NÃO ABANDONAR O JOVEM EM SUAS LUTAS CONTRA O INIMIGO

Mas, enfim, não porfiemos nisto e, se te agrada, suponhamos que também na velhice tenhamos que lutar. Realmente, se estivesse em nossas mãos determinar o momento do combate, seria bom que se esperasse a época da velhice; mas não. Temos que combater durante toda a vida, começando desde a infância; chegando o menino ao dez anos, é necessário que se lhe peça já contas de seus pecados, como o demonstram aqueles que foram devorados pelos ursos como castigo por terem caçoado de Eliseu (4 Rs 2,23s), e há conseqüentemente que se lutar desde esta idade, em que começam a soprar com violência os ventos da guerra contra nós. De onde tiras, pois, colocar esse tempo como limite nos combates pela virtude? Se pudesses ordenar também ao diabo que não nos atacasse para que não nos sacudissem seus golpes durante a juventude, tua proposta teria algum viso de razão; mas se admites que ele me combata e açoite e a mim impões a lei de que permaneça quieto, ou melhor, que voluntariamente me jogue a seus pés, que dano maior poderia ser feito a mim que ter um inimigo furioso a minha frente, desarmar-me durante o tempo de combatê-lo e entregar-me assim em suas mãos? É jovem e fraco? Por isso mesmo necessita de mais segurança, e se necessita de segurança, necessitará também de mais cuidado. Uma alma assim tem que gozar de paz e de tranqüilidade contínua e não ser lançada no torvelinho das coisas e agitar-se no meio delas, onde o ruído e a confusão são assombrosos. Tu, ao contrário, aos que sofrem as mais duras guerras, por sua idade, pela sua debilidade, pela sua inexperiência e pela perversão que os rodeia; a estes, digo, como se já estivessem acumulados de méritos e em pleno vigor das suas forças, lanças no meio do combate e não lhes permites que se retirem para se exercitar na solidão. É como se um general mandasse exercitar-se tranqüilamente em simulacros guerreiros os soldados capazes de alcançar mil vitórias, e os novatos, que não podem nem ver uma batalha, obrigasse a entrar no mais vigoroso combate, pondo os maiores obstáculos em uma coisa que já é naturalmente difícil.

Ademais, deve-se saber que depois do matrimônio ninguém é dono de si mesmo e é preciso optar ou por viver sempre com a mulher, se esta o quiser, ou, no caso de ela não querer, separar-se e expor-se ao adultério. E o que dizer das outras necessidades dos filhos, as preocupações da casa, capazes de entorpecer todo bom propósito e lançar um obstáculo completo para a alma?