4.

A fé admite graus de grandeza.

Textos de Mateus.

Vimos nos textos do Evangelho de Lucas como Jesus ensinou aos que creram nele que a sua fé os havia salvado. As expressões curtas de que Jesus ali se utiliza podem dar uma primeira impressão de que a fé é algo que apenas admite duas possibilidades, isto é, que ou a temos ou não a temos. Na realidade, porém, Jesus ensinou que a fé é uma virtude que admite graus de grandeza.

Jesus ensinou esta doutrina, sem deixar margem a qualquer dúvida, quando seus discípulos tentaram curar um jovem doente, e não o conseguiram. O pai do jovem, desiludido com os apóstolos, que possivelmente teriam dito ao ancião que lhe curariam o filho, levou então o enfermo a Jesus, não sem reclamar dos apóstolos. Quando, depois de Jesus ter operado a cura, os apóstolos lhe perguntaram por que não o haviam conseguido, Jesus lhes respondeu que a causa havia sido a sua pouca fé. Esta resposta é importante, porque Jesus não disse que os apóstolos não tinham fé, mas sim que a sua fé era pouca. A fé, portanto, segundo Jesus, admite graus de grandeza, um ensinamento que ele repete em muitas outras passagens:

"E chegados junto do povo,
apresentou-se um homem que,
lançando-se de joelhos diante de Jesus,
disse-lhe:

`Senhor,
tem compaixão de meu filho,
que é lunático e sofre muito;
pois muitas vezes cai no fogo
e outras na água.
Apresentei-o aos teus discípulos,
e não puderam curá-lo'.

Respondeu-lhe Jesus:

`Ó geração incrédula e perversa!
Até quando estarei convosco?
Até quando vos hei de suportar?
Trazei-mo para cá'.

E Jesus intimou ao demônio
que saísse dele;
e desde aquele momento
o pequeno ficou curado.
Então os discípulos chegaram a Jesus,
em particular,
e disseram-lhe:

`Por que é que nós
não o conseguimos expulsar?'

E ele lhes disse:

`Por causa de vossa pouca fé'".

Mt. 17, 14-20

A lição que esta passagem nos ensina é que, para alcançarmos a graça do Espírito Santo, não apenas devemos procurar adquirir a fé, mas devemos também procurar fazer com que ela aumente. Deus, de fato, quer enviar-nos o Espírito Santo e, para isto, não quer apenas que nós creiamos, mas quer também que a nossa fé seja grande. É o que se deduz de uma outra passagem do Evangelho de Mateus, em que Jesus censura São Pedro pela sua pouca fé:

"Certa vez",

diz o Evangelho de Mateus,

"Jesus obrigou os seus discípulos
a subirem em uma barca e a passarem
à outra margem do lago de Genesaré.
Depois, Jesus subiu só
a um monte para orar.
Quando chegou à noite,
achava-se ali só.
Entretanto, a barca no meio do mar
era batida pelas ondas,
porque o vento era contrário.
Porém, na quarta vigília da noite,
foi Jesus ter com eles,
andando sobre o mar.
Os discípulos,
quando o viram andar sobre o mar,
turbaram-se, dizendo:

`É um fantasma'.

E, com medo,
começaram a gritar.
Mas Jesus falou-lhes imediatamente,
dizendo:

`Tende confiança;
sou eu,
não temais'.

Respondendo Pedro, disse:

`Senhor, se és tu,
manda-me ir até onde estás
sobre as águas'.

E ele disse:

`Vem'.

Descendo Pedro da barca,
caminhava sobre a água para ir a Jesus.
Vendo, porém,
que o vento era forte,
teve medo,
e começando a afundar gritou,
dizendo:

`Senhor, salva-me!'

Imediatamente Jesus,
estendendo a mão,
o tomou e disse:

`Homem de pouca fé,
por que duvidaste?'"

Mt. 14, 22-31

Já em outras ocasiões, em vez de Jesus censurar a pouca fé, elogiava algumas pessoas em que tinha encontrado uma grande fé. São exemplos que mostram que, assim como a fé pode ser pouca, ela também pode ser muita, e que nos ensinam que, além de possuir a virtude da fé, para o nosso bem espiritual, devemos procurar fazer com que ela aumente:

"depois que Jesus
e seus discípulos
atravessaram o Lago de Genesaré",

diz o Evangelho de Mateus,

"tendo partido dali,
retirou-se Jesus
para a região de Tiro e de Sidônia.
E eis que uma mulher cananéia,
que tinha saído daqueles arredores,
gritou, dizendo-lhe:

`Senhor, Filho de Davi,
tem piedade de mim!
Minha filha está miseravelmente atormentada
pelo demônio!'

Ele, porém,
não lhe respondeu palavra.
E, aproximando-se seus discípulos,
pediam-lhe, dizendo:

`Despede-a,
porque vem gritando atrás de nós'.

Ele, respondendo, disse:

`Eu não fui enviado
senão às ovelhas desgarradas
de Israel'.

Ela, porém, veio
e prostrou-se diante dele,
dizendo:

`Senhor, valei-me'.

Ele, respondendo, disse:

`Não é bom tomar
o pão dos filhos
e lançá-los aos cães'.

Ela replicou:

`Assim é, Senhor,
mas também os cachorrinhos
comem das migalhas
que caem da mesa
dos seus donos'.

Então Jesus,
respondendo,
disse-lhe:

`Ó mulher,
é grande a tua fé!
Seja-te feito como queres'.

E desde aquela hora
ficou sã a sua filha".

Mt. 15, 21-28

Estas narrativas contidas nos Evangelhos, como a do jovem lunático que os apóstolos não conseguiram curar, a de São Pedro que afunda depois de ter inicialmente conseguido caminhar sobre as águas, a da mulher cananéia à qual foi concedida a cura de sua filha, embora sejam fatos que se tenham verificado na realidade terrena, são também ao mesmo tempo símbolos de realidades celestes, do mesmo modo que os fatos narrados no Velho Testamento, os quais, embora tenham acontecido realmente conforme os relatos contidos nas Escrituras, são símbolos das realidades descritas no Novo Testamento.

O episódio da mulher cananéia significa que se nos for possível ser dito, como a ela:

"Ó mulher,
é grande a tua fé",

alcançaremos de Deus a graça do Espírito Santo.