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Carissima mãe em Cristo, doce Jesus. Eu, Catarina, serva e
escrava dos servos de Jesus Cristo, escrevo a vós em seu precioso
sangue, com o desejo de vê-la fazer uma morada na cela do
conhecimento de vós mesmas, para que possais chegar ao perfeito amor,
considerando eu que aquele que não ama o seu Criador, não pode
agradar-lhe, porque Ele mesmo é amor, e não quer outra coisa que
amor.
A alma que conhece a si mesma encontra este amor, porque vendo-se
não ser, mas ter o seu ser por graça, e não por dívida, e que
cada graça que se fundamenta sobre o ser foi-nos dada com inestimável
amor, encontra em si tanta bondade derramada por Deus, que a língua
não é suficiente para dizê-lo. E como se vê tão amada por
Deus, não pode fazer com que não ame. Ama em si a razão e Deus,
e odeia a sensualidade, que desordenadamente quer deleitar-se com o
mundo, onde se deleita a si mesmo com o estado, com a riqueza, ou com
o prazer das criaturas mais do que ao Criador, com base nos seus
pareceres, gostos, prazeres do mundo ou alguma vontade.
Estes são aqueles que amam os filhos, alguns a esposa, outros a mãe
ou o pai, desordenadamente, com amor muito sensorial, o qual amor é
um obstáculo entre Deus e a alma que não permite conhecer bem a
verdade do verdadeiro e supremo amor. E é por isso que diz a primeira
e doce verdade que quem não abandona o pai e a mãe, as irmãs, os
irmãos e a si mesmo, não é digno de mim. Bem o entendiam e o
entendem os verdadeiros servos de Deus, que logo esvaziam seus
corações, o afeto e as suas almas do mundo, de suas pompas e de suas
delícias, e de cada criatura fora de Deus.
Não que eles não amem a criatura, mas a amam somente por Deus, por
serem criaturas desmedidamente amadas pelo Criador. E como eles
odeiam a parte sensorial, que neles se rebela contra Deus, assim
também a odeiam no próximo, ao verem que ofende a suma e eterna
bondade.
Desejo que vós sejais assim, caríssima mãe em Cristo, doce
Jesus. Que vós ameis a bondade de Deus em vós mesmas e a sua
desmedida caridade, a qual encontrareis na cela do conhecimento de vós
mesmas. Nesta cela encontrareis Deus, porque assim como Deus tem em
si cada coisa que participa o ser, assim também em vós encontrareis a
memória que possui e é capaz de reter o tesouro dos benefícios de
Deus. Em seguida encontrareis o intelecto, que vos permite
participar da sabedoria do Filho de Deus, compreendendo e conhecendo
a sua vontade, que não quer outra coisa que a nossa santificação.
Vendo isto, a alma não se pode doer nem conturbar de nenhuma coisa
que aconteça, sabendo que cada coisa é feita por Deus com prudência
e com grandíssimo amor.
Com este conhecimento, portanto, quero e vos rogo que, pela honra do
Cordeiro imolado, modereis a Larcaro e a melancolia que sentis pela
partida de Estevão. Alegrai-vos e exultai, o que não acontecerá
sem o crescimento da graça na vossa alma e na nossa, pela graça de
Deus.
Digo também que no conhecimento de vós mesmas encontrareis a doce
clemência do Espírito Santo, que é quem não doa nada mais do que
amor, e o que Ele faz e opera, opera por amor. Encontrareis este
afeto na vossa alma, porque a vontade não é outra coisa que amor, e
cada afeto e movimento seu não se move por outra coisa senão por
amor. Ama e odeia aquilo que o olho do conhecimento fizeram e viram.
É bem verdade, caríssima mãe, que dentro da cela da alma vós
encontrareis todo Deus, o qual dá tanta doçura, refrigério e
consolação, que por nenhuma coisa que aconteça nos possamos
perturbar, porque nos tornaremos capazes da vontade de Deus se
tivermos eliminado de nós mesmas todo amor próprio e todas aquelas
coisas que estão fora da vontade de Deus.
Verdadeiramente a alma se torna então um jardim de flores perfumosas,
e em seu centro encontra-se plantada a árvore da santíssima
Cruz, onde repousa o Cordeiro imaculado, o qual irriga sangue,
banha e inunda este doce e glosioso jardim, e possui em si os frutos
maduros das verdadeiras e reais virtudes.
Se quiserdes paciência, aqui está a sólida mansidão, pois nao se
ouve o grito do Cordeiro em nenhuma murmuração. Que humildade
profunda, ver Deus humilhado ao homem, o Verbo humilhado à
ignominiosa morte de Cruz! Se quiserdes a caridade, Ele é esta
caridade, ainda maior que a força do amor, e pela caridade foi
vencido e pregado à Cruz. Não eram suficientes os pregos e a cruz
para segurar ao Deus-homem, se a força da caridade não o tivesse
segurado. Não me admira, se a alma fêz de si um jardim do
conhecimento de si, que ela seja forte contra todo o mundo, porque ela
é confirmada e feita uma só coisa com a suma fortaleza.
Verdadeiramente ela começa a gozar do penhor da vida eterna nesta
vida, e senhoreia o mundo porque o despreza. Os demônios temem
aproximar-se da alma que arde na divina caridade.
Portanto, caríssima mãe, não quero mais que durmais na
negligência, nem no amor sensorial, mas com um ardentíssimo e
desmedido amor vos eleveis para o alto, banhando-vos no sangue do
Cristo, e escondendo-vos nas chagas do Cristo crucificado.
Não digo mais, pois estou certa que permanecereis na cela como eu vos
disse, onde não encontrareis outra coisa que não a Cristo
crucificado. E assim dizei a Conrado que faça o mesmo, permanecendo
no santo e doce amor de Deus.
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