COMO DEUS EDUCOU O POVO HEBREU

Por isso o próprio Deus, posto que os hebreus, de algum modo, tinham que abandonar seus antigos maus costumes adquiridos no Egito, os colocou isolados no deserto e ali, como em um mosteiro, foi Deus modelando suas almas, aplicando-lhes todo tipo de medicamentos, ásperos e brandos, sem omitir meio algum que pudesse contribuir para o restabelecimento de sua saúde espiritual. E ainda assim não fugiram completamente da maldade mas, em pleno maná, sentiam falta das cebolas e dos alhos do Egito, com todas as suas calamidades. Tão forte é o poder do costume. Pois, se os judeus, que gozaram de tão formidável cuidado da parte do próprio Deus, com um guia tão excelente e generoso, educados pelo temor e pela ameaça, por benefícios e castigos e por todos os modos imagináveis, se eles que viram tão grandes prodígios não se fizeram melhores, crês que teu filho, em plena juventude, metido no meio do Egito, ou melhor, no meio do campo de batalha do diabo, sem ouvir de ninguém um bom conselho, vendo como todos o empurram para o contrário e principalmente os que o geraram e o criaram; crês, repito, que poderá escapar dos laços do diabo? Por que meio? Pelas tuas exortações? Mas justamente o incitas para o contrário, não lhe permitindo que nem em sonhos se lembre da filosofia e fazendo, com o teu eterno trazer e levar a presente vida e seus interesses, que a tormenta seja mais violenta. Conseguirá isto pela sua consciência e por seu próprio esforço? Em primeiro lugar, o jovem por si não é capaz de chegar à perfeição da virtude; mas se, depois de tudo isso, chegar a ter algum pensamento generoso, os aguaceiros de teus discursos se encarregarão de afogá-lo rapidamente antes que cheguem a germinar. Um corpo que não se nutre de alimentos sãos, mas que ingere alimentos nocivos, não pode resistir por muito tempo, e uma alma assim educada não pode tampouco ter altos e generosos pensamentos, mas se arrastará enferma e débil, consumida continuamente, como por uma tuberculose, pela maldade, até parar no inferno e na eterna perdição.