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A causa eficiente é aquela que é o princípio do movimento e
do repouso nos seres.
Movimento e repouso não se entendem aqui apenas do ponto de
vista do movimento segundo o lugar, mas de modo amplo, no sentido de
qualquer alteração pela qual na matéria há uma passagem de uma privação
de uma dada forma substancial para a presença desta forma substancial,
ou num sujeito há uma passagem de uma ausência de determinada forma
acidental para a presença desta forma acidental.
Diz-se estar em potência aquilo que pode ser, mas que
todavia ainda não é.
Diz-se estar em ato aquilo que de fato já é.
A matéria ou um sujeito privado de uma forma são algo que
pode ser, se vierem a receber esta forma, mas que, por não a terem
recebido, ainda não são. A matéria ou o sujeito privado de uma forma,
são, portanto, entes em potência em relação a esta forma. A matéria ou o
sujeito que receberam uma determinada forma já não são algo que pode
ser, mas que já são, pelo menos no que diz respeito a esta forma
recebida. São, portanto, entes em ato em relação à forma recebida.
De modo que, em uma conceituação mais ampla, em todo
movimento temos uma passagem da potência ao ato.
Pelo fato de que a matéria é por si indeterminada mas pode
vir a ser tal ou qual ser se receber uma forma, a matéria é dita pura
potência. E pelo fato de que a forma é o que faz o composto de matéria e
forma ser em ato, é também dita ato.
Ora, observa-se que a toda forma se segue uma operação
própria: o fogo esquenta, o peso cai, a inteligência apreende, a luz
ilumina, etc.. Por outro lado, à pura matéria não se pode seguir nenhuma
operação própria, pois, se este fosse o caso, ela já possuiria alguma
determinação. Se possuisse alguma determinação, a operação própria se
seguiria a esta determinação; mas esta determinação é a forma; portanto,
se à matéria se seguisse alguma determinação, esta se deveria à forma;
de onde que se conclui que é à forma que se seguem as operações próprias
dos entes.
Esta fundamentação toda vem com o propósito de mostrar que
a causa formal e a causa material não podem ser, elas sozinhas,
explicação suficiente do movimento. A estas duas primeiras causas deve-
se acrescentar necessariamente a causa eficiente.
Por que?
Porque em todo movimento ocorre uma passagem da potência ao
ato. Ora, o que está em potência não pode passar ao ato por si só. A
matéria é potência pura; se ela pudesse por si só passar ao ato, ela já
teria, por isso mesmo, alguma determinação. Não seria mais, portanto
matéria pura.
Segue-se que, para passar ao ato, a matéria já necessita de
alguma determinação, ou seja, de alguma forma. Já vimos acima que a toda
forma segue-se uma operação própria; esta operação própria que se segue
a toda forma é a determinação necessária à matéria para que ela possa
passar da potência ao ato.
Mas esta determinação que a potência necessita para passar
da potência ao ato, que só lhe pode advir por alguma forma, não pode lhe
advir da forma que irá ser engendrada nesta matéria, pois esta forma
ainda não existe. Segue-se que terá de vir de outra forma que lhe seja
externa e já em ato, como toda forma.
Portanto, para que haja movimento, é necessário a ação
própria de uma forma externa ao ente submetido ao movimento; esta forma
externa, -externa, pelo menos, quanto à essência, não quanto à
localização-, será a da causa eficiente deste movimento.
Portanto, para que a potência passe ao ato é necessário
outro ser em ato; e para todo movimento é necessária uma causa
eficiente.
A argumentação assim exposta, baseada no exemplo da matéria
pura,vale também para o caso da matéria já integrante de um composto de
matéria e forma, ou do próprio composto entendido como um sujeito de uma
forma acidental; pois, embora esta matéria integre um corpo já em ato,
em relação à nova forma que vai ser engendrada, ela ainda está em
potência.
Portanto, para existir movimento é sempre necessário,
segundo a filosofia de Aristóteles, a existência de um agente externo
que lhe seja a causa; este agente será causa na medida em que está em
ato; este agente é o que se chama de causa eficiente.
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