VII.6.

A educação do sétimo ao décimo quarto ano.

As crianças podem aprender música depois dos sete anos. Há três finalidades na educação musical das crianças: para que brinquem (13), para que se tornem puras (14) e para acostumá-las a julgar retamente e deleitar-se segundo a razão, dispondo-as à virtude (15).

É coisa manifesta que pelo correto uso da música nos tornamos bem dispostos às virtudes. De fato, diz o Filósofo, os sacerdotes do monte Olimpo se utilizavam de muitas melodias para este fim (16).

A razão pela qual a música dispõe às virtudes consiste em que a música faz parte das coisas que são deleitáveis segundo si mesmas, e a virtude moral diz respeito como a uma matéria própria às deleitações, às tristezas e às demais paixões. Ora, é manifesto que nada acostuma tanto à geração dos hábitos morais e às ações das mesmas do que o reto julgamento dos movimentos das paixões e o deleitar-se nelas segundo a razão (17). Acostumar-se, porém, a julgar o que é semelhante às ações e deleitações morais é acostumar-se a julgar das próprias ações morais e deleitar-se nelas.

Mas as harmonias musicais são semelhantes às paixões, aos hábitos e às ações morais (18), pois nas melodias musicais se encontram manifestamente imitações dos costumes, já que pelas diferenças das harmonias podem se dispor de modo imediato as paixões e os movimentos dos ouvintes de tal ou qual maneira. Assim é que a melodia lídia do sétimo tom retrai o espírito ao seu interior; a melodia lídia do quinto tom, também denominada de hipolídia, manifestamente predispõe à preguiça; a melodia dórica do primeiro tom dispõe os ouvintes à constância nas obras, pelo que é maximamente moral; a melodia frígia do terceiro tom recolhe fortissimamente o espírito do exterior ao interior (19).

Estes exemplos mostram como nas melodias encontramos as semelhanças das virtudes (20); de onde que acostumar-se a julgar e a deleitar-se corretamente nas harmonias musicais é acostumar-se a julgar e a deleitar-se retamente nos hábitos e nas ações morais (21). Deve-se, portanto, concluir que a música pode dispor à virtude, pelo que é importante educar e acostumar os jovens à mesma (22).

A música também pode purificar os jovens, porque a purificação é a corrupção de alguma paixão nociva que passa a não existir, o que se obtém pela geração do contrário, assim como a corrupção da ira se dá pela geração da mansidão (23).



Referências

(13) In libros Politicorum Expositio, L. VIII, l. 2, 1290.
(14) Idem, L. VIII, l. 3, 1331. (15) Idem, L. VIII, l. 3, 1290. (16) Idem, L. VIII, l. 2, 1302. (17) Idem, L. VIII, l. 2, 1307. (18) Idem, L. VIII, l. 2, 1308. (19) Idem, L. VIII, l. 8, 1312. (20) Idem, loc. cit.. (21) Idem, L. VIII, l. 2, 1308. (22) Idem, L. VIII, l. 2, 1314-1315. (23) Idem, L. VIII, l. 3, 1331.