uma certa desordenação ou privação da justiça. Neste sentido, ele nada mais é do que a ausência da justiça, de onde que não procede de Deus, por não ser nada. Deus, de fato, não pode ser o autor daquilo que nada é. A vontade má e a ação não boa são pecados segundo outro, isto é, segundo uma desordenação; são alguma coisa, mas são ditas pecado não pelo que possuem, mas pelo que não possuem. São, efetivamente, pecado, porque não possuem ordem nem modo.

Quanto à autoridade do profeta, a qual diz que

"Não há mal na cidade que não seja
por disposição de Deus",

pode entender-se do mal da adversidade ou do mal da perversidade. Ou talvez nem sequer tenhamos que entendê-la do mal da adversidade, se examinarmos mais diligentemente a circunstância desta Escritura. Acrescenta, de fato, o profeta logo a seguir:

"porque o Senhor nada faz sem ter
revelado antes o seu segredo
aos profetas seus servos".

Amós 3, 7

Há alguns que levantam objeções semelhantes quanto ao poder de pecar, pois ele provém de Deus; sendo ele pecado, deste modo parece que o pecado provém de Deus. Mas este argumento de nada vale, porque o poder de pecar nem é pecado, nem é causa suficiente do pecado sem a vontade.



Questão Quadragésima Quarta.

Pergunta-se novamente se toda vontade provém de Deus, já que nada existe que não tenha seu ser proveniente de Deus.

Solução.

Não se deve conceder que se nada há que não tenha o ser proveniente de Deus então toda vontade provém de Deus, isto é, tanto a boa quanto a má. O mesmo entende-se do agir. Quando nos referimos a uma ação ou vontade má, a expressão mais denota a qualidade do que a essência. Pelo que, embora ela tenha por onde seu ser possa ser dito proveniente de Deus, como sua qualidade, todavia, não é proveniente de Deus, não se deve dizer que a ação ou a vontade má sejam provenientes de Deus. Deve observar-se que a desordenação que é dita ser qualidade da má ação por causa do modo semelhante da resposta, ou na medida em que tomamos o termo qualidade de modo amplo enquanto pode designar-se por ele tanto o que algo é como o que não é. Do mesmo modo, a afirmação segundo a qual a essência de uma ação provém de Deus pode ser entendida de duas maneiras: ou que ela própria provenha de Deus ou que aquilo pelo qual ela possui ser provenha de Deus.

Outros, porém, dizem que nem todo pecado provém de Deus, mas somente o que é pena de outro pecado, o qual efetivamente se realizaria pela operação de Deus. Dizem estes, de fato, que se quando a Escritura Deus

"te-los entregado a um
sentimento depravado"

Rom. 1, 28

estas palavras devam ser entendidas como referindo-se apenas à permissão, de modo geral poder-se-ia dizer o mesmo de todo pecado, isto é, que Deus o opera. Nunca, porém, se diz Deus entregar alguém a algum pecado, senão ao que já é pena de outro pecado.

Do mesmo modo, se estas palavras devessem ser entendidas como referindo-se à subtração da graça, ficaria também evidente que seria Deus que, ao subtrair a graça, operaria tal pecado. De fato, se o pecado se segue de modo necessário à subtração da graça, qual seria a sua causa senão o que a subtraíu? Tratar-se-ia da mesma situação de uma casa que tivesse algum fundamento sem o qual não pudesse permanecer de pé; se alguém retirasse este fundamento, quem se tornaria causa do desabamento, senão aquele que o tivesse retirado? Ou se alguns homens estivessem em botes em alto mar e alguém os afundasse, sendo que sem estes botes os homens não poderiam viver, qual seria a causa de sua morte senão quem afundou os botes?

Com estas e outras semelhanças procuram afirmar que Deus opera alguns pecados, ainda que não todos.

Não parece, porém, existir semelhança entre a casa, que nada pode merecer, e o homem, por cuja culpa é-lhe retirado aquilo sem o qual não pode perseverar. A semelhança seria mais conveniente se houvesse uma casa prestes a cair e alguém a escorasse com as mãos para que, sustentando-a, não viesse a cair e se, posteriormente, por uma exigência racional, retirasse as mãos. Não seria, efetivamente, a causa pela qual a casa teria caído, mas sim a causa pela qual a casa não tivesse caído antes. Assim como se alguém estivesse nú e outro lhe desse roupas para vestir mas, já vestido, o primeiro passasse a ofender de tal modo ao segundo que este razoavelmente lhe tomasse as roupas de volta; se o primeiro viesse a morrer por causa do frio, quem será a causa desta morte, senão o próprio homem que morreu nú? E assim também se alguém, por exigência de alguma causa, retira a alguém os ensinamentos que antes lhe oferecia, não faz isto operando algo, mas mais não operando o que antes operava. Assim também dizemos que Deus, subtraindo a graça, por exigência de nossa culpa, não é ele próprio a causa pela qual a graça nos é subtraída quanto a nós, nem Ele faz isto operando algo, mas não operando o que antes não operava. Assim também por nenhuma razão deve-se conceder que pela operação de Deus se realize algum pecado, seja ele ou não pena de outro pecado.

