A POBREZA, GLORIOSA MESMO AOS OLHOS DO MUNDO

6.

Mas se por acaso os exemplos estranhos não tenham tanta força, vamos examinar a questão em teu próprio filho, e o acharemos agora não só mais glorioso, mas que o é justamente por aquilo que dizes ser vil e desprezível. Vamos, pois, se te agrada, persuadi-lo a que desça do monte e se apresente em praça pública e verás como a cidade inteira irá atrás dele e que todos lhe acenarão e se pasmarão e se maravilharão, como se houvesse descido um anjo do céu. Ou tu achas que a glória consiste em outra coisa? Na verdade, não só parecerá teu filho mais ilustre que os que moram em palácios, mas mais também do que o imperador com seu diadema, e isto será justamente pelas suas roupas miseráveis e puídas. E é certo que não causaria a todos tanta maravilha se se apresentasse coberto de ouro e com manto de púrpura e com a coroa sobre sua cabeça, ou se sentasse num palanque de seda, montasse lombo de mulas e se rodeasse de uma guarda de lanceiros resplandecentes de ouro, como agora que está sujo e esquálido, vestido com panos grosseiros, sem acompanhamento de ninguém e com os pés descalços. Porque todo aquele aparato do imperador é coisa estabelecida pelas leis e entra no cotidiano, e, por isto, se alguém nos viesse contando vantagens porque viu o imperador vestido com roupas de ouro, não só não nos admiraríamos, mas riríamos de semelhante notícia, pois nada tem isto de extraordinário. Mas venham e nos contem de teu filho que desprezou a riqueza paterna e pisoteou a pompa mundana e, mostrando-se superior a todas as esperanças humanas, se retirou ao deserto, e se vestiu com uma capa imunda e miserável, isso sim, fará com que todos corram para vê-lo imediatamente e os encherá de admiração e os obrigará a aplaudir sua magnanimidade. Por outro lado, sendo infinitas as acusações que se dirigem aos imperadores, suas roupas de ouro não os defendem absolutamente nada contra elas. Tão distantes estão de converte-los por si mesmos em seres admiráveis. O monge, ao contrário, só em seu hábito, leva muitos motivos para que se o admire. Logo, se ninguém admira o rei porque se veste de púrpura e todos se maravilham do hábito do monge, segue-se que a túnica fará mais ilustre e glorioso o teu filho que a púrpura o imperador.