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Miscelâneas, L.V, tit.1.

A bem aventurada Trindade reparou a queda de nossa natureza lembrando-se de sua misericórdia e não se lembrando de nossa culpa. Enviado pelo Pai, veio o Filho de Deus, e concedeu a fé. Depois do Filho foi enviado o Espírito, que trouxe a caridade e por estas duas coisas, a fé e a caridade, fêz-se a esperança de voltar ao Pai. E esta é a trindade, a fé, a esperança e a caridade, pela qual, como por um tripé, da profundidade da lama para a perdida bem aventurança, a Trindade incomutável trouxe a trindade mutável e caída. A fé iluminou a razão, a esperança elevou a MEMÓRIA, e a caridade purificou a vontade.

Existe, portanto, a Trindade criadora, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Dela caíu a trindade criada, a MEMÓRIA, a razão e a vontade. A trindade pela qual caíu foi a sugestão, a deleitação e o consentimento; a trindade na qual caíu, a impotência, a cegueira e a imundície. A trindade caída tem em cada uma destas coisas uma queda tripartida. A MEMÓRIA caíu nas três espécies de pensamentos afetuosos, que são os necessários, como comer, beber e outros semelhantes; os onerosos, como a dura administração das coisas, a aquisição e o serviço; e os ociosos, quando pensamos no cavalo que corre ou na ave que voa. A razão caíu na tríplice ignorância do bem e do mal, do verdadeiro e do falso e do cômodo e do incômodo. E a vontade, na concupiscência da carne, na concupiscência dos olhos e no orgulho da vida. Existe, finalmente, a trindade pela qual ressurge, a fé, a esperança e a caridade.