O que, portanto, diz Santo Agostinho que Deus opera nos corações dos homens, seja inclinando ao bem ou ao mal, é dito operar ou pela semelhança do modo do uso da palavra subtrair, que em latim é construída com o caso acusativo, como se significasse fazer algo ou, melhor ainda, porque operar é tomado tanto pelo operar como pelo não operar, conforme diz o Apóstolo:

"O que eu faço, não o entendo".

Rom. 7, 15

De outro modo, se o operar não fosse assim tomado, fazer o mal e não fazer o bem não seriam partes do operar. Assim também deve entender-se aquela passagem em que se diz que Deus

"retribuirá a cada um
segundo as suas obras",

isto é, pelas coisas que faz e também pelas que não faz, se as tivesse que ter feito. Quanto ao que se diz no Apocalipse:

"Aquele que é impuro,
continue na impureza",

Ap. 22, 11

entende-se isto ser justo não pela qualidade da impureza, mas pelo julgamento de Deus que faz com que isto se realize. De onde que se estas coisas são ditas justas, não o são pela justiça que há nelas, mas na regra divina, não porém de modo que a própria impureza proceda de Deus ou que Deus as faça. O mesmo pode-se dizer de qualquer pecado que seja pena de um pecado precedente; esta pena é dita justa não por alguma qualidade sua, mas pelo julgamento divino.



Questão Quadragésima Quinta.

Se a própria pena que também é culpa provém de Deus. O que assim parece, porque tudo o que é justo provém de Deus, e esta pena é uma pena justa. Deste modo, parece que tal pena provenha de Deus.

Solução.

Não convém dizer isto, pois ela não possui o ser justa por uma qualidade própria, mas pela lei divina, conforme já foi dito. De fato, está escrito:

"Deus não fêz a morte,
nem se alegra com a perdição
dos viventes".

Sab. 1, 13

Ou, ainda que se conceda que a pena provenha de Deus, não todavia a culpa, ainda que coincidam no mesmo a culpa e a pena. De fato, não possui de Deus que seja culpa, ainda que de algum modo possua de Deus que seja pena.

A pena, sendo algo em si mesmo, é dito provir de Deus de três modos: por causa de sua matéria, a qual foi feita por Deus, como a matéria do fogo; por causa da natureza, isto é, que tal coisa não possa estar em tal outra sem que padeça, natureza esta que provém de Deus; e por causa do julgamento divino, pelo qual tal pena é infligida a tal culpa. Todavia não dizemos que Deus seja causa daquela pena; isto seria dizer que Deus teria feito a culpa daquela pena, e Deus não é causa da corrupção. Se não tivesse existido a culpa não padeceria, de fato, aquele que é punido. Assim, portanto, a pena, que é algo, é dita provir de Deus por três motivos, pela matéria, pela natureza e pelo julgamento. Segundo duas outras coisas, porém, a culpa e a corrupção, não provém de Deus. A pena que é pecado pode ser dita provir de Deus por causa de duas coisas: o julgamento divino e a natureza, que consiste em que ninguém pode pecar sem que seja punido. A culpa, porém, e a corrupção não provém de nenhum modo de Deus.

Portanto, não se deve dizer que seja pela obra ou pelo impulso de Deus que alguém é precipitado no pecado, nem mesmo naquele que é pena de outro pecado.

Quanto às Escrituras que parecem assim dizê-lo, devem ser referidas à permissão ou à subtração da graça. Alguns também as referem à abertura do caminho, porque a iniqüidade concebida interiormente não pode manifestar-se se não se lhe abre o caminho, como ocorreu com Nabucodonosor que primeiro concebeu interiormente a malícia e Deus, expondo-lhe o povo judeu, abriu-lhe o caminho para que deste modo pudesse vir a exercer a malícia para a qual antes o caminho estava fechado.

