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Para representar seres celestes utilizam também figuras
antropomórficas (Dn. 10, 1; Ez. 1, 5-10; Mc. 16,
5; Lc. 24, 4; Ap. 4, 7; 10, 1), pois o homem,
apesar de tudo, é inteligente e capaz de olhar para o alto. Firme e
direito, é por natureza chefe e governante. Comparado com os animais
irracionais, é o menor na escala da força e das sensações; porém
ele domina a todos com o poder superior de sua inteligência, pela
sabedoria de seu saber racional e a natural liberdade e independência
de seu espírito.
Penso também que cada uma das partes do corpo humano nos subministra
imagens perfeitamente aplicáveis aos poderes celestes. Poderia
dizer-se que as faculdades visuais (Ez. 1, 18; 10, 12;
Dn. 10, 6; Ap. 4, 6-8) sugerem o poder de olhar
diretamente as luzes divinas e ao mesmo tempo a capacidade de receber as
iluminações de Deus com suavidade, claridade, sem resistência,
docilmente, pura e abertamente, sem paixão.
O poder de distinguir odores (Tb. 6, 17; 8, 13) indica a
capacidade de acolher plenamente as fragrâncias que o entendimento não
alcança. Discernimento também para entender o que está corrompido e
rejeitá-lo absolutamente.
A faculdade do ouvido (Sl. 103, 20) significa a capacidade de
participar de algum modo na inspiração divina.
O gosto (Gen. 18, 5-8; 19, 1-3; Is. 25,6) tem
relação com a satisfação do entendimento quando bebe até a
saciedade nos rios da Deidade.
O tato (Gen. 32, 35; Jz. 6, 21) significa discernir
entre o proveitoso e o nocivo.
Pálpebras e sobrancelhas simbolizam o cuidado em guardar o que a mente
conheceu de Deus.
Adolescência e juventude (Mc. 16,5) indicam a força vital,
sempre vigorosa.
Os dentes referem-se à habilidade com que dividem o alimento que
recebem, pois, de fato, todo ser-inteligência, tendo recebido de
outro que é superior o dom da inteligência unitiva, passa a
dividí-lo e distribuí-lo para que o inferior se eleve o mais
possível.
Os ombros, braços (Dn. 10, 6; II Sam. 24, 16) e
mãos (Jz. 6, 21; Sl. 91, 12; Ez. 1, 8; 8, 3;
10, 8; 10, 21; Dn. 10, 10; 12, 7; Ap. 10,
5) representam a propriedade de atuar e aperfeiçoar.
O coração (Jer. 7, 24; Sl. 41, 4) é símbolo de uma
vida deiforme, que compartilha sua força vital com aqueles por quem se
interessa.
O peito significa a fortaleza inexpugnável onde se localiza o
coração, fonte de vida.
As costas (Ez. 1, 18; 10, 12) representam o conjunto de
poderes que contém energias vitais.
Os pés (Is. 6, 2; Ez. 1, 7; Dn. 10, 5; Ap.
10, 1) significam o movimento acelerado da corrida perpétua que os
conduzem às realidades divinas. Por isso as Escrituras puseram asas
nos pés (Is. 6, 2; Ez. 1, 6; 1, 22; 10, 5-16)
dos seres-inteligências, pois as asas dão a entender rapidez para
elevar-se no caminho do Céu, constante impulso que ergue acima dos
apetites terrenos. Asas rápidas simbolizam a libertação das
atrações mundanas, o puro e desimpedido subir aos cumes.
Pés descalços e nudez (Gen. 18, 4; 19, 2; Is. 20,
2-4) significam desprendimento, libertação, independência,
purificação de toda a exterioridade, a maior identificação
possível com a simplicidade de Deus.
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