TEXTO I

Atas da Sé Apostólica, vol. 43,
ano 1951, pgs. 835-6; 841-2.


Do discurso de Sua Santidade, o Papa Pio XII, aos participantes do Congresso
da União Católica Italiana de Obstetrizes, pronunciado no dia 29 de outubro de 1951.

"Velar com solicitude sobre aquele berço silencioso e obscuro, onde Deus infunde uma alma imortal ao gérmen dado pelos pais, para prodigalizar os vossos cuidados à mãe e preparar à criança, que ela traz em si mesma, um nascimento feliz, eis, amadas filhas, o objeto de vossa profissão, o segredo de sua grandeza e de sua beleza.

Quando pensamos a esta admirável colaboração dos pais, da natureza e de Deus, pela qual vem à luz um novo ser humano à imagem e semelhança do Criador, como se poderia não apreciar em seu justo valor o concurso precioso que vós trazeis a tal obra?

Portanto, quem se aproxima deste berço do devir da vida e ali exerce a sua ação de um ou outro modo, deve conhecer a ordem que o Criador quer que seja mantida e as leis que presidem sobre a mesma. Pois não se tratam aqui de simples leis físicas e biológicas às quais obedecem necessariamente agentes destituídos de razão e forças cegas, mas de leis, cuja execução e cujos efeitos são confiados à cooperação livre e voluntária do homem.

À luz destes princípios Nós Nos propomos agora a expor-vos algumas considerações sobre o apostolado a que vossa profissão vos empenha. De fato, cada profissão querida por Deus importa em uma missão, isto é, aquela de realizar, no campo da própria profissão, os pensamentos e as intenções do Criador, e de ajudar os homens a compreender a justiça e a santidade do desígnio divino e o bem que do seu cumprimento advém para eles mesmos.

Se isto que temos dito até agora diz respeito à proteção e ao cuidado para com a vida natural, com muito mais fortes razões deve valer para a vida sobrenatural, que o recém nascido recebe com o batismo. Na presente economia não há outro modo de comunicar esta vida à criança, que não possui ainda o uso da razão. E, todavia, o estado de graça no momento da morte é absolutamente necessário para a salvação; sem o mesmo não é possível alcançar a felicidade sobrenatural, a visão beatífica de Deus. Um ato de amor pode ser suficiente para o adulto para conseguir a graça santificante e suprir a falta do batismo: mas ao não nascido ou ao recém nascido esta via ainda não está aberta. Se, portanto, considerarmos que a caridade para com o próximo impõe a que seja ajudado em caso de necessidade, e que esta obrigação é tanto mais grave e urgente quanto maior é o bem que se deve buscar ou o mal que se deve evitar, e quanto menos o necessitado é capaz de se ajudar e de se salvar a si mesmo; então é fácil compreender a grande importância do batismo de uma criança, privada de qualquer uso da razão e que se acha em grave perigo ou diante de uma morte certa. Sem dúvida, este dever obriga em primeiro lugar aos pais; mas em caso de urgência, quando não há tempo para perder ou não é possível chamar um sacerdote, cabe a vós a sublime incumbência de administrar o batismo. Não falteis, portanto, à prestação deste serviço de caridade e de exercer este ativo apostolado de vossa profissão. Possa ser-vos de conforto e encorajamento a palavra de Jesus:

'Bem aventurados os misericordiosos, porque acharão misericórdia'.

Mateus 5,7

E qual misericórdia maior e mais bela do que aquela de garantir à alma da criança, entre a porta da vida que apenas iniciou, e a porta da morte que se aproxima, a entrada na gloriosa e beatificante eternidade!"