Outros, porém, referem-nas ao fechamento do caminho. Para não permitir que o homem tenha outro caminho pelo qual trilhar, Deus fecha-lhe todos os demais. Deus assim é dito precipitar alguém no pecado por não ter-lhe fechado o caminho que trilhou, assim como fêz com os demais que não trilhou. Deste modo Deus não é a causa pela qual o homem trilhou tal caminho, sendo o próprio homem que assim procedeu, mas é a causa pela qual o homem não trilhou os demais. Ambos, Deus e o homem, são também a causa do homem ter trilhado este caminho de preferência aos demais. Assim, se o homem não peca mais do que pecou, isto vem por autoria divina; se ele, porém, peca tanto e não menos, isto procede do próprio homem. Seria como se um homem estivesse numa torre e, querendo jogar-se por uma janela abaixo, alguém lhe fechasse todas as janelas pelas quais poderia fazê-lo exceto uma, justamente aquela pela qual o homem se atirasse. A causa pela qual o homem não se jogou pelas demais foi a pessoa que a fechou; a causa pela qual o homem se jogou pela janela pela qual o fêz foi o próprio homem, e não quem fechou as demais; a causa pela qual o homem se jogou por aquela determinada janela, em vez de o ter feito pelas demais, são ambos, isto é, o homem que se jogou e o homem que fechou as outras janelas.

Outros ainda referem estas Escrituras à ocasião, como quando o Senhor, entrando em Jerusalém, comoveu toda a cidade e a malícia anteriormente concebida, recebendo a ocasião, foi estimulada à inveja e daí à perseguição.

Assim, a sentença do Apóstolo segundo a qual os que conheceram a Deus, mas não o quiseram glorificar, foram por Ele entregues

"aos desejos de seu coração,
a paixões da ignomínia,
a um sentimento depravado",

Rom. 1, 24-28

segundo uns refere-se à permissão, segundo outros à subtração da graça, à abertura do caminho ou ao não fechamento do caminho. Nós, porém, dizemos referir-se ao conjunto de todas estas coisas mais do que a uma só delas, embora nem todas ocorram sempre em toda a parte. Três delas ocorrem sempre: a permissão, a subtração da graça e o não fechamento do caminho. Quanto à abertura do caminho e à ocasião, porém, estas nem sempre ocorrem.



Questão Quadragésima Nona.

Como pode defender-se que Deus não aja cruelmente condenando este a quem, tendo-se-lhe subtraído toda a graça, abandonado a si mesmo, não pode senão pecar? Se não evita o que não pode evitar, onde está a sua culpa? Se tal homem for condenado por isto, parece que o que se faz com ele seja uma injustiça.

Solução.

Esta impossibilidade é indesculpável, porque procedeu da culpa e do vício da própria vontade, por ter-se precipitado antes, ainda que agora peque não querendo, e Deus o condena com justiça pelos pecados cometidos. Conforme diz o Apocalipse, é justo que

"o que é impuro,
continue na impureza".

Ap. 22, 11



Questão Quinquagésima.

Como Deus não consente com os pecadores, se Ele conhece o mal e pode proibí-lo, expondo o pecador? Não corrigir, quando se pode fazê-lo, é consentir.

Solução.

Deus corrige de muitos modos, e repreende os pecadores tanto pela lei natural como pela lei escrita, tanto pelos seus servos como pelos flagelos próprios ou alheios. Deste modo, não pode ser dito de nenhum modo consentir com os pecadores.



Questão Quinquagésima Quinta.

Sobre a passagem em que se lê

"Com a tua dureza e coração impenitente
acumulas para ti um tesouro de ira
no dia da manifestação do justo juízo de Deus",

Rom. 2, 5

pergunta-se o que é o pecado contra o Espírito Santo, e por que é dito que não pode ser perdoado, se porque não pode ser perdoado ou se porque nunca será perdoado, embora possa sê- lo, ou se porque só é perdoado com muita dificuldade e raramente.

Solução.

Alguns dizem que o pecado contra o Espírito Santo é desacreditar por inveja da bondade divina. A queda deste pecado seria tanta que os que pecam deste modo nunca poderiam assumir a humildade do arrependimento. Outros dizem que o pecado contra o Espírito Santo seria o desespero da salvação ou a impenitência. Outros ainda que seria semear a inveja ou a discórdia entre irmãos.

Aos que dizem que o pecado contra o Espírito Santo pode ser perdoado, eles contra argumentam que se é possível que tal culpa seja perdoada, não se segue daí nenhuma contradição, mas a Verdade diz que

"Este pecado não será perdoado,
nem neste século, nem no futuro",

Mt. 12, 32

e, portanto, se fosse perdoado, seria falso que ele não seria perdoado, o que é impossível, porque a Verdade não pode mentir. Sobre este pecado não há nada de certo; todavia, sabe-se que, se alguém o cometer, nunca alcançará o perdão.