CAPÍTULO DÉCIMO PRIMEIRO

1.

Feitas já todas as distinções, é justo que consideremos agora por que costumamos chamar de "poderes celestiais" a todos os anjos (Dn. 3, 61; Sl. 24, 10; 80, 5; 80, 8; 80, 15; 80, 20; 103, 21). Não podemos generalizar a palavra "poderes" como fizemos com "anjos". Não podemos afirmar que a ordem dos santos poderes seja a última de todas, nem que a ordem dos seres superiores participe da santa iluminação dada aos inferiores, nem que estes últimos participem no que recebem dos superiores. Assim, pois, a denominação "poderes celestiais" não pode estender-se até compreender todas as inteligências divinas, o mesmo que não podemos fazer com serafins, tronos e dominações. As ordens da última hierarquia não participam dos atributos próprios da superior. Não obstante, chamamos "poderes celestiais" aos anjos e aos superiores a eles, aos arcanjos, aos principados, às potestades que os teólogos consideram inferiores aos "poderes". Dizemos o mesmo dos outros hierarquicamente superiores.

2.

No entanto, sempre que empregamos a denominação "poderes celestiais" em geral, para todos estes seres, não confundimos os atributos próprios de cada ordem. Observamos claramente que, por razões superiores a este mundo, nas inteligências divinas acha-se a tríplice distinção de ser, poder e ação. Suponde agora que, sem pensá-lo, chamemos a alguma ou a todas elas "seres ou poderes celestiais". Reconhecemos, portanto, que falando assim de tais seres e poderes estamos nos utilizando de uma expressão fundamentada no ser e poder de todas as ordens. Não se trata de atribuir indistintamente aos seres inferiores as eminentes propriedades dos santos "poderes" já descritos. Isto perturbaria o princípio de ordem que regula as hierarquias angélicas e exclui qualquer confusão.

Pela razão que expus com tanta freqüência e retidão, as hierarquias superiores possuem em grau eminente os atributos de seus inferiores, enquanto que estes últimos não possuem a plenitude transcendente dos mais altos, se bem que a iluminação pura do Princípio lhes é parcialmente transmitida por meio dos primeiros na proporção da capacidade receptiva dos últimos.