27.

Sobre a Alma, L.III, c.38.

Considera, portanto, a tua nobreza, pois assim como Deus está todo em todo lugar, a tudo vivificando, a tudo movendo e governando, assim também tu, em teu corpo, estás toda em todo lugar, vivificando-a, movendo-a e governando-a. E assim como Deus é, vive e conhece, assim também tu, segundo teu modo, és, vives e sabes. E assim como em Deus há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, assim também tu tens três faculdades, a inteligência, a MEMÓRIA e a vontade. E assim como do Pai se gera o Filho, e de ambos procede o Espírito Santo, assim também da inteligência se gera a vontade, e de ambas procede a MEMÓRIA. E assim como Deus é Pai, Deus é Filho e Deus é Espírito Santo, e não são três deuses, mas um só Deus e três pessoas, assim também a alma é inteligência, a alma é vontade e a alma é MEMÓRIA e não são, porém, três almas, mas uma só alma e três faculdades. Nestas faculdades da alma, como no que há de mais excelente, é-nos ordenado amar a Deus de tal modo que o amemos com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente, isto é, com toda a inteligência, com toda a vontade e com toda a MEMÓRIA, o que significa com todo o afeto, sem defeito e com a contemplação da discrição.

Não é suficiente apenas a inteligência de Deus para a bem aventurança, se a vontade não permanece em seu amor. E mesmo estas duas não são suficientes se não se lhes acrescenta a MEMÓRIA, pela qual Deus sempre permanece na mente que intelige e ama, de tal modo que assim como não pode haver nenhum momento em que o homem não usa ou frui da bondade ou da misericórdia de Deus, assim também não haja nenhum momento em que não o tenha presente na MEMÓRIA.