15.

A Medicina da Alma, C. 1.

O homem costuma ser chamado pelos antigos de microcosmos, isto é, um mundo menor, porque pela semelhança do maior possui a figura do mundo.

Pode-se, de fato, apontar uma grande conveniência entre a composição do corpo humano e a constituição do mundo. O céu se assemelha à cabeça, o ar ao peito, o mar ao ventre, a terra às extremidades do corpo.

Deus habita no céu, e a mente possui, na cabeça do homem, o principado. Em Deus há três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e na cabeça humana há três potências, a inteligência, a razão e a MEMÓRIA. Há no céu dois grandes luminares, o Sol e a Lua, e na cabeça há dois olhos que iluminam o firmamento da face. O Sol e a Lua iluminam o dia e a noite oferecendo aos homens, pela sua claridade, a luz do conhecimento das coisas. Os olhos, pela sua sutilidade, recebem as imagens das coisas que são anunciadas pelo intelecto à razão a qual nos dá a certeza.

Semelhantemente no peito, assim como no ar, voam os pensamentos como nuvens, trazendo às vezes a claridade da alegria, às vezes a tristeza da obscuridade. Levantam-se aqui e ali os ventos das tentações que conturbam a alma ou, dividido o ar, produzem-se os relâmpagos da ira e segue-se o fogo do ódio, que é a combustão da alma. Êste, quantas vezes provier do alto, descendendo do prelado, tantas vezes lesará os súditos. Estas tempestades são dissipadas às vezes pela chuva, às vezes pela neve ou pelo granizo. Algumas. de fato, são aplacadas pelas palavras de uma santa exortação, outras pelo sopro suave da consolação, outras, finalmente, pela aspereza da repreensão.