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Talvez alguém diga que Deus apareceu sem intermediários a
alguns santos. Deve saber que as Santas Escrituras afirmam
claramente que "ninguém jamais viu a Deus" (Jo. 1, 18; Ex.
33, 30-23; I Tim. 6, 16; I Jo. 4, 12), e nunca
ninguém verá o mais recôndito da Deidade. É certo que Deus
apareceu a pessoas santas. Deste modo era conveniente que a Deidade
se acomodasse à maneira de ser dos videntes. A sagrada teologia chama
com razão teofania às visões em que Deus, que não tem figura, se
manifesta em determinada semelhança e forma. Dispõe aos videntes
para um plano divino. Recebem iluminação de Deus e de algum modo
são instruídos sobre os mistérios divinos. Foi o poder de Deus
quem dispôs os nossos antepassados para vê-lo desta maneira (Gen.
17, 1; 18, 1; Gen. 18, 10; 32, 23; Ex. 24,
9-11; 33, 19-23; Is. 6, 1-8).
Não afirma a Escritura que Moisés recebeu diretamente de Deus as
sagradas ordenações da Lei (Ex. 19, 3-14; 20, 19;
24, 9-11; 25-31; 33, 12-17; 34, 9-10)?
Assim podia ensinar-nos com verdade que aquela legislação era cópia
exata do divino e sacrossanto. Porém a teologia nos mostra claramente
que estas divinas ordenações nos foram dadas por meio dos anjos para
que aprendamos a mesma ordem estabelecida por Deus, isto é, que
mediante as hierarquias superiores os seres inferiores elevam-se à
Deidade. Ora, na Lei dada por Ele que é princípio supraessencial
de toda ordem há disposições que afetam não apenas aos graus
superiores e inferiores daquelas inteligências. Ela estabelece,
ademais, que dentro de cada hierarquia as ordens e potências se
distribuem em três graus: o primeiro, o médio e o último, e que os
mais próximos à Deidade devem instruir aos menos próximos,
guiando-os até a presença de Deus, sua iluminação e comunhão.
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