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O Senhor inspirou a santa a fabricar uma cela secreta e interior em sua mente onde,
toda recolhida continuamente como em um conclave secreto, se deleitasse com o seu esposo Jesus.
Porque bem entendia o que Ele disse no Evangelho: "O Reino de Deus está dentro de vós".
O Reino de Deus está (se quisermos), no nosso coração, o qual é o seu verdadeiro Templo: onde deleita-se morar,
não feito por mãos humanas, mas fabricado na oficina do Espírito Santo, que é o conhecimento de Deus, e de si mesmo,
com a cal viva, que é a caridade divina, com pedras duras e brancos mármores, que são os santos desejos,
com martelos da oração frequente e meditação, e com áspera paciência, e fechado por todos os lados, com a firmíssima chave do temor de Deus.
Esta era a nova cela de Catarina, verdadeiramente feliz, onde se dignava habitar especialmente o seu graciosíssimo esposo.
E por isso todos os golpes, todos os combates de palavras e de fatos que recebia, pareciam que não a tocavam, porque ela se fechava nesta cela onde,
em altíssimas alegrias, deliciosamente se deliciava com o seu doce esposo diletíssimo Jesus, pensando continuamente que sinal de grande eleição é
quando Deus coloca sobre as nossas costas a cruz e o caminho da tribulação.
E, portanto, bem ensinada pelo verdadeiro Mestre, e tornada ela própria mestra, estando eu certa vez em excessivas ocupações exteriores,
Catarina me dizia: "Faze tu mesmo a cela na mente, e não queiras dela sair nunca".
Eu confesso que no início não podia penetrar a força destas palavras, como também acontecia aos discípulos de Cristo,
dos quais no Evangelho está escrito diversas vezes que não podiam entender, nem compreender, desde o princípio,
as misteriosas palavras do Salvador, que eram estranhas à sua inteligência, porque ainda não se haviam tornado espirituais,
e por isso foi dito a Pedro que não saboreava os conselhos altíssimos de Deus.
Assim também aconteceu comigo sobre os muitos preceitos eficazes desta santa, e de modo especial desta fabricação da cela, e de nunca sair dela.
Mas certamente entendi depois quão importante era esta cela mental, sem a qual não tem valor a cela dos muros, enquanto que esta vale muito sem a outra.
E então entendi quão pouco lucro teve o demônio quando instigou os parentes de Catarina a tirarem-lhe o uso da cela terrena.
Ao contrário, quanto dano e perda ele teve, pois, assim fazendo, permitiu-lhe tanto uso da cela celeste.
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